Sueli 05/01/2015
O Lago Místico
Felizmente, para nós, leitores, alguns livros se recusam a nos abandonar, ou mais provavelmente, nós nos recusamos a abandoná-los. É como se os seus personagens se infiltrassem tão profundamente em nossas realidades que passamos a conviver com eles como se de nossa família eles fossem...
Eu pensei em não fazer nenhum comentário sobre O Lago Místico, já que li resenhas ótimas sobre ele, e pensei que seria desnecessário, certamente será este o caso. Mas, percebi que eu necessitava dizer o quanto eu amei esse livro.
O Lago Místico não tem vilões ou maldades cirurgicamente arquitetadas, é apenas um livro sobre a vida acontecendo.
Nesse caso, é sobre a vida de Annie que ao despedir-se de sua única filha, nem imaginava que estaria se despedindo também de seu marido, Blake, com quem estava casada há mais de dezenove anos.
A separação tão inesperada quanto cruel deixa Annie perplexa, e através do processo de racionalização da personagem fui, muitas vezes, surpreendida com a similaridade existente entre nós. Talvez, por isso mesmo eu não consiga até hoje me separar do universo de O Lago Místico.
Annie é uma ferida ambulante de solidão - uma sequela decorrente do fato de ser deixada para trás por alguém que se ama.
Annie, ao procurar por referências dessa vida que desmorona, percebe que até mesmo nas fotos de família nem sempre ela esteve presente. Ao tentar ser perfeita, paulatinamente descartou as imagens em que se achou gorda, feia e velha, dessa forma apagando traços preciosos de vida.
Quem de nós já não fez o mesmo?
Incapaz de continuar morando na casa imensa e vazia Annie volta para sua cidade natal.
Nesse ponto do livro eu me lembrei de uma frase dita pela personagem de Kathy Bates, em um filme que amo de paixão – Tomates Verdes Fritos: “Ela era muito jovem para ser velha e muito velha para ser jovem.”.
Annie está para completar quarenta anos e com problemas que necessitam de uma solução imediata, já que conforme o tempo avança a margem para erros diminui muito. E, recomeçar é cada vez mais difícil e requer uma energia que nem sempre se tem. E, ao voltar para sua cidade natal, Annie reencontra seu passado e as consequências das escolhas baseadas em conceitos questionáveis.
É sempre muito curioso o que se perde até se compreender o real valor das coisas que verdadeiramente importam em nossas vidas. E, é aí que reside o conflito principal de Annie.
Conheceremos Nick, hoje viúvo da melhor amiga de Annie, alcoólatra, e sua filhinha Izzy, que está “desaparecendo” rapidamente e não fala uma palavra desde a trágica morte de sua mãe.
É importante notar o paralelo existente entre Izzy e Annie, uma resgatando a outra de suas misérias e traumas psicológicos, onde a felicidade e o amor é a recompensa de quem jamais abandonou a fé e a esperança.
O Lago Místico é um livro que você ama, ou você odeia, mas jamais ficará imune a ele. Talvez, dependa muito do momento da vida de cada leitor, então, caso você não se identifique imediatamente, eu sugiro que volte a lê-lo em outra oportunidade, porém jamais descarte esse livro precioso.