Mariana - @escreve.mariana 24/04/2020Acontecimentos inexplicáveis ou narrativa não confiável? [IG: @epifaniasliterarias_]Em sua primeira graphic novel, Bianca Pinheiro nos mostra que não merece ser descrita somente como "a autora de Bear" (que, por sinal, é uma história em quadrinhos fofíssima e divertida, sobre a qual terá um post especial em breve), mas sim como a quadrinista incrível que percorre diversos gêneros com maestria, inclusive o terror, como observamos em "Dora".
Enquanto podemos perceber algumas influências literárias, como à obra "Precisamos falar sobre o Kevin", da Lionel Shriver, também somos conduzidos à narrativa bem característica da Bianca que, apesar de linear, é contada a partir do ponto de vista nada confiável de uma mãe cuja filha é uma menina silenciosa, de olhar estranho e que deixa um rastro de acontecimentos inexplicáveis por onde passa.
Os relatos são feitos em uma pequena sala, onde essa mulher é interrogada sobre sua filha que, embora nunca tenha proferido uma única palavra, se fazia entender por outros meios – e quem mais apta a captar esses sinais que uma figura materna a qual, assim que deu à luz, percebeu que os olhos de sua filha tinham muito a dizer?
Dora é uma criança introspectiva e incompreendida por seus semelhantes, bem como por muitos adultos. A partir de seu primeiro ano de vida, tem início uma série de episódios envolvendo acidentes, violência e mortes, cujas investigações parecem não levar a lugar nenhum, devido a falta de explicações lógicas para os ocorridos.
"- Você tirou ela da escola depois disso.
- Você não teria feito o mesmo?
- Mas por quê? Ela nunca foi formalmente acusada pelos assassinatos.
- E desde quando são acusações formais que definem quem é culpado e quem é inocente? Não foi preciso um julgamento pra que todo mundo na escola decidisse que ela era culpada."
Essa é uma história que aborda diversas questões pertinentes sobre o comportamento humano, a moral, a dualidade entre o bem e o mal, as relações familiares e o sistema de justiça. Isso sem deixar de lado o suspense e o sobrenatural, o que torna a leitura ainda mais instigante e nos faz questionar: até que ponto podemos confiar no relato dessa mãe? E será que devemos descredibilizá-lo totalmente? Como seria essa história, se fosse narrada pela filha?