Quase memória

Quase memória Carlos Heitor Cony




Resenhas - Quase memória


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Josadarck 02/01/2011

ORFÃOS
Resolvi fazer uma resenha um pouco diferente, sair um pouco do padrão chato das resenhas em geral (não todas), e contar a história do livro. Não a que se passa dentro dele, mas a história dele próprio.

Antes de Quase Memória, a outra única criação de Cony que eu tinha lido era um conto chamado "O Crime e o Burguês". Li e reli, indiquei e "reindiquei" inúmeras vezes em um período de aproximadamente cinco anos. O conto, recheado de inteligência e um finíssimo bom humor, sempre foi um dos meus favoritos. Por culpa desse conto, senti uma irresistível (e inadiável) vontade de comprar o livro, assim que o vi girando em uma daquelas prateleiras itinerantes cilíndricas que as bancas possuem. Afinal, eu também devia, havia tempos, uma leitura nacional em minha memória literária. E é claro, não me arrependi.

Em um primeiro momento o livro, tímido em minha cabeceira, batalhava o seu espaço entre outros livros de peso: A Casa dos Budas Ditosos (João Ubaldo Ribeiro), Os Sofrimentos do Jovem Werther (Goethe) e O Livro do Riso e do Esquecimento (Milan Kundera). Como de costume, como todas as vezes que eu compro livros, leio pelo menos um pequeno pedaço da introdução. Ali, de certa forma, o livro já me fisgou. Tímido mas direto nas idéias, me afeiço-ei ao seu estilo. Mas era só o primeiro capítulo.

As páginas foram se passando, como se passam os anos de uma vida, e o livro foi, ali na mesma cabeceira, conquistando sua importância, e se prostando acima dos outros livros como quem sobe ao primeiro lugar do pódio. O personagem central desse livro, e seu coração, é o próprio pai do autor, Ernesto Cony Filho. Seus projetos loucos, suas manias, sua coragem e seu amor, tanto pelos próximos quanto pelas pequenas coisas da vida, nos sugam para dentro do livro, para perto dos fatos, como se observássemos tudo de perto, escondido atrás da cortina da casa de Cony. Torcemos juntos, aprovamos, desaprovamos, mas o principal, aprendemos com as lições desse pai, que deixa de ser o pai de dois filhos, para ser o pai de inúmeros (todos que o lêem.)

Carlos Heitor Cony exerce duas outras funções importantes no livro. É os olhos e o pulmão do livro. Nos diverte e cativa com suas lembranças e seu modo de ver o pai, contando, entre fatos históricos, as grandes aventuras de sua vida em simbiose com a do pai. Seu fôlego, incansável.

O livro foi chegando ao fim e, junto, a história do pai. Enquanto eu lia aquele livro o pai permanecia vivo também em meu dia-a-dia. O medo de terminar o livro era o mesmo de terminar a minha aventura ao lado daquela família tão peculiar. Isso me fez ler mais devagar, saborear mais lentamente aquelas lições de vida. Mas era inevitável. O fim do livro chegaria, como chega um fim para todos nós. Assumi o risco de gostar muito do livro, e tive de tomar coragem para terminá-lo.

Relutante nas últimas páginas, acabei por chegar à derradeira. Acabado o livro, fiz o mesmo movimento que faço quando acabo ótimos livros, e me acompanha o movimento de fechá-lo: dei um largo sorriso satisfeito.

O pai, Ernesto Cony Filho, torna-nos orfãos de sua inigualável companhia, e a Quase-Memória de Cony torna-se, para todos nós, Memórias-Completas de um amor inesquecível entre pai e filho.

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Meu site: http://recantodasletras.uol.com.br/autores/josadarck
André 14/06/2013minha estante
Muito boa apresentação! Parabéns...


Carolina2809 19/11/2020minha estante
Fiquei com muita vontade de ler esse livro


alissonferreira.c1 11/01/2024minha estante
Cara, essa resenha foi escrita há 14 anos! Eu nem sabia que o Skoob tinha essa idade.




Cleber 16/06/2021

"O tempo parou. Entretanto, nunca o tempo foi tanto tempo."
Cony recebe um embrulho fechado, somente com destinatário, sem remetente, mas percebe que na forma e no material em que o embrulho foi feito que ele só pode ter sido enviado por seu pai, que há muitos anos tinha falecido.
Toda a história se passa em uma tarde e uma vida inteira. Aquele embrulho faz Cony lembrar de toda uma vida de menino e principalmente traz lembranças do seu personagem favorito, seu pai.
Um livro muito bem construído e como o próprio autor diz. É um quase romance, uma quase memória e uma quase biografia.
Fabi 16/06/2021minha estante
Gostei da resenha


Cleber 16/06/2021minha estante
Obrigado?




Otávio - @vendavaldelivros 05/06/2021

"No fundo, o pai nunca ligou para a arte ou a necessidade de ganhar dinheiro. Viver era mais importante para ele. Ele descobrira que as coisas boas (ou que ele considerava boas) podiam ser conseguidas com pouco ou nenhum dinheiro.?

Talvez um dos sentimentos mais satisfatórios que um leitor pode ter é se surpreender positivamente com um livro que subestimava. Ainda que o tema me fosse particularmente chamativo, nunca imaginei que mergulharia tanto em um livro que se autointitula ?Quase-memória?.

É difícil explicar o que o livro escrito pelo carioca Carlos Heitor Cony de fato é. Entre relatos de memória e outros que parecem ficção, ele conta a história do próprio pai através de seus olhos e de suas próprias memórias. Do tempo em que o pai assumiu as funções de professor para que ele pudesse passar na prova para o seminário, até o fim da vida desse personagem tão único, Cony narra situações e experiências únicas, mas que tocam fundo em quem tem uma figura paterna em sua própria vida.

O enredo gira em torno de um pacote, recebido por Cony, com toda a assinatura do pai, desde os traços de caligrafia até o laço que fechava o embrulho. A grande questão era: O pai havia morrido dez anos antes. Como teria conseguido entregar aquele embrulho para alguém? E é ao longo do livro, com Cony (o filho) pensando em cada detalhe do embrulho, que conhecemos a vida de Cony (o pai).

Acredito que relações entre pais e filhos sejam complexas, principalmente na sociedade que vivemos, onde tantos ?pais? não são pais de verdade. Ainda que eu tenha me identificado tanto com as memórias e minha própria relação com meu pai, sei que é possível que tantas pessoas que não tiveram no pai a figura paterna, reconheçam nessas páginas as personagens que exerceram essa função de maneira brilhante e encantadora.

Retrato de um Rio de Janeiro dos anos 30 aos anos 80, ?Quase-memória? é a mistura do salgado com o doce que pode acontecer com a crônica e a ficção. É a prova em texto de que, por trás de cada pessoa, existe uma histórica única e marcante. É a prova, também, do porquê Cony ter sido membro da Academia Brasileira de Letras e ser considerado um dos grandes autores que esse país já produziu.
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Marcelo Rissi 28/12/2022

Quase memória (Carlos Heitor Cony)
Encerrada a última leitura de 2022: Quase memória (Carlos Heitor Cony).

Para quem, como eu, já não tem mais o pai habitando esse plano, esse livro movimenta emoções dicotômicas. É, pela constante rememoração da perda, indigesto. É, porém, simultaneamente, um acalento ao coração, pois a obra é composta por memórias ? inclusive, de diversas gabolices ? da vida de um pai, na visão e na lembrança do filho. O autor ? o filho ? revisitou, com o coração aquecido, incontáveis episódios familiares e compilou, ao longo das páginas, inúmeras histórias, todas elas narradas com humor, leveza, carinho e afetuosidade.

As digressões sobre o passado se tornaram, a rigor, o próprio enredo principal. Ao seu turno, o mistério do embrulho, deixado misteriosamente ao filho uma década após a morte do pai ? e com a caligrafia deste, em tinta fresca, denotando a atualidade da entrega ? fica em segundo plano ao longo da narrativa, servindo, porém, como elemento enigmático que mantém a atenção e a curiosidade do leitor ao longo das páginas. Afinal, quem lhe deixou ? ao filho ? aquele pacote, endereçado com tinta fresca, com a caligrafia e com o nó inconfundíveis de seu pai, dez anos depois de sua morte? Como o pacote chegou ao destinatário em condições tão aleatórias e, até mesmo, improváveis? Perguntas cujas respostas o leitor acompanhará, simultaneamente, com o filho/autor, ao longo da narrativa.

Essa indicação de leitura, feita por um professor de redação jurídica, foi cirurgicamente precisa. A escrita do autor é, por si só, uma valorosíssima aula de português: texto limpo, claro, simples, coeso e excelentemente bem construído. Gramática perfeitamente escorreita. Um livro que é um misto de ficção e de memórias ? logo, não-jurídico ? muito recomendável para todo aquele que quiser aprimorar o português.

Muito bom. Recomendo enfaticamente.
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Fabricio.Macedo 22/05/2022

"Quase Memória", memória que é âncora e luz. Âncora que traz à tona as lembranças, as recordações; luz que ilumina, que clareia e esclarece, revela. Esse livro está na minha estante já faz bastante tempo. Era hora de lê-lo. Primeira leitura que faço do Cony. Estou satisfeito. As lembranças são do pai - do pai jornalista, do pai-pai. Memórias da sua história, da personalidade, do homem trabalhador ... das viagens, comidas, músicas e bebidas preferidas. "(...) penso nele quando dizia, cada noite, antes de dormir: Amanhã farei grandes coisas!" Memórias de um vencedor.
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Elis 28/12/2009

Olha eu não tinha certeza se iria gostar de ler esse livro, mas de repente descobri que eram memórias de um filho por seu pai, ele retrata coisas que somente os filhos sentem por seus próprios pais. No decorrer da história ele conta cada façanha de seu pai, cada sentimento que ele tinha por ele, mostra cada memória da vida dele enquanto seu pai estava presente.
Gostei demais...saber que nossos pais serão eternos em nossas memórias nos torna uma pessoa de grande coração, saber do amor que temos por eles, e saber do amor que eles tem por nós, faz com que a cada dia demos mais valor a eles.
O autor tem uma frase que marca a história: "Amanha farei grandes coisas."

Nossa isso mostra como é viver, afinal simplesmente acordar já é uma grande coisa, ver as pessoas que ama, fazer seu trabalho, estar vivo, são grandes coisas aos olhos de quem sabe ve-las.

Recomendo esse livro a todos filhos que amam seus pais.
Nota 10..............Bjus elis!!!!!

P.S: Me pego pensando em tudo que meus pais são para mim, em cada gesto que gravo deles, em cada palavra gravada na alma, em cada olhar deles que gravo. Agradeço muito por te-los em minha vida, e eles sabem que estarão para sempre comigo, não importa se estejamos perto ou longe, e sabem por que? Porque eu sei desde de sempre que o meu amor por eles cresce a cada dia que acordo. Amo vocês!!!!!!!!!!
Cris 01/04/2011minha estante
Nossa Elis, não sei se pq sou muito emotiva, mas suas palavras calaram fundo. Vc disse td em algumas linhas sobre a relação com nosso pais e vice-versa.
Bj.




Angelica75 20/02/2024

Nota 4.
Achei delicioso e emocionante ler as memórias que o autor tem de seu pai, uma história mais carismática que a outra, um pai peculiar demais e uma riqueza de detalhes nas lembranças que não cansa em nenhum momento.
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Catarine Heiter 30/12/2021

Enxergar um pai pelos olhos do seu filho é sempre uma experiência extremamente rica e aqui, em Quase Memória, o autor o faz com maestria. A partir de um objeto que evoca muitas memórias sensoriais, um desenrolar de eventos são narrados de forma pouco linear; mas geram uma conexão imensa entre o leitor e este pai tão peculiar. Passeamos pela história do Rio de Janeiro e do jornalismo, entramos na rotina desta família e conhecemos eventos importantes para estes personagens; tudo isto a partir da perspectiva deste filho sobre a participação do seu pai. Um livro lindo, de escrita leve e que me conectou com a minha história, em diversos momentos, através de passagens que encontraram eco nas narrativas dos meus próprios familiares. Sem dúvida uma história para ser sentida e não apenas lida.

Esta leitura foi motivada pelo desafio DLL2021, na categoria Escolha Livre
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Caroline Vital 23/10/2023

Lido em 2018
Até que é legal acompanhar as lembranças do personagem principal, mas a todo momento fiquei me perguntando: vai abrir ou não esse pacote? Sei que essa foi a intenção, mas achei muito monótono.
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Felipe Saraiva 23/02/2010

Livro resumio em uma palavra: LINDO
Nos traz uma quase-biografia!!!!!!!!!!!!!!!!

Traz momentos da vida do autor junto do pai!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Todos as pessoas devem ler, pois nos traz uma maravilhosa lição de vida!!!

LEIAM, RELEIAM, CONTINUEM LENDO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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Zé - #lerateondepuder 11/08/2020

Quase Memória
Uma quase memória é o título que pode trazer várias intepretações, sendo uma dúvida que pairou durante quase toda a leitura desse livro, que a mim parece mais uma homenagem e relato bem pessoal detalhado da vida do pai do autor. A falta de esclarecimento sobre o título se corrobora pela incrível semelhança das sinopses sobre a obra, uma vez que, em quase todos os locais em que estas foram apresentadas, são praticamente iguais, um detalhe que não passou despercebido e que não acontece com a maioria dos livros.
Desta forma, os comentários de Nelson de Sá que constam na contracapa de uma das edições, praticamente, podem também ser vistos “ipsis litteris”, na maioria das demais edições, inclusive na análise contida na clássica coletânea de resenhas, 1001 livro para ler antes de morrer, um dos bons motivos que classificam o livro em tela como uma obra clássica.
Na verdade, trata-se de um livro de leitura agradável, que apresenta os fatos de forma assíncrona, todos relacionados ao criador do autor Carlos Heitor Cony, o qual foi publicado no ano de 1995, após mais de duas décadas sabáticas, sem que Cony, membro da Academia Brasileira de Letras, publicasse qualquer outro título. Vale ressaltar que este clássico recebeu alguns prêmios e que o autor escreveu outras renomadas obras, como Pilatos (1973) e O Piano e a Orquestra (1996), dentre outras.
O que pode ser visto na escrita é uma boa dose de saudosismo, uma vez que Carlos Heitor imprime uma gama de apresentação de fatos do passado, verdadeiras reminiscências de sua mente, em que seu pai é o grande protagonista. A trama vai girar em torno de um embrulho com a letra paterna, recebido em um determinado hotel em que se encontra o protagonista, após mais de 10 anos da morte de seu progenitor.
Ao longo do desenvolvimento dos capítulos, o autor retoma várias vezes à questão do embrulho, que leva a marca indelével de seu genitor, quase que como indiscutível autoria e que fora entregue, misteriosamente, uma década depois de seu falecimento. O pacote acaba sendo o mote para apresentar descrições muito detalhadas das atitudes, até mesmo um tanto quanto bizarras e quixotescas de Ernesto Cony Filho, como o gosto paterno pelas comidas e bebidas, aos diversos e muitos amigos exóticos, até as verdadeiras façanhas que o pai promovia, apresentando-o na visão de um herói para seu filho.
A vida de Cony no seminário de Rio Comprido é retratada, da mesma forma, em várias passagens, contando a visão religiosa e positiva que parece ter se incrustado em mais de oito anos de estudo para se tornar padre, desde sua tenra infância. O orgulho que toda a família e amigos tem para com essa condição é bem visível, não deixando claro o motivo de sua desistência, antes da ordenação.
A carreira de jornalista tem um destaque bem relevante, começando por tecer detalhes da vida profissional de seu genitor, desde o tempo em que as redações ainda eram bem rudimentares, não contando sequer com máquinas de escrever, sendo as notícias formatadas à lápis, para depois serem impressas. É um relato bem consistente não somente da profissão, mas da forma que seu progenitor trabalhava, até a chegada de alguma das tecnologias atuais, um ciclo que se fechou com o autor seguindo essa mesma vocação de repórter, jornalista e colunista.
Há espaço para a descrição de duas grandes revoluções políticas históricas, como a entrada de Vargas no poder, que teve um grande reflexo para o fechamento de alguns jornais e pouco mais de trinta anos depois, com a tomada do poder por conta dos militares. Foram dois períodos nominados como ditaduras, em que os jornais influenciaram sobremaneira até o seu desencadear e sofreram vários reflexos e transformações, durante seu funcionamento.
O Rio de Janeiro, como época de Capital Federal, tem destaque especial, tal como Niterói, a cidade em que morou a família de Cony, quando este era criança. O tal saudosismo é bem evidente nessas passagens em que descreve a cidade e centro político que atendia os aspectos culturais sofisticados de Ernesto Cony, como seu gosto pelas óperas e sinfonias clássicas, descritas em detalhes de nomes e tipos.
A justificativa para este título se descortinará mais ao final, quando o autor vai se referir ao tempo que ficou fragmentado em quadros e cenas nas lembranças de Cony, que não consegue formar exatamente a memória que seu pai e os outros protagonistas significaram para ele, tal qual um quase romance ou uma quase biografia, que não é mais possível de se materializar, tal qual o embrulho recebido.
Essa resenha se baseou na edição Kindle do ano de 2014, da Editora Nova Fronteira e conta com, pelo menos, mais cinco edições diferentes. Assista à vídeo resenha em: https://youtu.be/k5eouRT-M4I, acesso em 11 ago. 2020. Paz e Bem!


site: https://linktr.ee/prof.josepascoal
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Kelly Oliveira Barbosa 02/09/2021

Passei mais de um mês lendo Quase Memória do Cony. Entre outras leituras, sempre pegava o livro, mas no máximo lia dois capítulos e parava. Não é o tipo de livro que eu conseguiria passar por ele rápido. Na minha opinião é o tipo de obra que exige um pouco mais de atenção – e de forma nenhuma por se tratar de um livro difícil de ler, mas pelo convite à calma, à sensibilidade.

Carlos Heitor Cony (1926-2018), foi um jornalista e escritor brasileiro. Membro da Academia Brasileira de Letras, ganhador de vários prêmios literários, deixou uma grande obra entre romances, contos, crônicas e outros.

Cheguei ao autor por influência total do Rudi Baroncello e escolhi começar por Quase Memória por se tratar de um romance autobiográfico, uma narrativa de memórias, gênero que muito me agrada.

Após terminar a leitura eu assisti uma entrevista do autor no programa Roda Viva de 1996, o que me levou a compreender que esse livro foi um ponto fora da curva daquilo que o Cony geralmente escrevia. Se trata do que vou chamar de um “livro homenagem”: as memórias de um filho sobre o seu pai. O que me fez lembrar muito de outro livro autobiográfico que faz esse movimento ao inverso, A Queda de Diogo Mainardi, onde encontramos: as memórias de um pai sobre o seu filho. Talvez não só pela semelhança de movimento e do sentimento de pai e filho de filho e pai, mas, pelo tom melancólico de ambos.

A leitura me envolveu desde a primeira página. É um livro de memórias/autobiográfico dos mais diferentes que eu já tenha lido. O recurso de narrativa que o autor usou foi declaradamente misturar a ficção com as memórias reais, o que classifica esse livro também nas palavras do próprio autor como um quase romance.

Cony abre o enredo com ficção: ele mesmo um personagem, logo após almoçar no restaurante de um hotel como diariamente fazia, recebe das mãos do porteiro um pacote enviado “supostamente” e “misteriosamente” pelo pai que falecera há dez anos. E depois vai tecendo na ficção as histórias reais de uma vida completa, como ele interpreta a vida do seu pai, o peculiar Sr. Ernesto Cony Filho.

O contexto dessa vida completa e da própria vida do autor quanto narrador, é o Rio de Janeiro. Há muito da vida profissional do pai como jornalista, mas também dos seus infortúnios e empreendimentos como perfumista, vendedor de rádios etc. Seu pai era um homem que gostava de se envolver em projetos e para elaboração destes, sempre tinha suas “técnicas”. Cony oscila no tempo em sua narrativa ora engraçada ora melancólica, e cada vez mais melancólica conforme vai se aproximando o final do livro.

Em vinte e cinco capítulos conhecemos um pouco da personalidade e do relacionamento desse pai e desse filho, que é no final das contas, apenas um relacionamento comum que por vezes pode ser difícil, porém um dos mais importantes para a vida humana. Talvez esse aspecto seja o que torna o livro tão tocante e sensível.

Quase memória recebeu dois prêmios Jabuti no ano de 1996: “Melhor Romance” e “Livro do Ano Ficção”.

site: https://cafeebonslivros.com/2021/09/02/quase-memoria-de-carlos-heitor-cony-99/
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Roseli Camargo 05/10/2010

Histórias de pessoas que marcam a vida de alguém sempre nos faz sentir a saudade de quem as escreve. Com esse livro não é diferente. A figura de Ernesto Cony Filho, pai de Carlos Heitor Cony, é algo marcante na vida dele e passa a ser para que o lê também. Dar a visão de um pai cheio de sistemáticas e com defeitos, assim como todo ser humano, é difícil. Mesmo com esses defeitos, a mágica em volta das lembranças desse homem é algo inesquecível e que ajudou muito na formação do caráter desse filho. Dá vontade de ter conhecido uma pessoa tão singular. Primeiro livro que leio de Cony e gostei bastante.
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Silvio 02/08/2023

O livro mostra o relacionamento e o amor entre pai e filho, um pai com ideias excêntricas, uma família comum e normal. Há uma mistura de realidade com ficção, muitas informações reais e muito curiosas e interessantes que não se encontram em livros de história.
Fez-me lembrar de muitas histórias da minha própria infância, adolescência e relacionamento com meu pai, embora o meu pai não fosse tão excêntrico, não tinha tantas "grandes ideias".
Dá algumas ideias sobre o modo de vida no Rio de Janeiro à época.
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