Emyle May 23/09/2015
A verdade nua e crua
Vou pular em contar o enredo e dizer o que achei:
Achei o começo da leitura bem tranquilo, da forma como a história estava ganhando corpo, e no qual fui conhecendo o jeito de D. Naná - que por sinal adoraria ter uma tia como ela! - e quanto seus conselhos e seu papel na história foram significantes e necessários, e outros personagens como a Nanda e os protagonistas Ester e Henrique, que muito me simpatizei.
Depois é notável o suspense que se instaurou no momento que Ester descobriu que seu amado Henrique corria um grande perigo. Não consegui fazer outra coisa até sentir que eles não corriam perigo, o que me levou até o epílogo como um tiro, e quando percebi, acabou. Então achei incrível como uma ação para sobreviver em meio a tantas pessoas que queriam fazer o mal, pudesse implicar à lutar não somente pela vida, quanto em não perder quem ama.
"Entenda uma coisa, o amor não tem religião. Ajude alguém de coração, perdoe quem te feriu e não faça para os outro o que não gostaria que fizesse a você, que estará na religião certa, não importa qual. Religião é uma matéria ensinada pelos home, e nós somos apenas
alunos que nos dividimos em grupos com as ideia que mais nos agrada, por isso, cada um acha que a sua é a certa, mas o verdadeiro professor é Ele – disse Naná, apontando o dedo indicador para cima."
É uma história que envolve questões como a religião e o respeito que devemos ter por religiões alheias no qual mal conhecemos e julgamos a nossa melhor que as outras.
Novaes ao retratar o espiritismo, espiritualismo, catolicismo, protestantismo, umbanda e afins, nos faz um convite para conhecer estas religiões, manter uma mente aberta e valorizar quem está ao nosso lado, seja quem for, independente de status social, cor, gênero, etnia, raça e religião. As vezes nos julgamos tão superiores à um indivíduo só porque ele é mais pobre, por exemplo, que deixamos de enxergar as coisas mais simples da vida e nos afundar no nosso ego, na nossa vaidade. Esquecemos até que teremos o mesmo fim, todos iremos experimentar a morte - que nada mais é que uma passagem - e quando o indivíduo descobrir que a vida é muito mais do que ter carne e osso, perceberá que levou uma vida pobre mesmo que em "vida" era rico.
Desde os tempos remotos, as famílias criaram muitos mitos e tabus quanto à morte, fazendo com que a descendência de hoje, trate a questão como um medo, aliás as pessoas hoje não tem medo de "morrer"? Isso é tudo fruto do que nos foi passado. Parece que falar de morte ta sendo pior que falar de sexo, os pais ensinam tantas coisas fúteis aos seus filhos e aí eu me pergunto porque não prepara-los para o inevitável, porque se chocar tanto com a morte?
A escrita de Novaes é muito boa, e respeita também o modo de falar dos personagens como a D. Naná com seu jeitão simples de falar, coloquial. Como eu falei antes, no começo da história foi como uma moldagem da vida dos personagens, e como meus dias estavam bastante agitados, li aos poucos. E justamente quando chegou a parte de Ester escutar a conversa entre o padastro de Henrique e o médico da clínica de tratamento que o rapaz estava internado, minha leitura foi rápida, porque amo suspense, e senti este gênero na história, apesar de ser romance. Li em ebook, e gostei muito dos capítulos curtos alternando situações entre os personagens e facilitando para uma leitura tranquila e gostosa.
As pessoas me perguntam porque amo polêmica, e eu digo: porque dá um tapa na sociedade quando ela menos espera. Então senti isso do livro, foi um tapa na sociedade preconceituosa, vaidosa, egoísta e presunçosa, pelo simples fato de levantar questões que vemos TODO santo dia mas temos receio de discutir à fundo por medo do que os outros vão dizer. Existe sim pessoas que gostam de passar por cima das outras pessoas, que se aproveitam da ignorância dos mais fracos, pessoas mascaradas/falsas que pregam palavras que nem ao menos convém a sua própria realidade, pessoas egoístas e tapadas independente ser for rica, pobre, evangélica, médium, etc. E mais, nos leva a debater sobre relacionamento: porque duas pessoas não podem viver juntas só pelo fato de serem de religiões diferentes ou de vidas "diferentes"? Por que as pessoas insistem em se diferenciar uma das outras, se de fato somos todos iguais em espírito?
Acredito que Novaes foi feliz sobre o que tentou passar ao leitor de forma simples, um romance que poderia dar tudo errado mas que acabou escolhendo ser feliz, no fim, é isso o que importa, mesmo que tenha que "morrer" para viver. Enfim, é um romance que vale a pena ler, e que é uma boa crítica que se deve refletir e parar para repensar nos valores da vida.