Israel 03/01/2016
Excelente livro sobre a relação entre cristianismo e política.
A presente obra não é a mais sistematizadora da filosofia política e do direito de Dooyeweed. Na verdade, ela é resultado de duas palestras de Dooyeweerd. Mas ainda assim temos um pouco de sua concepção de Estado e soberania das esferas.
Dooyeweerd começa negando que haja uma ideia verdadeiramente cristã de Estado. Ele diz que mesmo havendo várias visões e movimentos políticos cristãos, não muda o fato de haver, sim, uma ideia genuinamente cristã de Estado, que está baseada nas Escrituras.
Para Dooyeweerd, houveram várias misturas de elementos pagãos grego no cristianismo, em especial no escolasticismo. Essa mistura também se refletiu na filosofia política medieval. O autor critica ferozmente a filosofia política aristotélica a qual ele entende como totalitária. Para Aristóteles, o Estado é a forma mais elevada de comunidade se baseando na natureza racional da humanidade. Todas as demais relações sociais são meramente componentes subordinados que servem ao mais elevado. Essa visão pagã aristotélica se refletiu na filosofia política tomista na relação parte-todo. Segundo Dooyeweerd, essa concepção política fere a soberania das esferas.
Dooyeweerd parte do pressuposto de que os poderes terrenos são instituídos por Deus, assim o Estado não deve ser neutro quanto à religião. Essa suposta neutralidade laicista é denunciada por Dooyeweerd, pois coloca a religião apenas no aspecto privado (liberalismo). Na prática não existe a separação, pois o Estado automaticamente colocará uma religião teórica no lugar, como é no caso do Estado secular moderno. Logo, o Estado sempre irá refletir um ídolo, seja o Deus verdadeiro ou um ídolo teórico. A verdadeeira relação entre religião e Estado é a soberania das esferas.
A concepção de soberania das esferas também é muito interessante. Para Dooyeweerd e para os neocalvinistas, a sociedade possui várias esferas que devem viver em harmonia, mas limitada por sua própria natureza definida por Deus. A Igreja, Estado e família, são esferas diferentes que não devem avançar além de sua natureza. Assim, o Estado não deve engolir a família, nem a Igreja deve engolir o Estado (não confundir com laicismo).