Rai 13/01/2017Desafio - Resenhas Nacionais 2017 (#4)O livro conta a história da Pistoleira, Violet O'Brannyl, uma garota misteriosa e com uma mira impressionante, responsável por limpar a cidade do Rio de Janeiro dos criminosos, sejam eles quem forem. Durante um ataque de bruxas ocorrido em sua cidade natal que deixou cicatrizes profundas e uma maldição de "bônus", Violet conhece Fábio e Ravein e decidem abrir juntos uma associação secreta de descontaminação mundial, a ASDM. Uma série de desaparecimentos aciona os alarmes da ASDM e Violet é convocada para a missão que vai exigir muito além do seu talento com armas e caçar bandidos. Talvez mais do que ela esteja preparada para aguentar.
Violet é uma mulher boca suja, sanguinária e rebelde sem causa, com um acesso a armas e outros itenzinhos de tortura. Me recuso a chamá-la de heroína, como muitos personagens fazem, mesmo sabendo que ela salvou centenas de pessoas matando bandidos e limpando a cidade. Me recuso porque uma heroína não sai por aí salvando bebês em um dia e no outro matando um casal aleatório na rua apenas para manter a calma (e um pouco por prazer também). Irrita um pouco ler todos os ataques de fúria desnecessários, os xingamentos e assassinatos a troco de nada, já que a maldição por si só não explica suas ações.
Daniel, resumindo, é um babaca. Especialista em artes marciais e "bruxo" disfarçado (tão disfarçado que nem ele mesmo sabe a extensão dos seus poderes rs), ele é um dos elegidos por Fábio para compor a equipe de Violet para a missão dos desaparecimentos. Se ele não fosse tão machista, não soltasse comentários de "gostosa/delícia/gata" para todo e qualquer rabo de saia que passe na sua frente, e não tivesse algumas atitudes estúpidas (como o grito na cena do shopping), eu poderia até gostar dele. O único capítulo que eu realmente gostei muito foi um dele (o último), por sinal. QUE CAPÍTULO! s2
A terceira integrante da equipe é Kam (adotei o sobrenome porque o nome dela é muito difícil, pelo amor de deus), uma nerd de computador meiga e sentimental que quase parece que foi colocada na associação por engano. Ela morre de medo da Violet e cumpre ao pé da letra todas as suas ordens. No começo eu achei um pouco forçado ela usar expressões como "santos deus do tablet" (e derivados da informática), mas depois de uns dois capítulos dela, passei a achar uma gracinha e até adotar alguns deles. Dos principais, pra mim, é a única que se salva, em questão de desenvolvimento de personagem, ainda que eu esperasse um pouco mais de treinamento prévio para ser um agente da associação (não só nela, como no Daniel também).
Nesse primeiro livro conhecemos o Lâmina de Prata (Carlos), o melhor personagem até agora, que segue a mesma linha badass da Violet, mas sem toda as explosões de raiva desnecessárias e passado conturbado, e Raphael (que também chamam de Lisco, eu não entendi porque, apenas aceitei), um amigo de Carlos que os auxiliam no decorrer da missão. Os dois vão ser pra sempre meu ship impossível. Não porque não tenha clima (tem umas cenas que OMG), e sim porque eu creio que o Carlos merece uma pessoa melhor.
E não poderia esquecer a Olyvia, a líder do coven das bruxas que massacraram a cidade da Violet e que a perseguem desde então. Sabe aquele ditado "cão que ladra, não morde" (ou algo assim)? A Olyvia é quase isso. Vemos muito blablabla sobre como ela é uma bruxa extremamente poderosa, muito difícil de se abater e que adora "tocar o terror" mas, de fato, somos apresentados a poucos feitos dela. Não matou uma pessoa sequer o livro todo (ok, mataram em nome dela, mas não é a mesma coisa).
Mas não se engane achando que o livro fala apenas de bruxos(as) não! Também somos apresentados a druidas, escravos (pessoas infectadas por um vírus), parasitas e uma espécie de Frankestein do além já no finalzinho do livro, porém esses levam menos destaque na trama principal da Violet, sendo mais detalhados nos capítulos dos demais personagens.
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A Pistoleira é, em resumo, um livro com um ótimo plot (ideia principal), mas com personagens mal desenvolvidos. Ele é muito bom como crítica social à situação do Rio de Janeiro (e todo o Brasil, né), com sua alta concentração de criminosos, quantidade de absurda deles que saem impune de seus crimes e a falta de esperança dos moradores em uma qualidade de vida melhor. Você sai de casa e não sabe se vai voltar vivo. Eu gostei bastante do modo como o Jorge desenvolveu isso no começo do livro, com a narrativa de uma personagem "externa" (uma cidadã que presencia um crime, e não um dos personagens principais) e do envolvimento da Violet em tudo isso.
Mas quando vamos às partes fantásticas, que somos apresentados às bruxas e demais criaturas, parece que a coisa desanda: os fatos não são inteiramente explicados (pedaços em um capítulo, pedaços em outro, e alguns pedaços inclusive que não foram adicionados, talvez pelo fato de ser o primeiro de uma série, não sei); a narrativa fica confusa e fora da ordem cronológica, cheia de flashbacks enormes em momentos não propícios (um ataque iminente, por exemplo); e as história por trás das criaturas não fica clara (Quem controla quem? Por que eles existem? De onde vieram? Pra quê e por que eles estão ali? Eles tem relação entre si?). Na minha opinião, não precisava ter inserido tantos elementos fantásticos de uma vez.
Faltou, também, uma revisão marota/leitura crítica, tanto na parte da escrita em si (gramática, tempos verbais, e expressões desnecessárias), como no plot principal e no desenvolvimento da personalidade dos personagens. Mas, como foi o primeiro livro do Jorge, vou dar um descontinho e esperar uma nova edição da obra, antes de seguir adiante com a série (que pretendo acompanhar, mesmo que a minha resenha possa ter indicado o contrário q).