João Vitor Gallo 21/12/2014
Na Guerra das Rosas, você vence ou morre
Esse período que foi um dos mais conturbados da História inglesa certamente é um prato cheio para inspirar e desenvolver qualquer história, e tem sido tema de vários livros, não é à toa que o George R.R. Martin se inspirou fortemente na História da Inglaterra e em especial na Guerra das Rosas para escrever a sua famosa série de livros “As crônicas de gelo e fogo”, inclusive nesse livro do Iggulden há tantos personagem e linhas de sucessão que lembram bastante os do Martin, mas, obviamente, isso é uma característica das famílias reais, e não atrapalha tanto os leitores, já que não são lá tantas famílias quanto as que aparecem nas "Crônicas de gelo e fogo", contudo uma coisa que pode confundir o leitor são os nomes que os nobres davam aos filhos, eles se repetem muito, mas essa já é uma coisa que foge ao poder do autor.
Quanto ao livro em si, a História é cheia de conspirações, jogos de poder, revoltas e traições. O rei Henrique VI era muito inseguro, cresceu mais para ser um religioso do que um líder militar forte, o que não era bom, já que conquistas militares é algo que sempre agradou mais os ingleses, principalmente em momentos de crise, e também era uma pessoa muito influenciável, obviamente isso não é uma boa coisa, posições de poder exigem estabilidade e segurança, ser visto como fraco sempre abre margens para ser atacado ou ser dominado de alguma forma, seja por uma espécie qualquer de uma eminência parda na corte ou mesmo pelas opiniões de outros que possam demonstrar alguma força ou firmeza. Vale lembrar que a fraqueza do rei apesar de ser agravada pela doença já existia antes, ele já era muito suscetível as opiniões alheias e a doença só agravou essa característica e ainda o deixou mais vulnerável aos inimigos políticos, as tramas internas e a revoltas populares.
Uma coisa interessante é que uma das personagens fortes é uma mulher, Margarida de Anjou, o que não é exatamente o que acaba passando na cabeça das pessoas quando se pensa nas relações de poder nessa época. Uma coisa em comum nos livros do Conn Iggulden é que ele geralmente começa com seus personagens ainda na infância e vai traçando a personalidade deles desde o início para explicar ou sustentar as escolhas e atitudes de quando adultos, no caso da Margarida de Anjou isso também se deve ao fato de que os casamentos eram arranjados ainda no que hoje em dia se define por adolescência, ou mesmo na própria infância.
Outro ponto interessante são os pequenos detalhes de procedimentos da época, como a medicina, assim como tudo na época medieval era carregada de superstição.
Comparam muito o Conn Iggulden com o Bernard Cornwell, principalmente por ambos escreverem ficção histórica, e essa é uma comparação até válida em certos pontos, mas o Cornwell é quase imbatível em cenas de lutas com todos os pormenores mais sujos e “crus” da batalha, o que o Iggulden também acaba fazendo descrevendo em detalhes, mesmo não sendo tão visceral quanto o Cornwell. O Iggulden tem uma escrita mais fluída do que o Cornwell na minha opinião, capítulos menores e com a dinâmica de vários pontos de vista de diversos “núcleos” e personagens, fazem você ler o livro e nem perceber, ou seja, a leitura não é arrastada, ela fluí com facilidade.
Se quem estiver lendo essa resenha se perguntar se vale a pena ler o livro a resposta é sim, vou mais longe até, recomendo as duas primeiras séries de ficção histórica que o autor publicou antes dessa, “O Imperador”, com 5 livros, sendo os 4 primeiros sobre Júlio César a o último sobre Otaviano, e “O Conquistador”, também composto por 5 livros, sobre Gêngis Khan e seus descendentes.
PS: Fica aqui um elogio ao cuidado que a edição da Editora Record lançou no Brasil, que colocou na parte interna da capa, um belo mapa da Inglaterra e parte da França e na contra capa a linha de sucessão real inglesa dessa época, ambos coloridos, ficou um trabalho muito bem feito.
site: https://focoderesistencia.wordpress.com/2015/05/16/resenha-de-passaro-da-tempestade-livro-1-da-serie-guerra-das-rosas/