Diego 31/03/2015
O verdadeiro significado de uma distopia
Não costumo escrever resenhas. Não que eu não ache interessante a existência delas, pelo contrário. Elas trazem o ponto de vista de outros leitores sobre uma obra que você está em dúvida entre ler ou não, ou que já leu, mas deseja conhecer outras opiniões.
De qualquer forma, sempre deixei as resenhas para os outros.
Não posso fazer isso com "Os Ratos do Novo Mundo". Me sinto sob o dever moral de contar o que senti lendo esse livro.
Primeiro: se você não gosta de livros onde há algumas cabeças rolando ou explodindo, dor física e emocional explícita, e certa dose de crueldade, talvez esse não seja o livro mais indicado para você. Tudo bem, há outros livros por aí. Eu entendo.
Eu mesmo tenho um certo problema com filmes onde há cenas de tortura e mutilação. Mas, paradoxalmente, adoro filmes de Quentin Tarantino.
Talvez, desafiar a si próprio seja interessante.
Mais do que isso: em "Os Ratos do Novo Mundo", cada cabeça tem um motivo para rolar. Tudo é detalhadamente justificado. Você entende o porquê de o bem e o mal estarem usando suas armas, que são praticamente as mesmas, mesmo que para fins diferentes.
Essa é uma das primeiras distopias que leio, mas já assisti diversos filmes com essa temática. Sabe o que é legal? A sensação é mais para um filme sobre o regime nazista do que para uma ficção-científica infanto-juvenil. Apesar de vários elementos futuristas, essa obra está muito mais próxima da nossa realidade do que qualquer uma das outras que já vi.
O livro desperta o rebelde em cada um de nós, mas não exatamente por um mesmo motivo. Cada um de nós guarda dentro de si o descontentamento com relação a algo que o sistema nos impõe.
Mia é (não apenas parece, mas É) muito cruel às vezes. Mas o mundo em que ela vive a fez assim. Não é feita apologia à violência gratuita, mesmo porque, a personagem sabe que está fora de si (literalmente maluca). Ela luta para que ninguém mais tenha que passar pelo que ela passou, principalmente tornando-se alguém que tem facilidade em matar.
A escrita de Júlia Zanelatto é incrível.
Os diálogos têm umas "sacadas" muito bacanas.
Gostei de alguns personagens, odiei outros.
O livro não é para todos os gostos, mas qual livro é?
Livros sem sal não costumam desagradar tanto, mas tampouco mudam nossas vidas.
"Os Ratos do Novo Mundo" tem uma forte dose de emoção, entretenimento e conhecimento que, pode até não agradar a todos, mas não passa despercebido para aqueles que realmente o sabem ler.
Um livro que poderia facilmente se tornar filme. Já tenho uma ideia para o ator que faria o papel de George. Mas vou deixar que você enxergue isso por conta própria ao conhecer o personagem.