Lu 11/12/2014
É engraçado como são as coisas: há cerca de quinze anos, eu imaginava que aos trinta, eu seria uma pessoa moderna e descolada, sem frescuras ou preconceitos. Entretanto, aos 32, vejo-me escrevendo resenhas conservadoras e ficando de cabelo em pé com algumas coisas que tenho lido. Por exemplo: Jaime Fraiser, da série Outlander, é considerado um mocinho maravilhoso, ruivo e ardente. Para mim, não passa de um brutamontes. O livro que fecha a trilogia dos Jogos Vorazes chama-se "A esperança" por motivos que me escapam. E, aqui, neste "O Dragão de Gelo", alguns parecem querer vendê-lo como "literatura infanto juvenil".
Como assim?
Quando penso em literatura infanto juvenil, o que me vem à mente são os livros da Cressida Cowell, que escreve a série "Como Treinar o seu Dragão", ou "Desventuras em Série", de Lemony Snicket, Harry Potter, por motivos óbvios e a sofisticada trilogia do "His Dark Materials". Porque apesar de algumas vilanias aqui e ali, há uma atmosfera de delicada inocência nesses livros. Um certo encanto.
E Westeros nunca foi um lugar que inspirasse inocência ou encanto juvenis, como a Terra Média de Tolkien. Lá , sempre existiram pequenos oásis de paz e beleza, como o Condado e as cidadelas dos elfos. O mundo criado por Martin sempre foi real demais, brutal demais, mesmo quando descrito com gentileza e belas imagens. A guerra e toda o desespero que ela carrega é uma presença constante. E qualquer leitor de Martin sabe que o inverno é sinal de terror absoluto para os westerosi.
Não é diferente aqui. A pequena Adara é uma presença frágil e silenciosa em um mundo assustador. A irmãzinha caçula, que carrega o fardo terrível de não ter conhecido a mãe, mas que possui um trunfo: o espetacular dragão de gelo como aliado. Isso é típico do autor, que tem predileção por personagens deslocados e eu o adoro por isso. Seguir a jornada da jovem Adara foi interessante, mas não exatamente sensacional. Eu confesso que esperava mais.
A narrativa, como sempre, é muito bonita. Martin não é Tolkien, mas sua Westeros é rica, vasta e variada e, como boa parte de seus fãs, meu coração é nortenho. Eu queria ter lido alguma referência a Winterfell e aos Starks, mas o livro é tão curtinho e situado em um lugar tão ermo, que poucas notícias chegam ali.
Os personagens são bons, mas não extraordinários ou mesmo especialmente carismáticos. Adara é uma personagem curiosa, mas falta-lhe um pouco de sangue quente às suas veias. Mas foi maravilhoso imaginá-la nas costas de seu amigo feroz. Gostei de acompanhar sua jornada.
No todo, é um livro interessante,mas não, eu diria, imperdível. Vale mais a pena ler "O Cavaleiro dos Sete Reinos". Eu não acho que seja juvenil.. Acho que há outros livros no mercado direcionados a este público. Mas essa é apenas a minha opinião.
Recomendo.