Léo 07/06/2016
Inteligente, empolgante, instrutivo, mítico
De início, tudo o que vocês precisam saber é que um humano chega às terras dos reinos nórdicos após passar por um portal que separa os mundos e se torna a chave para deter os planos do atual Alto Rei de Asgard, que pretende dentre tantas outras maldades, destruir o reino e acabar com o equilíbrio entre as raças. Entrar pelo portão mágico e parar nessas terras remotas junto aos amigos heróis protagonistas, foi para mim, vivenciar não apenas uma nova aventura mas relembrar tempos incríveis dos quais eu lia histórias tão semelhantes sobre esse conjunto de mitos.
Mas, o que são mitos? E mitologia? Por qual motivo dá-se o nome nórdico? E, o que é o Ragnarok? Bem, essas são algumas perguntas que realmente devem ser esclarecidas antes de prosseguir.
Segundo os próprios dicionários dizem, os mitos são fábulas que relatam a história dos deuses, semideuses e heróis da Antiguidade pagã. Eles ainda chegam a definir mitos como coisas inacreditáveis e incompreensíveis, enigmas e utopias. A mitologia é o conjunto desses mitos de determinados povos, ela estuda suas origens e evolução. Dentre tantas mitologias que existem, estão entre as mais conhecidas a grega, romana, maia, asteca e a nórdica — que também é chamada de mitologia viking. Enfim. Para terminar de esclarecer esses questionamentos, chegamos então ao termo Ragnarok, que faz parte do título do livro. O Ragnarok representa o fim do mundo na mitologia nórdica e se deu através de uma grande batalha anunciada que resultaria na morte de pessoas meramente expressivas, inclusive os deuses Odin e Loki, personagens que são partes [obviamente] da obra de Jefferson Andrade
Agora, já se pode entender que no enredo, o apocalipse dessa cultura já aconteceu. Mas vamos lá, a história não começa bem aí, ela começa no nosso mundo real nos tempos atuais — 2010 —, e o narrador, não participativo do núcleo fantástico elaborado por Jefferson, conta ao leitor os passos do jovem protagonista Willian Gregory, soldado americano que, aí sim, de repente se vê em Asgard, mundo nórdico onde viviam deuses, semideuses e outras raças, como os elfos e anões. Os acontecimentos são bem naturais, nada é apresentado de maneira forçada. Após os trechos iniciais que apresentam o protagonista em uma guerra no Afeganistão, ele e leitor são retirados rapidamente do cenário real e jogados em meio ao mundo de magia mítica. Logo, o aventureiro encontra Irghimund e Gerdall, dois seres que lhes fará companhia por essa terra fantástica e lhes ajudará a compreender melhor sobre a sua própria origem. Um fato muito legal é que o protagonista e os leitores irão descobrindo juntos segredos e enfrentando as circunstâncias desse acontecimento inicial. A trama é repleta de seres como Trolls e Goblins — criaturas repugnantes que se contrapõem a Gregory e seus amigos — e magias, algumas usadas até para fazer árvores ganharem vidas para que ataquem durante combates.
O leitor fica bem informado sobre os lugares por onde Gregory e os amigos vão passando e embora na mitologia nórdica não aja uma definição tão exata desses lugares com descrições claras sobre eles, Jefferson Andrade arrasou nos cenários que descreve [com perfeição diga-se de passagem], o que leva a crer que utilizou muito bem as influências de Tolkien nesse preceito. No mais, Jefferson mostrou uma escrita precisa e eficiente que define legal o alicerce da história. A leitura é ótima, confesso que não imaginava encontrar essa facilidade para ler o livro. Há harmonia e as palavras fluem com alegria, isso mesmo, a leitura é alegre e muito atraente.
A todo o tempo percebe-se os conhecimentos da área militar do autor aplicados ao enredo. A estratégia é um dos elementos mais utilizados por ele em sua história, rica em combates. Armamentos como arcos, espadas e arenas de treinamento são bem descritos e usados na trama.
No quesito aventura e diversão o livro também ganha pontos. A história é bem estruturada, não apresenta 'buracos' e a coesão é aparente. As justificativas para os desfechos e revelações apresentadas pelo autor no seguimento da trama são bem aceitas e realmente fazem todo o sentido. Os diálogos elucidativos são partes cruciais e muito importantes para aclarar leitor e protagonista a respeito de seu passado e seu verdadeiro elo com o mundo mítico. Além disso, transmite bons ensinamentos sobre o tema — mitologia nórdica — e garante boas risadas em determinados trechos. O protagonista é um jovem muito espontâneo e carismático e apresenta em alguns momentos um humor muito natural, encantando com sua simpatia. Em sua jornada ele descobre poderes mágicos que empolgam não só a ele mas também aos leitores, como a ''Força Elemental'' e a Ira dos Deuses, habilidade que lhe permite ver tudo ao redor de maneira clara e eficiente durante os combates. O livro conta também com uma gama de outras magias, artefatos, antídotos fantásticos e outras peculiaridades do reino de Asgard.
Alguns enfoques do livro revelam semelhanças entre os mundos; a existência de conflitos internos entre os povos, a ambição desmedida, a ganância pelo poder e a supressão de povos são elementos que envolvem o leitor através de mensagens que se contrastam com a representação do mundo moderno. Fica visível o vínculo entre o mundo mítico — Asgard — e o mundo real atual — que na história é chamado de Midgard.
A caracterização dos personagens foi aprimorada com louvor. Os elfos e anões, por exemplo, são seres muito peculiares que sempre me agradam em histórias do gênero. Com carisma próprio, habilidades fabulosas e cheios de truques e belas respostas para questionamentos, aqui n''O Conto do Mundo Perdido'', fizeram um papel muito agradável, adorei o comportamento deles na trama. Até personagens secundários que são sempre importantes para avolumar o contexto e deixá-lo mais encorpado e verossímil estão encaixados e se casam muito bem todos os recursos apresentados. No geral, os personagens conseguem ultrapassar aquela barreira da imaginação e se tornam bem convincentes. Gorvak, o Alto Rei que representa o oposto da idealização de conjuntos benéficos para a nação de Asgard, é muito bem trabalhado. Cruel, covarde e ambicioso se torna marcante e ganha um alto valor na história. Assim como Gregory, guerreiro valente, persistente e divertido, que conquista a cada ação. Vale lembrar que até para aqueles que não são tão fãs do gênero, o livro deverá superar as expectativas.
Com relação a diagramação do livro, pode se definir que é bem bacana. As letras tem tamanho adequado e há figuras que ajudam a melhorar a imagem final do material. O autor apresentou um prólogo, 25 capítulos e um epílogo — que nem sempre são tão grandes —, o que impossibilita a leitura de ficar arrastada. Ah, gostei também da arte exibida na capa do livro, achei bem original.
As ocorrências finais geram um espetáculo fantástico. A batalha é dura e muito competitiva. Talvez eu não tenha elucidado de maneira tão competente a grandiosidade da obra mas confesso que meus conhecimentos agora estão mais sumos se comparados há dias antes da leitura.
Desde pequeno curti essa mitologia de deuses e povos nórdicos embora nunca tenha me aprofundado tanto no assunto. Fiquei muito contente em relembrar leituras da pré-adolescência e estudos da juventude, revendo nomes já conhecidos como Asgard, Odin, Loki, Alberich, Zigmund, e viajando por lendas tão interessantes. Percebi que de início Jefferson Andrade não quis se radicar tanto nos assuntos mitológicos — o que passou a acontecer com mais frequência nos últimos capítulos — mas em tese esse desígnio serviu como âncora para organizar e formar a trama. Certamente ''O Conto do Mundo Perdido'' é um livro muito inteligente que conquista o leitor pela forma em que os assuntos são transmitidos. É uma aventura leve, empolgante e sadia, que pode ser lida por todas as idades. Um dos meus capítulos preferidos é o 14, intitulado ''A ponte Bifrost'', que apesar de não conter duelos em seus trechos me conquistou pelo teor informativo que apresenta. A evolução do protagonista na obra também é muito evidente assim como o ódio existente entre as raças, o que me levou novamente a enxergar o mundo atual dentro do cenário mítico. A determinação, a força de vontade e a persistência são mensagens que retirei do âmago central. Entendo que ao lermos uma história onde há valentes guerreiros envolvidos em batalhas, a mensagem clara de coragem é logo entendida, mas o ensejo também é importante. Gregory permitiu-se sair em busca de sua missão e encontrou muitas maneiras de se aperfeiçoar. É importante aproveitar as oportunidades, elas podem ser únicas.
Na classificação o livro merece 5 estrelas. A proposta do autor Jefferson Andrade, que merece o nosso prestígio, foi inteirada. Senti-me,às vezes, como num jogo de RPG, em combates diretos contra trolls e em busca de um objetivo único, aperfeiçoar-me e restaurar o equilíbrio entre as raças de Asgard e Midgard. É inteligente, instrutivo, empolgante e, claro, mítico. Parabéns ao autor!
Espero que vocês tenham gostado e compreendido o esplendor que envolve este livro. O autor conseguiu um feito bem interessante — uniu suas habilidades militares e históricas num enredo fantástico, ao mesmo tempo que incluía em algumas linhas, vestígios de suas inspirações literárias.
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