Ana Lima 01/07/2016Em A Terapeuta conhecemos Héctor, que após presenciar um assassinato passa a ter sensações estranhas e que antes não se recordava de sentir. Um dia, andando pela rua, simplesmente não conseguiu mais se mover. A angústia era tanta, que simplesmente ficou ali, parado, com a multidão passando por ele pela calçada como se não estivesse ali. Quem o socorre é Eugenia Llort, a mesma psicóloga que o atendeu no dia do assassinato - do qual, por sinal, não consegue se recordar.
Depois desse episódio de paralisia - sua primeira crise de ansiedade -, Héctor inicia um tratamento com a terapeuta. Dentre as práticas estão visitas ao local onde o crime ocorreu, como forma de tentar resgatar as lembranças do fatídico dia e também ao teatro onde Héctor costumava atuar, onde desde o ocorrido não consegue exercer sua profissão de ator.
Aos poucos, Eugenia passa a todos os dias assistir às suas apresentações. Na cabeça de Héctor, sua presença lá poderia evitar que uma nova crise de ansiedade acontecesse, e só assim conseguia atuar com tranquilidade. Era como um porto seguro e, aos poucos, uma estranha obsessão pela terapeuta foi surgindo.
Paralelo a isso, Eugenia lida com seus próprios problemas, um deles o mais bizarro de todos: incorporar as doenças e manias de seus pacientes. Ao tratar um homem com TOC, poucos dias depois estava com os mesmos habitos dele. O último a ser tratado fora diagnosticado com agorafobia - uma estranha fobia à sair de sua própria casa, conviver com outras pessoas. E, como já era esperado, Eugenia também se sentia presa nessa fobia.
A narrativa é bem mais madura, diferente da qual estou acostumada, porém de uma forma que gosto bastante. Dividido em duas partes - a primeira contando a história de Héctor e a segunda, de Eugenia, o livro mostra como muitas vezes consideramos normais, certos comportamentos provenientes de algumas doenças. Como foi o caso do personagem, que só depois de diagnosticado conseguiu entender as diversas crises de ansiedade que teve durante a vida.
Um ponto negativo, ao meu ver, foi a escrita em terceira pessoa. Tratando-se de uma doença como a ansiedade, é muito difícil até mesmo para quem a vive descrever qual é o sentimento durante uma crise, e um narrador de fora descrevendo isso acaba deixando o relato ainda mais raso. Mesmo assim, consegui me enxergar em muito do que o personagem Héctor passou.
Em uma primeira leitura achei bastante confuso. Posso dizer que ao terminar o livro você não terá uma conclusão concreta sobre o que aconteceu a nenhum dos dois personagens principais. Mas refletindo um pouco mais sobre o assunto percebi como isso ajudou a dar à obra a essência do assunto tratado. A confusão, o não-entendimento e até a agonia que se sente por vezes durante a leitura são típicas da ansiedade, e o autor foi brilhante nesse aspecto.
De toda forma, recomendo a leitura pela delicadeza do assunto, e pela importância de ser discutido e entendido pelo maior número possível de pessoas.
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