Liz 25/09/2011Desafio literário 2011 - Setembro - Autores regionais“Era um de seus lemas. Todas as noites, antes de dormir, se havia alguém por perto, ou se estivesse sozinho, sempre dizia em voz baixa, metade como compromisso, metade como prece: ‘Amanhã farei grandes coisas!’.”
O livro começa com um pacote anônimo chegando às mãos de Carlos Heitor Cony. Um pacote simples, ordinário, mas com aspectos peculiares: a letra com que assinava o nome do destinatário, o nó do barbante que envolvia o embrulho, os cheiros que dele vinham, tudo indicava que quem o havia mandado era o seu pai, Ernesto Cony Filho. Porém, este tinha morrido há dez anos. Intrigado, Carlos recebe tal embrulho, mas sem ter certeza se deveria abri-la, ou mesmo sem saber se queria abri-lo. Começa a simplesmente olhar para ele, mergulhando profundamente nas lembranças que tinha do pai, apresentando aos leitores sua relação com alguém que foi, em minha opinião, uma grande figura.
Escolhi esse livro para o Desafio porque, já tendo lido todos os livros infanto-juvenis de Cony com Anna Lee, queria ler um somente dele. E tenho certeza de que fiz uma ótima escolha, que recomendo para todos. “Quase memória”, como o nome sugere, não é uma lembrança completa, pois nem tudo o que foi descrito no livro aconteceu mesmo. E o livro também nem tem um gênero definido, pois mistura características do romance com crônica.
Ainda que tenha amado o livro, achei o começo um pouco entediante e quase parei, uma vez que ando sem tempo para nada. Mas resolvi continuar, comecei a me apegar aos personagens, e a ler bem devagar, com cuidado, para prestar o máximo de atenção às histórias. É um livro para se ler com bastante calma, voltando no tempo junto com o autor, vivenciando o Rio de Janeiro do século passado, principalmente as épocas ditatoriais.
Enfim, é um livro que com certeza lerei novamente um dia. A figura do pai encantou-me para sempre, meio que virou um estilo de vida. Fiquei com muita vontade de ser alguém como ele, sempre empolgado e confiante, fazendo de tudo e ficando feliz por ter feito ainda que no fim tenha dado errado. Quem ninguém deixaria de sentir falta.
As aventuras em que o pai se metia, em que outros se metiam, reis europeus, jacarés no quintal, balões de cola de farinha, aulas de geografia ao amanhecer, mangas de cemitério, várias e várias lembranças despertadas pela visão de um embrulho e que, falsas ou não, compõem um dos melhores livros nacionais que já li. E com certeza o melhor livro sobre relacionamentos entre pai e filho que já li.
Digo por fim que nunca mais olharei os balões do jeito que olhava antes.