Tarsila 26/02/2012Excessivamente descritivo e decepcionanteSepulcro é o segundo livro da Trilogia Languedoc, na qual as histórias não são consecutivas, apenas têm estrutura similar, contando com dois núcleos de épocas distintas que, de algum modo, são interligados. O primeiro foi o best-seller Labirinto, que me deixou com vontade de ler Sepulcro desde que o terminei. O terceiro, Cidadela, ainda não foi lançado em português.
Léonie Vernier, em 1891, é uma parisiense corajosa e decidida de 17 anos, vizinha do pianista Debussy. Um dia após o tumultuoso protesto no teatro Palais Garnier, contra compositores estrangeiros, recebe um inusitado convite da viúva do seu tio, que até então desconhece, para passar uma temporada no interior. A propriedade da elegante tia Isolde Lascombe, a Herdade do Cade, foi onde sua mãe outrora viveu uma infeliz infância, além de, segundo rumores dos que lá vivem, haver um demônio rondando por aquelas terras. Somente aceita o convite porque seu irmão mais velho, Anatole, oferece-se como acompanhante.
A princípio, considera a Herdade um tanto malcuidada, porém a mansão em si é imponente e acolhedora. Seu irmão rapidamente aparenta estar com o humor melhor, após meses de comportamento estranho, e lhe apresenta um livro de Audric Baillard sobre lendas da região. Quando vai devolver o livro à biblioteca, encontra um livreto escrito por seu tio Jules Lascombe, a respeito de uma experiência vivida em um sepulcro da propriedade, que envolve música, cartas de tarô e seres despertados, tornando-se de grande interesse para Léonie.
“Tudo estava envolto em verde-escuro, com nesgas de sol que se infiltravam e se refletiam o vetusto dossel de folhas. Sabugueiros, arbustos, sebes formais e canteiros antes elegantes mostravam-se malcuidados e sem cor. A propriedade tinha um ar de majestoso abandono, ainda não arruinada, porém não mais esperando visitas.
Um grande chafariz de pedra erguia-se, seco e vazio, no centro da larga alameda de cascalho que levava diretamente dos portões à mansão. À esquerda de Léonie havia um lago ornamental de pedra, em formato redondo, com uma armação de metal enferrujado estendida por cima. Também estava seco. À direita ficava uma fileira de juníperos, em moitas que cresciam ao acaso e sem cuidado. Um pouco mais atrás ficavam os restos de uma estufa para cultivo de laranjas, sem os vidros e com a armação retorcida.
Se tivesse deparado com aquele lugar ao acaso, Léonie o teria julgado abandonado, tamanha era a impressão de desleixo. Virou-se para a direita e viu que havia uma placa cinzenta de ardósia pendurada na cerca, com palavras parcialmente apagadas por arranhões profundos na pedra. Como marcas de garras.
Herdade do Cade.
A casa não parecia propensa a acolher visitantes.”
Pág. 193 (Edição de bolso.)
Em 2007, Meredith Martin, de 28 anos, é uma americana criada com uma tia distante, que viaja a Paris para realizar pesquisas sobre a vida de Claude Debussy, do qual está trabalhando em uma biografia. Essa, no entanto, é só uma das razões; ela também tem o intuito de buscar informações a respeito de seus antepassados, tendo unicamente como pistas uma foto de um soldado, seu bisavô francês, e uma antiga partitura intitulada “Sepulcro 1891”.
Sua organizada rotina de visitas aos locais onde o famoso pianista esteve é interrompida quando, por acaso – ou não –, visita uma cartomante que lê para ela a sorte nas cartas do tarô Bousquet, com o qual sente ligação e, estranhamente, possui forte semelhança com a figura de uma das cartas – La Justice. Deixando Paris, vai se hospedar no Hotel Herdade do Cade, criado com a reforma de uma propriedade parcialmente destruída por um incêndio, a partir da iniciativa de Julian Lawrence, obcecado na busca das cartas originais do tarô Bousquet.
Segredos são guardados, romances e tragédias se desenrolam, vilões perseguem suas vinganças e mais mistérios vão surgindo, alguns permanecendo pouco esclarecidos. Tentamos adivinhar o futuro através do passado e vice-versa. Várias passagens foram mais macabras do que eu teria apreciado... Shelagh O'Donnell e Audric Baillard, qué é um personagem “especial”, estão presente nas duas obras da Trilogia.
A linguagem que a autora utiliza no livro é excessivamente minuciosa, e me fatiguei de descrições das folhas das árvores banhadas de sol, e das caídas folhas secas junto a galhos partidos e das cores das nuvens no crepúsculo... A trama de estendia, mais e mais subtramas surgiam, e cheguei a ficar ansiosa para que o livro acabasse, o que levou praticamente um mês, o que de modo algum é justificado só pela grande quantidade de páginas. Infelizmente não o considerei tão marcante quanto Labirinto, que conta com uma história mais emocionante, personagens mais convincentes e um desfecho mais satisfatório. Persisti na leitura do livro, acreditando que no final valeria a pena, todavia isso não aconteceu. Tendo me decepcionado, não estou bem certa de que lerei Cidadela; procurarei ler resenhas antes.
Kate Mosse, que mora em Carcassonne, local presente nas duas obras, negocia os direitos de adaptação para o cinema de Labirinto e Sepulcro.