Há mundo por vir?

Há mundo por vir? Eduardo Viveiros de Castro




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Be 16/12/2015

O que chamamos de "fim"?
A apresentação de tantas teorias envolvendo o fim do mundo e o que poderia vir depois dele mergulha o leitor em um amplo fluxo de ideias, reflexões e questionamentos desencadeados pelos diferentes pontos de vista abordados no texto sobre essa questão. A sensação, proporcionada pela leitura do ensaio, de ser submetido a um grande número de informações e de novas perspectivas reflete bem um dos conceitos mais sensíveis à nossa sociedade exposto pelo texto: aquele de que o avanço científico acelera o fim do mundo, não apenas por contribuir diretamente com o impacto ambiental que vem sendo causado no planeta, mas também por ser capaz de nos oferecer tantas possibilidades e conhecimentos que nossa percepção do tempo passa a ser outra. Esse é um dos aspectos que evidenciam o quanto a influência humana parece estar acima de todas as coisas e, consequentemente, nos permite perceber a “transformação dos humanos em força geológica”. Vista de uma perspectiva histórica, essa transformação traz uma novidade gritante: nunca antes a Terra havia presenciado um agente geológico dotado de consciência sobre as mudanças que opera. Essa consciência poderia, então, tornar o homem o primeiro agente geológico capaz de frear suas ações sobre o planeta?
É difícil prever o que quer que seja sobre um mundo que passa por mudanças cada vez mais aceleradas. Isso talvez ajude a explicar porque as questões sobre um possível fim costumam ser exploradas principalmente pelo imaginário da cultura, através da arte e da ficção científica. Um olhar mais atento, no entanto, como o que é oferecido pelo ensaio, deixa claro que as narrativas dos filmes têm mais em comum com aquelas dos livros de História do que costumamos reparar. O fim de um mundo já não foi presenciado por sociedades indígenas alguns séculos atrás? A ausência de futuro já não havia chegado com a Revolução Industrial ou mesmo a partir da 2ª Grande Guerra? O fim do mundo se revela cada vez mais uma questão de referência conforme o texto vai iluminando os contrastes que nos levam a pensar em quantos mundos já acabaram se o fim do mundo não é apenas aquela destruição em massa causada pela eventual colisão da Terra com um meteoro, como costumamos imaginar.
Pensar na relação entre Terranos e Humanos é fundamental para entender vários desses contrastes* sociais e ambientais que estão ligados aos fins – e aos começos, já que um conceito está intimamente ligado ao outro. No caso dos Terranos, não importa quanta coisa haja entre o início da voz não-humana e o fim da narrativa de seu mundo, eles são o povo que segue resistindo, o que prova que nem sempre o fim significa a ausência de algo posterior. Se há mundo por vir, seja ele qual for, dependerá de aspectos sócio-político-ambientais, sem excluir ou adiar nenhum dos três termos.


*Por exemplo, “gente de menos com mundo demais e gente demais com mundo de menos”.
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