Greice Negrini 11/05/2015100 dias de experiência!Lucio Battistini é um homem normal. Ou melhor, como caracterizar uma pessoa normal nos dias de hoje? É um homem que tem trabalho, filhos e esposa e talvez estivesse mais satisfeito fazendo outra coisa que sendo professor ou instrutor em uma academia. Esta seria a parte do normal. Mas a verdade é que Lucio descobriu que está com câncer e tomou a decisão de não fazer nenhum tipo de tratamento já que é tarde demais para isso. São 100 dias de vida para sua última decisão e ele pretende viver da melhor forma.
Paola é casada com Lucio há mais de dez anos. Professora que ama sua profissão, descobriu que o marido a traiu com uma das alunas dele e agora não consegue mais acreditar no amor. Mesmo com a descoberta da doença do marido isso não faz seu coração amolecer já que Lucio não teve a mínima compaixão para com ela quando resolveu ter um caso.
Lucio tem três grandes amigos a quem pode contar abertamente tudo. Apelidou o câncer como "Fritz" e mesmo que os amigos tentem convencê-lo a procurar algum tipo de tratamento ele sabe que não vai adiantar. O mais certo a fazer é uma contagem do tempo que ainda resta e usar como forma de metas para a vida. 100 coisas das quais ele sente orgulho, 100 coisas que ele precisa fazer e que vai tentar antes de morrer.
O perdão é algo que buscamos em momentos mais difíceis. O medo constante quando a dor dilacerante nos esmaga. Um filme que passa relembrando toda a etapa e anos que vivemos. Lucio sabe que precisa refazer muitos momentos e que seu pouco tempo traduz sua decisão final. Talvez seja tarde demais para muita coisa, mas é sempre preciso tentar.
O que falo sobre o livro?
Nossa, fazia muito tempo que eu queria ler este livro e só consegui ele há pouco tempo. Fiquei pensando o quão emocionante pareceria a história, mediante a uma biografia, onde uma trajetória de 100 dias mostrando uma lutra contra uma doença enfatizaria um potencial de emoções, sentimentos e vivências. Realmente este é o caso do livro 100 dias de felicidade, porém houve um contratempo que não imaginava: não é de forma alguma uma biografia, e sim uma ficção.
Um banho de água fria. Somente no sentido de não ser uma biografia. Porque assim já não tinha mais em mim aquela sensação tão grande de que uma pessoa estivesse colocando naquelas páginas uma experiência tão forte de vida ao qual eu esperava desde o momento em que desejava o livro.
No restante o livro é uma leitura saborosa com um lado altamente cômico. O que você realmente faria se fosse com você? De forma alguma eu acredito que viveria o que o personagem viveu. Até então ele estava sentindo a vida como ela realmente era, confrontando todos os sentimentos naturais e errando e acertando conforme seus princípios. Mas é quando algo bate à sua porta que precisa tomar uma atitude contraditória.
Em um âmbito normal eu imaginava que tudo seria lágrimas e perdão e emoções conflitantes e é realmente esse contraste que o autor coloca na história. Nem sempre uma doença pode curar as dores que foram causadas pelos atos antes cometidos. E este é o aprendizado maior. Será que os valores éticos devem ser mantidos ou joga-se tudo para o alto? Será que é melhor ficar chorando e esperando a morte chegar ou é melhor ir viver o que resta? É difícil pensar quando a pessoa que pode sofrer as consequências é você, mas neste livro muitas vezes eu me sentia irritada pelo rumo que o personagem tomava. Mas quem disse que eu não faria o mesmo se estivesse com poucos dias de vida?
É um livro conflitante. Diferente do que imaginava e mesmo assim não menos enérgico. A decisão final do personagem me soou tão racional que admiti que foi a melhor escolha, mesmo sendo polêmica. 100 dias de felicidade não é de alegrias e sim de esperanças e de pensamentos aos quais o leitor vai pensar sobre si diante da mesma experiência.
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