soso.anami 06/02/2021
decepcionada com a saga e "Cia"
Como eu já suspeitava, não gostei da conclusão da trilogia distópica de Joelle Charbonneau. Em seu último volume, “A Formatura” só serve para encher muita linguiça, cansar o leitor com sua narrativa tediosa e, para piorar, possui um final para lá de clichê. É uma pena pois a saga tinha muito potencial para se tornar algo muito mais memorável do que é.
Depois de conseguir ingressar na Universidade em Tosu City, Cia Vale é incumbida de uma missão praticamente suicida para tentar colocar um fim de uma vez por todas no Teste e em todos os males causados por ele. Para isso, a garota tem que decidir com cuidado e coerência em quem confiar.
Primeiro que o título desse último livro não faz muito sentido, uma vez que nem formatura tem dentro da história. Resumidamente, posso descrever “A Formatura” como uma leitura arrastada, cansativa, repetitiva e um tanto mal escrita. Quero dizer, neste volume não observei tantos erros de digitação como no livro anterior (que inclusive mencionei na review passada), mas ainda assim a construção da narrativa é bastante rasa, fazendo com o que o leitor não construa praticamente nenhum laço com as personagens.
Por falar nisso, pude observar o uso de muitos elementos já conhecidos – e batidos – de outras sagas literárias, como por exemplo: a redenção de alguém que em circunstâncias passadas foi vilão, o plot-twist mostrando que o vilão poderia ter boas intenções e quem achávamos ser bonzinho era na verdade mau, o romance tosco e mal desenvolvido entre a protagonista e seu interesse amoroso, um plano subitamente arquitetado para derrotar o governo somados a um acesso super fácil para armamentos pesados, entre outras coisas. Foi extremamente cansativo de acompanhar a trajetória de Cia, uma vez que ela – por ser a narradora – demora muito a tomar decisões e, depois que as faz, fica se remoendo pensando se fez o certo. Apesar de eu gostar dela como protagonista, neste livro ela conseguiu ficar muito chata, parecendo que perdeu toda a personalidade forte vista nos volumes passados.
Outra coisa que senti em minha experiência com esse livro foi um abandono por parte da própria autora com certos personagens. Em um determinado ponto, após muita lenga-lenga (praticamente 100 páginas em que não acontece nada de importante), Joelle correu demais em sua escrita, atropelando narrativas importantes e simplesmente abandonando outras. O final do livro é tão abrupto que a autora literalmente apenas citou, como que casualmente, que certa personalidade importante de sua obra morreu – assim, sem mais nem menos. Eu fiquei até aturdida.
Mais um ponto negativo que notei foram as conveniências de roteiro. Os mocinhos quase sempre conseguem se safar de qualquer encrenca que se metem (principalmente a Cia). Além do mais, todo o plot do livro é bastante conveniente, trazendo à tona situações muito forçadas com soluções ainda mais forçadas. É como se a história toda fosse uma peça de teatro em que os personagens são atores com suas falas devidamente ensaiadas. Não gostei da superficialidade da escrita de Charbonneau e, justamente por isso, não me arrisco a ler outras obras da autora.
Outro tópico que me incomodou bastante foi a conclusão da série em si. Ao longo da trilogia fomos apresentados à protagonista como sendo de determinado jeito. Aí, de repente, literalmente nas últimas páginas, Cia toma uma decisão completamente contraditória (apesar de honrosa, vai contra tudo aquilo que ela apresentou como sua personalidade até então). Foi bastante incoerente e, além disso, deixou uma brecha desnecessária na história quando podia muito bem ter feito uma conclusão decente - isso caso a autora não tivesse se enrolado tanto nas 100 primeiras páginas.
Senti que, como um todo, a saga “O Teste” teve seu potencial completamente desperdiçado. A autora, que começou com um primeiro livro bastante surpreendente, se perdeu no decorrer dos próximos títulos. Como distopia, a trilogia deixou e muito a desejar. Minha percepção como leitora foi de que “O Teste” tentou muito se parecer com as distopias mais famosas como “Jogos Vorazes” e a saga “Divergente”, mas, no fim das contas, não foi bem trabalhada para tal.
Não recomendo a leitura.