Douglas14 22/02/2023
Resenha de "A Morte da Razão"
Schaeffer aborda o modo de pensar moderno, expondo o seu desenvolvimento desde a Renascença a meados do vigésimo século. Tendo como título original ?Escape from reason?, o livro foi traduzido e publicado no Brasil como ?A morte da razão? em 1968. Sua rememoração histórica tem por objetivo evidenciar com eficácia a carência do cristianismo na modernidade, expondo e aplicando está fé no presente, através do entendimento do pensamento moderno.
O autor inicia a apresentação expondo a influência recebida por meio das propostas de Tomás de Aquino, tratando da ?natureza e graça?.
Neste conflito entre andar inferior e andar superior, toda a sociedade lidou com transformações, tendo a filosofia tomista enraizadando-a. Dentro desta esfera, encontra-se também a teologia.
A história mostrou como já na reforma, o pensamento tomista esteve presente, e a igreja assumiu uma postura não autonomista, defendendo que a Bíblia, não o homem, possuía o conhecimento final. A reforma evidencia que Deus tratou dos conceitos natureza e graça, revelando muito sobre o próprio homem, o qual foi criado por um Deus pessoal e formado com uma responsabilidade moral.
Schaeffer discorre também sobre a relação do parecer científico e o cristianismo nesse desenvolvimento histórico. Com o seu incentivo à investigação, o pensamento cristão estava muito ativo na empreitada cientifica, mesmo que Deus e o homem não fossem correlacionados por eles. Com a chegada de Kant, Rousseau e o pleno desenvolvimento do pensamento tomista, o debate mudou de ?natureza e graça? para ?natureza e liberdade?. Os dois lados tornam-se autônomos e a liberdade humana é altamente defendida, nesse ambiente secularizado que se formou.
Surge então um grito pela unidade do conhecimento, onde a própria ciência, agora modernizada, tem a uniformidade das causas naturais em um sistema fechado como sua filosofia dominante. O resultado foi a realidade da natureza, tornada autônoma, engolindo a graça e liberdade por completo, o que, por sua vez, gerou uma série de prejuízos morais na sociedade. Kant e Hegel que logo o sucede, abriram as portas do pensamento moderno, expondo o homem no centro do universo e autônomo em suas relações. Avançando ainda mais, Kierkegaard e o salto, eliminaram completamente a ideia da ?unidade de conhecimento?, trazendo uma total distinção entre andar inferior e superior, mortificando o homem como homem, elevando a razão humana e classificando a fé como ?não racional?, porém, otimista. Nesse desenvolvimento surgem correntes como o existencialismo secular, no qual o homem define racionalmente o rumo de sua própria vida, e o racionalismo religioso pautado nos dogmas de sua fé.
Na matéria do salto, a luta pela liberdade autônoma e racionalista no andar superior, transformou a poesia, com Heidegger, a arte com André Malraux, Picasso e Bernstein, bem como, trouxe luz à pornografia, no teatro do absurdo, exposta com um auto teor filosófico. O resultado de não conclusão das buscas filosóficas expostas no desenvolvimento histórico, é a loucura. Schaeffer mostra como cada setor da sociedade, como o cinema e televisão na modernidade, foi se valendo do pensamento filosófico mutável estabelecido, e como Deus, no andar superior, foi perdendo o seu valor nesse processo.
O autor também expõe o problema cristão atual da tentativa de separação entre fé e racionalidade por completo, defendo um relacionamento não racional com Jesus. Schaeffer conclui expondo a autoridade e magnitude das Escrituras, a qual dar mercê para racionalidade, ao mesmo tempo que alcança o inconcebível. Ele defende a riqueza e eficiência da Bíblia para esclarecimento e Salvação, também defende a existência do espaço para o diálogo entre a fé o pensamento moderno, quando entendido este dilema.
Além de deixar um alerta quanto ao comportamento atual dos cristãos com relação a modernidade, o livro cumpre o que promete aos seus leitores, tratando de um assunto consideravelmente complexo, tendo em vista a instabilidade do pensamento moderno e sua relação. Nós observamos com clareza, como em um ambiente em que a razão foi sendo adormecida, o cristianismo pode encontrar espaço para mostrar sua voz. O dr. Francis A. Schaeffer nos apresentou, mesmo que sucintamente, o pensamento de muitos nomes que foram importantes no desenvolvimento filosófico moderno, ainda assim, nos forneceu ótimas consideração sobre a cultura moderna, e o relacionamento do cristianismo com ela.