Rodrigo | @muitacoisaescrita 10/02/2020
O único “defeito” do livro é ser pequeno. Ele é bem leve e fácil de entender, bem introdutório também – ótimo para quem quer embarcar nos estudos feministas. No Kindle, o tempo estimado para a conclusão do livro é menos de 1 hora. Inclusive, Chimamanda também escreve romances ótimos e deve ser valorizada nesse sentido também; ela começa, aliás, citando um acontecimento durante a divulgação de seu romance “Hibisco roxo”.
O termo “feminista” parece incomodar muitas pessoas. Muitas mulheres, ainda, se recusam a se auto-intitular uma feminista – e não é culpa delas. Aqui, Adichie trás acontecimentos de seu cotidiano que explicita o sexismo enraizado em nossa sociedade cisheteropatriarcal, que, inclusive, faz com que mulheres e homens tenham medo do feminismo e das feministas, quando, na verdade, é um movimento que busca erradicar todas as formas de dominação e opressão, principalmente ao que diz respeito ao sexismo (que molda várias, se não todas, das formas que nos relacionamos uns com os outros). Chimamanda trás suas vivências como mulher negra nigeriana – o que é ótimo para fugir das narrativas únicas de mulheres brancas europeias – e nos conta como o sistema patriarcal concede privilégio aos homens: uma mulher sozinha pode ser interpretada como prostituta; quando ela deu gorjeta ao flanelinha, ele agradeceu ao homem que a acompanhava; etc. “Existem mais mulheres do que homens no mundo – 52% da população mundial é feminina, mas os cargos de poder e prestígio são ocupados pelos homens”.
“Recentemente, uma moça foi estuprada por um grupo de homens, na Nigéria, e a reação de vários jovens, de ambos os sexos, foi algo do gênero: ‘Sim, estuprar é errado, mas o que ela estava fazendo no quarto com quatro homens?’”. O sistema patriarcal confere poder – o direito de dominar o Outro – e privilégios a uns em detrimento de outros. O dado de a cada 11 minutos uma mulher é estuprada, por vezes, é assimilado de forma rápida e sem reflexão sobre a gravidade desse sistema, o quão perdidos estamos enquanto sociedade. No mais, recomendo “O feminismo é para todo mundo”, de bell hooks, tão bom quanto.
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