Arine-san 14/02/2017Os livros históricos são nosso passaporte para o passado, e eu amo essas viagens para outros tempos. Conhecendo um pouco da A. S. Victorian, eu sabia mais ou menos o que podia esperar de A Governanta, talvez por enxergar semelhanças entre o livro e outros romances históricos. Bem, nesse ponto ela me surpreendeu.
A Governanta conta a história - por vezes, sofrida - da Samantha. Com um pai ausente, mas uma mãe amorosa, acompanhamos parte da infância feliz da menina. No entanto, após a morte quase misteriosa da mãe, a vida da menina muda completamente. E é aqui, talvez, que começa de verdade o livro.
Criada por governantas no maior estilo "madrasta má", e com castigos praticados por seu pai cada vez mais ausente, Samantha amadurece rápido e perde boa parte do que deveria ser uma época feliz em sua vida. Nessa época, mesmo seu vínculo com amigos ganha alguma distância e ela se sente extremamente sozinha.
Talvez por todo esse resgaste à infância da protagonista, A Governanta sai bastante do que normalmente vemos nos romances históricos e me surpreendeu. Senti que o recorte poderia ter sido bem menor do que foi, ou então ser acrescentado à narrativa através de cenas no decorrer do livro, mas não foi algo que me incomodou tanto.
Quando a menina faz, enfim, 18 anos, a história deslancha em casamento arranjado, pai casado e com outro filho, decisões e reencontros. É um ponto realmente marcante não só para a personagem, mas também para a autora, que vai ganhando mais voz na narrativa.
Sempre muito obediente e uma filha exemplar, Samantha resolve fugir do casamento forçado e das garras do pai, cada vez mais cruel. Com a ajuda de amigos, ela parte para a Inglaterra e vai trabalhar como governanta na casa do David Luft. Aqui, a narrativa da A. S. Victorian está em seu melhor momento, fluída e muita gostosa de ler.
A leitura para mim foi bem rápida, sempre numa narrativa de tom simples; ditada tanto pela "voz da escritora", que parece ter encontrado seu jeito de escrever nessa simplicidade, quanto também por sua falta de experiência. Dá para ver como a autora amadureceu com relação ao início do livro, e, por ser seu primeiro livro, é bem claro o quanto ela precisa aprender daqui para frente ainda.
Com relação a isso, talvez o que eu mais tenha sentido falta é de uma aproximação com a Inglaterra daquela época, afinal, este é um romance histórico. O recorte não foi muito bom, e é possível que tenha faltado alguma sintonia entre a autora e a própria época em si.
Falta de pesquisa? Não sei bem. Acho apenas que Victorian não conseguia se imaginar tão bem dentro do universo que escrevia e isso tirou um pouco da experiência do próprio leitor dentro do cenário. Ainda assim, sinto que para um primeiro trabalho no gênero, a Victorian se saiu muito bem!
O destaque está para o romance, que começa com um clichê mas consegue ganhar identidade própria no decorrer das mais de 500 páginas do livro. Aliás, não só isso é um grande feito: o fato do livro ser tão longo, e ainda assim fácil de ler, dá alguns pontos de crédito para a autora, que soube dirigir boa parte da narrativa muito bem.
O romance de estreia da A. S. Victorian merece atenção, talvez, por suas personagens marcantes e humanas. Porém, a edição do livro passou por muitos problemas com relação à edição do texto. Há muitos erros ortográficos e de digitação, marcando principalmente a falta de atenção da editora do livro quando lançou a edição. Uma pena!
No mais, A Governanta é um livro bacana para passar o tempo. O tom da narrativa é ideal para quem quer ler algo em uma única sentada, e as 500 páginas não devem assustar. Não mesmo! Se você gosta de romance, final feliz e aqueles velhos mocinhos durões, se joga na leitura, que provavelmente você vai gostar.
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