Luiza Helena (@balaiodebabados) 26/08/2020Originalmente postada em https://www.balaiodebabados.com.br/— O medo só será seu inimigo se você deixar.*
Uma Chama Entre as Cinzas era aquela fantasia que sempre esteve na listinha, mas nunca peguei. O fato é que eu estava esperando finalizar a série para poder ler tudo de uma vez. Com o lançamento internacional do último livro previsto para dezembro e a Verus ressuscitando a pobre coitada da série aqui no Brasil com o lançamento do terceiro, finalmente me arrisquei na história e realmente ela vale todo o hype.
Laia e Elias são de mundos completamente diferentes. Se não fosse a prisão do irmão da moça eles provavelmente nunca se conheceriam. Laia se martiriza e se culpa pela prisão do irmão, Elias não quer mais ser uma arma nas mãos do Império. Ambos possuem uma carga emocional bem profunda e é bem visível nas narrações, que é alternada entre os dois em primeira pessoa.
Entre os dois protagonistas, Laia é quem tem um grande crescimento durante o livro. A jovem começa a história insegura, amedrontada e um pouco influenciável. Achei legal que Laia é bem diferente das protagonistas que costumamos encontrar em fantasia; ela não é versada em armas ou combate corporal, não nasceu uma revolucionária e/ou rebelde... Diante às provações que passa como escrava, ela encontra uma coragem e perseverança dentro de si que não sabia que existia e essa transformação vai acontecendo gradualmente durante o livro e com um único foco: salvar a vida da última família que lhe resta.
[...] existem dois tipos de culpa, garota: o tipo que te afoga até você se tornar um inútil, e o tipo que inspira sua alma para um propósito.*
Já Elias é um tanto clichê de alguns mocinhos, mas nem por isso deixa de ser interessante. Em seus modos e pensamentos, vemos que ele não nasceu para ser um assassino, mesmo que queiram transformá-lo em um. O soldado questiona o Império e não esconde sua aversão ao modo como o povo é tratado. Ao mesmo tempo, ele sabe que tem que seguir as ordens para que outras pessoas não sofram as consequências em seu lugar. Quando o seu verdadeiro caminho é revelado, ele pondera mas acaba seguindo o que é dito, na esperança de conquistar a sua tão sonhada liberdade.
[...] Prefiro morrer a viver sem compaixão, sem honra, sem alma.*
Os personagens secundários são bem construídos. A que se destaca entre eles é Helene Aquilla, amiga e companheira de armas de Silas. De início, ela parece ser apenas mais uma soldado de obediência cega ao Império, mas quando junto de Elias, vemos que não é bem assim. Pelo que já vi, ela vai ganhar mais destaque nos próximos livros e estou bem atenta. Já a Comandante é aquela antagonista cruel e vil que amamos odiar, visto que ela é uma personagem sádica de natureza.
Sabaa Tahir constroi todo um universo bastante sólido. Sua estrutura social é inspirada no Império Romano, mas a autora também acrescenta elementos da cultura árabe. A ambientação é desenvolvida ao longo do livro, sem que o leitor se sinta bombardeado de informações. Por ser o primeiro livro da série, a autora deixa algumas pontas e perguntas que espero serem respondidas nos próximos livros.
Toda a beleza das estrelas não significa nada quando a vida aqui na terra é tão feia*
Andando lado a lado com a história, também temos um romance bem construído. Apesar dele estar mais para uma forma poligonal além de um triângulo, Sabaa soube envolver o leitor nas dúvidas e nos sentimentos que existem entre os envolvidos. São situações e nuances que mais que justificam as incertezas. Creio que desde Peças Infernais não vejo algo do tipo tão bem desenvolvido e envolvente.
A escrita da autora faz com que a leitura tenha um bom ritmo, apesar da forte carga que os personagens passam. Inclusive foi algo que percebi em comum em algumas resenhas, o fato desse livro ter uma carga dramática a mais do que o costume de fantasias; pra mim, isso é um detalhe que o faz se destacar. Sabaa também não suaviza ou romantiza cenas mais fortes. Apesar de poucas, temos algumas cenas de lutas e violência em que a autora é bastante direta e precisa, principalmente como Elias e Laia são afetados.
O livro tem um ritmo constante durante a história, mas na reta final ele se acelera. Com cenas de tirar o fôlego e um final de deixar o coração ansioso, Uma Chama Entre as Cinzas deixa um bom gancho para Uma Tocha na Escuridão.
[...] enquanto há vida há esperança*
* quotes retirados da edição da Verus Editora
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