Em uma só pessoa

Em uma só pessoa John Irving




Resenhas - Em uma só pessoa


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Aline T.K.M. | @aline_tkm 08/03/2015

Longe de ser uma leitura qualquer
Densa, a trama leva o leitor inicialmente à década de 50, quando um William (Billy) de treze anos é acompanhado pelo padrasto para fazer um cartão na biblioteca pública da cidade. De pronto, a bibliotecária Srta. Frost – e seus seios diminutos – desperta no garoto uma paixão avassaladora. É ela quem o inicia na literatura, indicando livros sobre “atrações pelas pessoas erradas”, a pedido do garoto. Essas atrações, ou desejos, deixam Billy um tanto confuso; além da Srta. Frost, o garoto se vê apaixonado pelo padrasto Richard Abbott, pela Sra. Hadley (mãe de sua melhor amiga e terapeuta que trata de sua dificuldade com a pronúncia de certas palavras), e por Jacques Kittredge, capitão da equipe de luta livre da escola.

A ausência do pai, as mulheres extremamente críticas de sua família, e a cidade pequena e conservadora são alguns elementos que exercem influência na vida do garoto Billy, que encontra um pilar de apoio na melhor amiga Elaine e no avô. Vovô Harry é conhecido de toda a população por sempre interpretar papéis femininos no grupo de teatro amador da cidade, e cujo gosto por vestir-se como mulher o acompanhará até o fim da vida.

O teatro, assim como os livros, é uma espécie de válvula de escape na adolescência conturbada de Billy. Atuando nas peças do teatro da cidade e no grupo de teatro do colégio Favorite River Academy, Billy tem uma estreita relação com esse meio: além do avô, sua tia também atua, sua mãe é o ponto eletrônico (pessoa que “sopra” as falas para os atores) e seu padrasto atua, dirige e ensina Shakespeare no mesmo colégio. Não à toa, o livro é recheado de referências e citações shakespearianas e também de Ibsen.

De modo semelhante, a literatura se faz muito presente durante toda a trama. Dickens, a Madame Bovary de Flaubert, o então polêmico Giovanni de James Baldwin... estão todos ali, nas páginas do livro e na vida do protagonista – para o deleite daqueles que curtem “livros dentro de livros”.

A prosa gostosa de Irving é o complemento perfeito para uma trama não tão fácil. Na construção de uma identidade e enquanto busca seu lugar no mundo, Billy muda de ares. Viena, Nova York, San Francisco. São vários os locais e vários os envolvimentos românticos de Billy. Suas aventuras dividem lugar com o preconceito de um mundo que caminha lentamente rumo à aceitação das diferenças. Os transgêneros – muito discriminados – também marcam presença na trama e no cerne das paixões de Billy.

Desta maneira decorrem os anos 70, para então desembocar na década de 80, período em que estourou a epidemia da Aids. Ainda que com certo distanciamento – forma de autoproteção? – Billy testemunha o definhar e a morte de amigos e ex-amantes, ao passo que a carreira de escritor – Billy aborda a diversidade sexual em seus romances – ganha cada vez mais solidez.

Com o passar dos anos, Billy enfrenta uma situação pela qual todo mundo um dia terá de passar: a fragilidade e a morte dos amigos e familiares mais velhos. Dos anos 90 até o ano de 2010 (período do relato do narrador), ele assiste à ruína inevitável de todos aqueles que um dia considerou como uma fortaleza. As certezas e figuras protetoras de sua infância e adolescência dão lugar à velhice e às doenças, parte intrínseca do caminho (muitas vezes tortuoso) da vida.

Labiríntico e cheio de recortes como a própria vida, Em uma só pessoa é um livro para se mergulhar – literalmente – e deixar-se envolver pelas reflexões e pela trajetória do protagonista, num movimento que passa pela confusão e pelo ressentimento, para então chegar à redenção e reconciliação. Com personagens conturbados, o livro fala de diversidade sexual, de identidade e, principalmente, de autoconhecimento e aceitação. E fala de desejo, uma vez que, nas palavras – muito verdadeiras – do narrador, “nós somos formados pelo que desejamos”.

LEIA PORQUE...
Em uma só pessoa está longe de ser uma leitura qualquer, daquelas que vêm e vão sem deixar muitas marcas. Os personagens são repletos de questões mais profundas e a trama faz pensar.

DA EXPERIÊNCIA...
Ótimo romance de formação. A temática, um pouco diferente da maioria das minhas leituras, me agradou enormemente (gosto de profundidade, de abismos). Grata surpresa!

FEZ PENSAR EM...
“Assim, eu sou muitas pessoas em uma,
E nenhuma delas feliz.”
- William Shakespeare, Ricardo II


site: http://livrolab.blogspot.com
Áureo 15/07/2018minha estante
Billy é um menino diferente: sua sexualidade sempre incluiu o gosto pelo masculino e o feminino e todo o espectro entre os dois gêneros. Um dos protagonistas mais atormentados e apaixonantes de John Irving, Billy cresce ciente de que as diferenças ? sexuais, de opinião ou de raça, pouco importam ? são tão definidoras quanto as semelhanças.

Nascido e criado em uma pequena cidade dos Estados Unidos, Billy sabe que seu desejo sexual pode chocar a conservadora sociedade local. Ainda assim, ele viveria ao longo de sua vida aventuras que lhe abririam a mente para o sexo e o amor. A começar pela misteriosa bibliotecária Srta. Frost, por quem nutria uma forte paixão.

?Nós somos formados pelo que desejamos?, diz no primeiro parágrafo de Em uma só pessoa, do norte-americano John Irving. Os anseios sexuais de Billy ultrapassaram os limites de gênero. Além da Srta. Frost, Billy também deseja Jacques Kittredge, o belo campeão de luta livre de sua escola. Antes disso, ele já se fascinava com o avô, Harry Marshall, que fazia parte de um grupo de teatro amador local e costumava interpretar com propriedade os papéis femininos.

Em uma só pessoa também reflete o cenário social norte-americano que tenta lidar com a ?questão? homossexual: a discriminação em todos os seus matizes, da moral à violência física, que persiste da infância do personagem até os dias de hoje, com Billy já na meia-idade. A AIDS e o impacto da epidemia no meio homossexual no qual a doença expôs, por meio de suas chagas visíveis e mortais, aqueles que também ocultavam sua orientação.

No romance de John Irving, as nascidas mulheres são fracas, inofensivas, loucas e controladoras. As melhores e mais poderosas expressões do feminino estão justamente transcendidas, alojadas em corpos masculinos. Uma amostra da capacidade do ser humano de ir além do aparato biológico, de amar de todas as formas e em todas as suas formas.

Fonte: https://groups.google.com/forum/?hl=pt#!searchin/arca_literaria/john$20irving/arca_literaria/57aNLffL6kM/lqY_m36eAAAJ




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