A jornada de Felícia

A jornada de Felícia William Trevor




Resenhas - A Jornada de Felícia


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Ladyce 05/01/2016

O risco é seu
Quando criança levei anos para gostar de "O Patinho Feio", porque não aceitava ver o pobrezinho repudiado pela família; chorei com as maldades da madrasta de João e Maria e com as desventuras relatadas pelo burrico da Condessa de Ségur. Hoje, ainda tenho aversão a maldades, a me familiarizar com os hábitos de monstros humanos. É difícil, então, ler uma obra de ficção em que há dois protagonistas: um assassino em série, tratado com quase benevolência e sua vítima, uma jovem de 17 anos, grávida, tratada com frieza. Nenhum dos dois consegue ter a minha simpatia. E é isso exatamente que Wiliam Trevor deseja, numa narrativa perturbadora. Ter lido "A jornada de Felícia" até o fim é surpreendente e um enorme elogio ao autor.

O suspense psicológico dessa história é controlado. Mas não deixa de ser uma narrativa desconcertante por levar o leitor, a habitar a cabeça de Mr. Hilditch, próximo ao desvelo pelo assassino. Paralelamente, outra surpresa: mesmo depois de conhecer o passado de Felícia, sua inocência, sua inexperiência, o leitor se encontra, assim como o autor, pronto para rejeitá-la. Esse é o poder da narrativa de William Trevor, um mestre, sem dúvida alguma, na arte literária. A jornada de Felícia, no entanto, é um livro desagradável, incômodo que subverte os parâmetros emocionais do leitor.

Felícia e Mr. Hilditch são duas pessoas muito diversas que se encontram por um capricho do acaso. Ela grávida, seduzida por um rapaz de sua pequena cidade que nunca teve a intenção de levá-la a sério. Ele, Joseph Ambrose Hilditch, um homem gordo, com óculos de fundo de garrafa, com um bom temperamento, sólido trabalhador, em um serviço de catering. Os sentimentos mais recônditos de cada um deles aparecem para o leitor numa cadência determinada, sutil e enervante. William Trevor não deixa de mostrar também o lado mais cruel da vida dos que não têm dinheiro, casa ou comida. Com ele o leitor passeia pelo mundo desconhecido e sombrio da rua. À beira do abismo foi o meu sentimento através dessas páginas, 275 delas. Quando? O quê acontecerá? Haverá um golpe final? O desfecho, assim como a obra não tem uma solução clara. Há frustração. Há, como na vida, falta de solução. Não há fada madrinha, não há obra do acaso para redimir a vida desses personagens. Mas talvez, quem sabe, esse seja o único final possível.

Uma narrativa sublime. Escrita com precisão cirúrgica. Difícil de recomendar. O risco é seu.
Fabiana.S 07/01/2016minha estante
Ladyce, tô na fila :)
Parece muito bom!


Ladyce 07/01/2016minha estante
ok.. é seu.


Fabiana.S 04/02/2016minha estante
Ladyce, li em 2 dias... gostei bastante! Principalmente por ser sutil, não ter descrições sórdidas que detesto. E uma frase me marcou bastante: "Todas tem uma história miserável para contar.. elas sempre tem uma"


Ladyce 05/02/2016minha estante
Que bom que você gostou Fabiana! Fico tranquila!




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condadodeyork 29/09/2016

Quando a inocência doi
O ritmo de narrativa é muito interessante, pois alterana momentos de reflexão da personagem, com memória e o que está acontecendo. Tudo isso em um narrador onisciente. Não chega a ser confuso e denso como o Javier Marias em OS ENAMORAMENTOS.
O que ficou mais marcante é a inocência de FELICIA que me fez lembrar a melancolia que sentimos quando livro A HORA DA ESTRELA. Ambas as personagens tem uma ingenuidade sem perspetiva em situação de vida muito precária.
Vale apena ser lido.
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