Andréa Bistafa 18/12/2014www.fundofalso.com"Meu Deus, como é diferente viver uma vida que esperam que você viva e viver uma vida que você quer viver. Eu apenas percebi isso um pouco tarde, só isso."
Esse é meu segundo livro da escritora Jodi Picoult, que para quem não sabe, tem entre os meus livros preferidos de uma vida toda, o "A Guardiã da Minha Irmã", lido a uns três anos atrás e resenhado aqui no blog.
Lançado lá fora em 1993 com o título Harvesting the Heart, que ao pé da letra seria como Colhendo o Coração, teve um ótimo trabalho de tradução ao meu ver.
Essa autora me encantou, e voltou a fazê-lo nessa sua nova obra. Jodi tem uma escrita tão forte, tão real, tão impactante que é impossível você ler sem se identificar em pelo menos um momento com o sofrimento da protagonista. Como deve ser um costume da autora, rs, nessa obra também teremos muito sofrimento psicológico.
Paige é uma jovem garota que perdeu sua mãe aos cinco anos. Perdeu porque assim sua mãe quis, perdeu porque sua mãe não quisera mais cuidar dela, não quisera permanecer ali, ao lado de seu pai. Pior que sofrer a perda de quem amamos é ter a consciência que essa pessoa simplesmente nos abandonou, sem explicações partiu, deixando corações arrebentados.
O pai de Paige com muito sacrifício e amor à criou, e nunca tocou no assunto da partida, Paige também nunca quis detalhes profundos, apenas viveu com isso.
E então, uma garota de dezessete anos sem mãe, mesmo tento o pai como melhor amigo, sente falta de uma referência feminina, sente medo da vida, medo do amor. Como poderia agora Paige aceitar uma gravidez precoce? Como conseguiria amar um filho se não sabia o que era ser amada por uma mãe? Tomando a pior decisão de sua vida, Paige faz um aborto. (não é spoiler, é fundamental para que você entenda a profundidade da história.)
"...havia a confissão, que dizia que eu poderia fazer o que quisesse e sempre sair limpa depois de algumas ave-marias e pai-nossos. Acreditei nisso por algum tempo, mas acabei sabendo por experiencia própria que havia algumas marcas em nossa alma que ninguém jamais poderia apagar."
Os anos vão passar e vamos "conversar" com uma Paige adulta, que nos contará como seguiu sua vida, como ficou seu pai nisso tudo, como encontrou o amor novamente e como aceitou seu passado. Vamos acompanhar Paige em uma segunda gravidez indesejada, uma cabeça perturbada, acusações a Deus, auto questionamento, culpa, culpa e mais culpa.
"Eu achava que estava fugindo do que havia acontecido. Não sabia - até conhecer Nicholas, dias depois - que, o tempo todo, eu na verdade estava fugindo em direção ao que ainda ia acontecer."
Esse livro é fantástico. Não tem como não falar dele sem sentir os pelinhos do braço se arrepiarem.
Paige irá mesmo conversar com você, pois a escrita fluida da autora é tão profunda que em certos momentos me peguei vivendo e respirando a Paige, sentindo, chorando e me culpando junto com ela. Os capítulos intercalados entre a protagonista e seu atual marido são muito bem colocados, narrados em primeira pessoa na vez de Paige e altera-se para terceira pessoa nos capítulos de Nicholas. Vendo então por trás dos olhos dela enquanto sabendo exatamente o que se passa com Nicholas, que tem papel fundamental no enredo, faz toda a diferença para entendermos que não a culpados de verdade nessa história.
"Dependia dele para me dizer as datas dos próximos feriados, para conferir se eu tinha chegado em casa em segurança após o trabalho, para preencher meu tempo livre até eu sentir que ia explodir. Parecia Tão fácil me fundir com a vida dele que às vezes eu me perguntava se havia sido alguém antes de conhecê-lo."
Ressaltando por uma última vez minha admiração pela autora, que faz não só uma escrita como uma pesquisa apurada sobre tudo que acrescenta em sua obra, desde costumes locais, informações sobre cavalos (hobby de um personagem), detalhes minuciosos sobre operações cardíacas (profissão de Nicholas), o parto, entre muitos outros detalhes escritos de maneira interessante e essencial sem tornar-se cansativos ou repetitivos.
O amor que acontece entre os protagonista é maravilhosamente real e torto como acontece conosco. É profundo e egoísta como todos nos somos. Não tem como descrever o que senti nesse livro, ele mexeu comigo em todos os aspectos da minha vida, do meu casamento e da minha maternidade. Fará você descobrir que tudo, até a pior das coisas, só podem ser superadas se houver perdão e amor verdadeiro.
"- E o que eu ganho com isso?Ele sorriu.- O que você quiser.Muitos anos mais tarde, quando Nicholas pensava nessa conversa, dava-se conta de que não deveria ter feito promessas que não poderia cumprir.
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