Bia 13/01/2016Incrível!!!Sou uma leitora apaixonada pela literatura nacional. Quem me acompanha, sabe bem que tenho certa preferência por terror e fantasia.
Baseando-se no cenário de nossa literatura, e considerando os autores contemporâneos, ainda conheço poucos do gênero terror. Em um especial onde eu e outras blogueiras nos juntamos para abordar o tema terror, a Fran, do blog My Queen Side, me apresentou ao autor Marcos R Terci.
Não conhecia seu trabalho, aliás, ainda não havia lido nada a respeito do autor. Tive a missão de entrevistá-lo, e para isso passei a pesquisar sobre. Fiquei completamente encantada, primeiro por tamanha simpatia, e segundo por ler tantos elogios sobre suas obras nas redes sociais e blogosfera.
Claro que fiquei ansiando para ler logo algum de seus livros, e hoje venho resenhar o Tomo I de O Bairro da Cripta – As elegias.
“É sempre fúnebre o Bairro da Cripta.” – Página 10.
Inicio dizendo o quanto a escrita do autor é única. Ele escreve de uma maneira formal, que há tempos não lia. Às vezes, você, leitor, poderá se assustar em ler a frase que há pouco coloquei, mas posso garantir que é uma escrita que não traz estranheza ou desconforto. Muito pelo contrário. Deixa o enredo mais poético e, ouso apontar, mais interessante e saboroso em ser lido. Posso resumir tudo isso dizendo que sua linguagem contribui, e muito, no requisito de prender o leitor.
Na obra, temos vários contos de terror que acontece em Tebraria, cidade interiorana do estado de São Paulo, especificamente no Bairro da Cripta. Este bairro abriga diversas histórias bem bizarras e assustadoras, com personagens de vários tipos: mortos, vivos, corajosos, bonzinhos, psicóticos, apaixonados e até mesmo sobrenaturais.
“Boataria gera lendas, lendas parem heróis. E, mesmo os cemitérios haverão de ter seus heróis.” – Página 22.
Para mim, a forma do livro foi totalmente interessante e inédita. Começamos sem saber muito sobre o bairro em si. Cada conto nos faz conhecermos um pouco mais sobre a “Cripta”; é como se cada página tivesse o poder de nos fazer adentrar mais a fundo no local. E quando demos por conta, nos sentimos um verdadeiro morador que testemunhou cada acontecimento do livro.
“De tanto escrever sobre Tebraria, tanto sabia sobre sua alma que, em seu íntimo, um pedaço da cidade já enxergava.” – Página 126.
Os contos acabam se interligando, as vezes reencontramos algum personagem, ou um local específico. Cada página oferece ao leitor um tipo de, como posso dizer... vício. O conto se inicia, e então temos a necessidade em saber mais sobre o personagem, mais sobre a situação contada e até mesmo mais sobre os mistérios da Cripta. Ao término de cada conto, nenhuma existência de dúvidas, ou aquela sensação de que falta alguma coisa. E você se encontra munido de ansiedade para conhecer mais sobre os relatos daquele lugar, para saber qual história está por vir. E não quer deixar a leitura por nada nem ninguém.
“Estranhos de estranhos gostos eram os leitores do mal afamado Bairro da Cripta.” – Página 128.
Um ponto relevante no livro como um todo é o fato do autor causar surpresa ao leitor com desfechos inimagináveis, deixando-nos mais viciados ainda em sua escrita.
Costumo resenhar livros que trazem vários contos apontando os que mais me agradaram, os que não; os favoritos, e etc. Neste caso, não conseguirei fazer isso.
Não existiu um conto sequer que me desagradou ou gostei menos. É impossível escolher apenas um como favorito.
Posso fazer algumas citações, de contos que mais me chamaram a atenção. Acho até pecado, mas, apenas para não deixar vocês totalmente no vácuo:
O Toureiro foi um conto que considerei muito rico em detalhes da situação como um todo. Temos muitas emoções misturadas no mesmo lugar; e as cenas descritas se tornam muito palpáveis.
O Jardim dos Suicidas posso apontar como o mais tocante. Apesar do terror envolvido, o drama acabou se sobressaindo.
“Tão sofrível foi teu adeus que não quero te acordar. Pela manhã, talvez, acordemos juntos.” - Página 61.
Seis Degraus de Escuridão foi o único que, de início, não me prendeu. Cometi o erro em pensar que este poderia fazer com que eu apontasse algumas imperfeições. Não sei em que momento já estava presa novamente, e ao final, a sensação de encantamento estava em evidência.
Abigail, O Velho Ari, A Noiva da Cripta, O Cronista de Um Tempo Passado... Realmente, é impossível apontar o melhor ou o favorito. Todos me encantaram na mesma medida. Todos se tornaram favoritos.
Terci tem uma forma original de escrever terror. Um autor tão completo que, após ler apenas uma de suas obras, pude enxergar o que levou autores clássicos a serem imortalizados. Sua linguagem, sua graça na escrita, seu dom de provocar encantamento mesmo trazendo temas que remetem ao medo e até tristeza, me fizeram tornar mais uma fã. E acrescento que sua obra tornou-me uma leitora mais rigorosa.
Estou admirada, encantada e orgulhosa em ter tido o prazer em ler essa obra.
Leitores, termino minha resenha dizendo que esse é um daqueles livros que recomendarei enquanto viver (sem exageros). Se você é fã do gênero e/ou um(a) grande apreciador(a) da literatura nacional, não pode deixar de conhecer Marcos. Comecei 2016 muito bem, com a leitura de um dos melhores livros que já li até hoje. Faltam-me palavras para descrever o quanto apreciei esta leitura.
“...algumas vezes, por mero acaso, temos a oportunidade de constatar o quanto as palavras de nossa língua são pobres para descrever algo dessa dimensão.” – Página 11
site:
http://lua-literaria.blogspot.com.br/2016/01/resenha-o-bairro-da-cripta-as-elegias.html