jota 08/03/2016Muitas possibilidades...Todo homem é uma ilha? Pode ser. Nenhum homem é uma ilha. Também pode ser. Embora aqui as questões não sejam exatamente essas, mas a possibilidade de que uma pessoa possa viver a vida eterna.
Especialmente se ela pertencer à seita dos elohimitas, “que acreditam piamente no ser humano como fruto da visita dos extraterrestres Elohim.” E a vida eterna se torna possível através da clonagem, a transformação dos humanos em neo-humanos.
Como ocorre com o narrador Daniel, a princípio um tanto cético e depois um adepto desse modo de vida, que tem características muito estranhas, claro. Grande parte do livro fica então parecendo ficção científica ou algo semelhante. Mas como foi escrito por Michel Houellebecq não poderia deixar de ter também muito sexo (beirando a pornografia várias vezes), religião, política, filosofia, ironia, diálogos afiados etc.
Mesmo depois de transformado num neo-humano, a certa altura Daniel tristemente conclui que “(...) continuava sem renunciar ao que havia sido ao longo de toda a minha carreira: uma espécie de Zaratustra da classe média.” Quer dizer, também tem lá certa dosagem de humor, terreno no qual MH também pisa com firmeza.
Porém A Possibilidade de Uma Ilha não me atingiu tanto quanto eu esperava (embora se recupere bastante nas melancólicas páginas finais, especialmente pelo que acontece ao cãozinho Fox), diferentemente do que havia ocorrido com os outros dois livros de MH que li tempos atrás, Partículas Elementares e O Mapa e o Território, ótimos.
Nem sempre muito animado atravessei as quase 480 páginas dessa história que me provocava lembranças de livros tão diferentes quanto A Ilha e Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley), O Planeta dos Macacos (Pierre Boulle) e Não me Abandone Jamais (Kazuo Ishiguro), e sinceramente não tenho certeza se eles têm mesmo muito a ver com esta obra de MH. Talvez apenas o “climão” futurista, não sei bem. Lembrando que Daniel não fala em futuro mas sim em Os Futuros, com maiúsculas...
Enfim, gostei de algumas partes do livro, não do todo, mas tenho de reconhecer que se trata de um livro provocante, como os demais que MH escreveu, e que ao final é impossível ao leitor sair indiferente da leitura: coisas (perguntas, ideias) ficam martelando nossa cabeça por algum tempo depois da última página...
Lido entre 03 e 08/03/2016. Nota: 3,7.