Ingrid_mayara 20/05/2018
Personagem travesti que "rouba a cena"
Carlos Henrique Schroeder é um dos nomes que produz literatura em nossa contemporaneidade. Nascido em Santa Catarina na década de 70, iniciou sua produção literária em 1998 com o romance "O publicitário do diabo". Em 2010, recebeu o Prêmio Clarice Lispector de Literatura, como melhor livro de contos do ano: "As certezas e as Palavras" (está disponível gratuitamente em PDF no site do autor - ainda não o li). O autor continuou sua carreira literária com outras obras e em 2014 publicou As Fantasias Eletivas, livro que entrou para a lista de leituras obrigatórias da ACAFE e da UFSC-2018.
Esse livro começa contando a história de Renê, um recepcionista de hotel. A obra é narrada em terceira pessoa por um narrador onisciente. Não há linearidade na história, com predominância do tempo psicológico, há também uma mistura de discurso direto e indireto, portanto pode-se aos poucos conhecer tanto o cotidiano de Renê quanto alguns de seus pensamentos.
O cenário narrativo é o "submundo" da cidade turística Balneário Camboriú-SC, onde Renê conhece Copi, uma travesti prostituta, vinda da Argentina. Copi torna-se, então, o foco da história. Após uma briga entre os dois, inicia-se uma amizade. Ambos vieram de locais distintos em busca de melhores condições de vida e sentem-se deslocados; esse sentimento de não pertencimento é assunto bastante característico da obra.
Renê mostra-se preconceituoso desde o início, e vai aos poucos mudando sua perspectiva diante dessa nova amizade, afinal, Copi aparenta ser alguém interessante com quem conversar. Ela fala sobre a superficialidade das relações humanas, da busca em um sentido para o comportamento das pessoas diante da tecnologia e sobre vários outros assuntos que fazem com que a leitura seja subjetiva e desencadeie grandes reflexões.
Algo que eu acho interessante dizer sobre esse livro é que há certa intertextualidade com outras obras/autores e a narrativa é fragmentada com poemas e fotografias que enriquecem e dão originalidade à obra, além de haver um livro dentro dele, formado pelos escritos de Copi.
No início eu pensei que seria uma obra cheia de estereótipos desnecessários (o autor provavelmente é heterossexual da classe média: já o vi pessoalmente), porém, a subjetividade e complexidade dos personagens me encantaram de tal maneira que, ao terminar a leitura, reli algumas partes e iniciou-se um devaneio no qual o sentimentalismo tomou conta de mim e eu mal consegui pensar em outra coisa nesse dia.
Para terminar, ouso dizer também que embora tenha uma personagem travesti que "rouba a cena", no MEU entendimento, esse livro não se trata de ter ou não representatividade, e sim sobre o comportamento humano diante da globalização; se bem que as características da personagem Copi são essenciais. Se fosse para resumir seu sentido em uma palavra, eu diria: solidão (quem já leu vai me entender).
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