Ricardo Silas 25/11/2014
Arco-íris desvendado.
Receio ser esse o livro de divulgação científica capaz de ser considerado "único" em sua bem esculpida de esclarecimento. A proposta que o Richard Dawkins elabora, além de necessária, é belíssima em diferentes aspectos facilmente captados pelo leitor. Primeiro, após muitas as deturpações ferozes que muitos cientistas e "críticos pedantes" do empreendimento científico fizeram (e fazem) ao divulgarem as informações, ao invés de ajudarem os leigos, tornaram o conhecimento quase indecifrável e vulgarmente irregular.
Então, um tanto incomodado com as estapafúrdias permissões legais atribuídas aos pseudo-cientistas e charlatões oportunistas, Dawkins insurge para aplacar as falsidades. Não apenas nesse livro ele o faz, pois em outros trabalhos tão bem elaborados quanto, a finalidade é quase sempre a mesma: fazer sucumbir as mentiras e falso conhecimento, e erguer a dúvida inspiradora de manusear devidamente a realidade objetiva da natureza. Isto faz bastante falta em nossos dias, porque o contingente de embusteiros é absurdamente grande, e, com o aval midiático e político, são potenciais o suficiente para empurrar os céticos ao silêncio.
Enfim, a ciência não perde a sua beleza quando compreendida à luz dos escrúpulos e cuidado bem dosado. Embora muitos a desqualifiquem, como Keats injustamente teria acusado Newton pelo atrevimento de "decompor" a beleza do arco-íris, outros, numa camada "superior", enxergam a soberania da beleza interpretada em sincronia parcimoniosa com nossa busca incansável pela verdade. Não é consequência do método científico afastar os poetas e filósofos da natureza. Por que não uni-los, afinal?
Não vejo depreciação alguma na forma honesta de poetas encontrarem sua inspiração na beleza traduzia pela ciência. Isso torna a realidade ainda mais inebriante, sublime, vívida, única e, sobretudo, misteriosamente imperiosa (ainda que indiferente a todos os seres vivos). Garanto ao leitor: não mais dedicarás teu paladar aos equívocos patéticos de astrólogos, "paranormais", telecinéticos, médiuns, ou qualquer estirpe de degeneração do conhecimento verídico.
Desnudaremos o palco da beleza, eliminando todos os indícios de engodo, graças às orientações respeitosas do autor, que, em notória destreza das palavras, se faz um invejável professor. Não com menos respeito, Richard Dawkins ataca alguns desvios provenientes da má poesia, citando o estimado biólogo Stephen Jay Gould e apresentando erratas acerca das circunstâncias que causaram a ausência de registros fósseis no pré-cambriano. Gould encontra um mistério exagerado nessa questão, e acaba obscurecendo ainda mais o debate, quando devia contribuir para a elucidação, feita, na oportunidade, pelo próprio Dawkins.
O livro consegue ir ainda mais além ao fornecer, sem economias, informações relacionadas ao funcionamento dos padrões de simulação neural construído através de informações captadas pelos nossos sentidos, que são decodificados pela máquina evolutiva em incessante atividade, o cérebro. Nos términos de cada rico capítulo, Dawkins exorta-nos a encarar a maneira bem construída da poesia, quando abastecida pela própria realidade. Não é fantástico?
Presumo não ter visto qualquer empecilho nesse livro que fomente cansaços ao leitor. A escrita é incrivelmente bem ordenada, e flui leve como plumas ao vento. Não há dúvidas de que esta é uma peculiaridade rara, encontrada em poucos encarregados por trazer ao público, de modo seguro, honesto, autocorretivo, os estudos enlaçados à beleza e o encanto da natureza. A vida é acrescida por uma enxurrada de gratificação, mesura e deleite sempre que me recordo do fato inescapável de ser ÚNICA.