Roberto Soares 22/01/2022Publicado anonimamente em 1893, "O outro lado da moeda" foi quase imediatamente atribuído a Oscar Wilde. Lançado 2 anos após "O Retrato de Dorian Gray", a obra foi identificada como sendo de Wilde principalmente após o escândalo do qual o autor seria alvo em 1895. Condenado por prática homossexual, Oscar Wilde se tornou um dos maiores mitos da história da homossexualidade moderna.
Hoje a teoria mais aceita é a de que o romance na verdade foi escrito em conjunto por vários autores, provavelmente do mesmo círculo de Wilde, que pode ter contribuído apenas em parte da escrita do romance ou na sua revisão.
Encontramos aqui os singulares aforismos que para alguns denunciam sua identidade, como "O pecado é a única coisa pela qual se vale a pena viver" ou "Não são as dores do Inferno que tememos, mas sim a sociedade mesquinha que vamos encontrar lá embaixo". Mas não é apenas isso. A conexão direta entre o dom artístico do amante e a presença do amado também é evidente em Dorian Gray, bem como a ideia de beleza e arte como encobridoras do pecado e da culpa, principais filosofias de vida do escritor.
Sobre o enredo do livro, trata-se da paixão entre o jovem francês Camille Des Grieux e o pianista húngaro René Teleny. Se, para Wilde, "cada homem mata aquilo que ama", é com este pensamento em mente que vamos acompanhar essa história do início ao fim, carregada pela superstição, pelo destino e pelo mal agouro. Mesmo os episódios sexuais são encobertos por uma carga negativa e, na minha opinião, até repulsiva, refletindo a ideia da transgressão e do sofrimento ligados ao prazer da sexualidade.
Embora seja um romance altamente erótico (às vezes beirando o pornográfico), "O outro lado da moeda" é mais uma história sobre a descoberta e experiência do primeiro "amor verdadeiro" e sua exploração física e emocional até o nível mais extremo (e trágico).
Com ou sem Wilde, este é um bom livro tanto no seu sentido literário quanto no sentido histórico, sendo um relato tão franco e intenso da estética homossexual no fim do sec. XIX, escrito por mãos daqueles que já começavam a dar mostras de uma luta para afirmar seu lugar na sociedade.