Zana 25/06/2015
No frigir dos ovos...
Comentários e resenhas positivas elevaram muito as minhas expectativas e o meu desejo de ler “O Príncipe dos Canalhas’. Devo dizer então, que essa circunstância não configura muito recomendável diante do meu senso crítico implacável (chata mesmo, confesso). Assim, comecei a leitura dispondo cinco estrelas para tão elogiada obra, mas como era previsível, todas elas não resistiram até o final. Restaram apenas três delas, o que não deixa de ser um bom conceito no frigir dos ovos.
O “Príncipe dos Canalhas’ faz uma analogia ao conto de fadas “A Bela e a Fera”, resguardando-se os devidos três-pontinhos, é claro. O livro é bem gostoso de ler, prendeu minha atenção de forma tal que acabei o livro em dois dias. Para um livro de época Loretta Chase traz personagens ousados e divertidos. A imperfeição dos caráteres dos personagens é revigorante, os diálogos e embate entre os protagonistas da trama é épico. No entanto, por se tratar de um romântico histórico e não uma fábula, acredito que Loretta Chase errou a mão ao pintar alguns personagens com tintas um tanto quanto carregadas, tanto na parte física, quanto na emocional.
O marquês de Dain, Sebastian Ballister, denominado lorde Belzebu por exemplo, não precisava ser incessantemente descrito como: “uma coisa verde e enrugada com grandes olhos negros, braços e pernas desproporcionais e um nariz grosseiro e exagerado”, “olhos negros e taciturnos sobre um nariz monstruoso em forma de bico”, “mãos monstruosas e morenas” para mais tarde ser tido como: “Dain era grande, moreno, bonito e cheirava a fumaça, vinho, água-de-colônia e homem”.
Tudo bem que a frase exemplificada foi refletida pela mulher que estava apaixonada pelo dito cujo e todos sabemos que ‘quem ama o feio bonito lhe parece’, mas as pinceladas da autora foram tão fortes que tentar vendê-lo mais adiante como bonitão, másculo e sensual ficou um tanto quanto prejudicado. Ela não poderia ter idealizado o personagem de uma maneira mais normal e menos caricata?! Tipo um homenzarrão de nariz grande, feio mas gostoso, feito um Gérard Depardieu jovem, quem sabe?
Pecou ainda no lado intelectual e emocional, não soube ilustrar de forma condizente e embarcou novamente em metáforas aborrecíveis. As conduta de Dain quase sempre pareceu acriançada. Por mais rude que seja, a crueza vulgar com que percebia as mulheres de modo geral também não caiu bem para um protagonista, tendo em vista princípios novelesco do gênero. Bertie, o irmão da mocinha, um homem de capacidade intelectual não muito elevada, ou seja, meio burrinho, estaria dentro de qualquer normalidade, mas nas tintas carregadas da autora ficou demasiadamente parvo, parecendo um “imbecil perturbado”.
Diante dessas minhas implicâncias e considerações não configuro o “Príncipe dos Canalhas’ merecedor de cinco estrelas, nem mesmo designaria o prêmio RITA para Loretta Chase (que por sinal foi conquistado pela autora, seja lá o que isso represente) por essa obra específica. Conceito bom e só!