Mascarados

Mascarados Bruno Paes Manso




Resenhas - Mascarados


6 encontrados | exibindo 1 a 6


Naty__ 19/12/2014

Segundo a introdução do livro, seguir uma linha de pensamento de maneira taxativa para entender a vida é um meio de usurpar o direito do outro de ter a sua própria vontade. O objetivo do livro é uma tentativa de desconstruir o mundo que é visto sempre pelo mesmo aspecto. Ou seja, é um meio de evitar que as pessoas sigam sempre um padrão já que isso é considerado um meio de cometer violência.

A obra é dividida em quatro partes. Na primeira, somos conduzidos pela professora de Relações Internacionais, Esther Solano. Ela tem o seu trabalho voltado às pesquisas e, em uma busca desenfreada, visa entender as manifestações e os pensamentos dos integrantes dos Black Blocs. A pesquisa foi realizada no período de agosto de 2013 até a Copa do Mundo de 2014. Solano acompanhou diversas manifestações e ainda teve a oportunidade de conversar com a maioria deles. Ela conta que muitos têm estudo e estes possuem um vasto conhecimento sobre política e diversos ramos. Porém, existem aqueles que participam apenas para ficar na bagunça; todavia, esse número é minoritário.

Bruno Paes Manso toma conta da segunda parte. Ele é formado em economia e em jornalismo e trabalhou por dez anos como repórter no jornal O Estado de São Paulo. O jornalista fala tanto sobre a ascensão quanto sobre a queda do Black Bloc, além de fazer um apanhado sobre as manifestações. A tática usada pelos BB foi um grande precursor para provocar e desestabilizar o governo e as autoridades. Manso deixa isso bem claro em seu trabalho, além de contar como ficou o país durante a Copa do Mundo. As ruas de Fortaleza ficaram repletas de bombas, diversas mortes em Belo Horizonte, fogo no Itamaraty, bem como ondas negras nas ruas do estado do Rio de Janeiro.

“Pouco importa minha posição, porém o conhecimento adquirido ao longo desses meses, esse sim, esse é valioso. Quem são estes jovens? O que significa sua presença nas ruas? Por que utilizam a violência como instrumento de manifestação? Como enxergam o Poder Público? Qual é a relação com a polícia?” (SOLANO, p.18).

Willian Novaes é jornalista e atualmente atua como diretor da Geração Editorial. Seu trabalho foca em mostrar como funcionam as manifestações e como eles agem de modo radical. Eles atuam apenas quando estão com máscaras, sem elas não há batalha, não há luta e nem protesto. A falta de preparo dos Policiais é algo que uma das participantes faz questão de deixar claro ao nosso jornalista e diretor. Eles alegam que quando vê a ação agressiva dos policiais, a alternativa é agir de igual maneira. Novaes declara que muitos deles são estudantes, tem boa formação escolar e moram no centro de São Paulo. Um dos citados é estudante de Direito e foi linha de frente em vários confrontos contra os policiais.

Pode-se observar que essa tática usada pelos Black Blocs está além do que a sociedade chamaria de ignorantes. Muitos têm estudo, são de classe média/alta e sabem muito bem o motivo de estarem agindo daquela forma. Eles enxergam a si próprios como um modelo, uma vanguarda. Para quem não sabe, os BB são descendentes das organizações de “ação direta” que veio à tona na Alemanha e na Itália.

A última parte apresentada consiste em um relato sobre as agressões sofridas pelo Coronel Reynaldo Simões Rossi no dia 25 de outubro de 2013. Não obstante, é feita uma entrevista com ele e podemos nos emocionar com suas palavras.

“As ruas se tornariam o palco de protestos de uma nova geração de insatisfeitos, nascida e crescida em São Paulo, ao mesmo tempo ambientada e saturada pelo caos urbano. Uma geração diferente da minha. Eu faço parte de uma época anterior e por isso me senti muitas vezes incomodado e desafiado quando via essa garotada na rua” (MANSO, p.149).

Na realidade, a obra não é um elogio às táticas dos Black Blocs, tampouco uma crítica. Ela tem como escopo apresentar como as manifestações deles são realizadas. Claro que existem opiniões dentro da obra. Porém, isso não é o que deve ser levado em questão.

Como leitora e observadora desses movimentos, não sou completamente contra as ações deles. Eles agem de maneira agressiva e destroem aquilo que chamamos de ruas, bancos, enfim. Porém, são coisas que nós mesmos pagamos. Quantos políticos agem de maneira fria, nos roubam com a maior cara lisa e sequer fazemos alguma coisa? Muitos invadem as favelas, matam bandidos e até mesmo pessoas inocentes, apenas pelo seu bel-prazer. Os BBs agem com intuito de protestar sobre coisas que estão erradas. Contudo, a sociedade martela nos atos como se eles estivessem matando alguém. Quantos bandidos, criminosos, quantos policiais matam a sangue frio e muitas vezes não repercute dessa maneira? Eles querem que a justiça seja feita, que as desigualdades sejam extintas e querem um melhor país para se viver.

É citado no livro que mais de 50 mil pessoas são mortas todo o ano. Quem é que se atém a esse dado estratosférico? Preferem se ligar a um movimento realizado por 40 jovens. Eles estão destruindo patrimônios públicos, quer sejam eles de uso comum do povo ou de uso especial. No entanto, muitos ceifam vidas, como o caso do serial killer que assassinou mais de 30 mulheres. E o que acontece? Quer dizer que o patrimônio público tem mais valor do que uma vida? O livro quer nos passar isso de um modo mais implícito.

“O que dizer de um rapaz de trinta e três anos, nascido em berço de ouro, dono de seis negócios diferentes, como um restaurante da moda e lojas de sapatos, com investimentos no mercado financeiro, anarquista, de família quatrocentona e adepto da tática Black Bloc? Apenas o calor dos trópicos para explicar tais contradições” (NOVAES, p.211).

Fiquei indignada quando recebi um e-mail da Geração Editorial informando que foi censurada e proibida a venda do livro pelo Metrô de São Paulo e sem motivos plausíveis. A funcionária da equipe de vendas simplesmente alegou que a obra poderia incitar violência. Quer dizer então que livros hots e de terror são liberados para qualquer pessoa comprar? Afinal, um pode atiçar o adolescente a realizar o coito e o terror pode provocar um instinto assassino. Por que não proibir essas veiculações também? Imparcialidade que é bom, nada.

A diagramação é perfeita e a capa também. Notei alguns erros de revisão, mas nada que fosse prejudicial à leitura e interpretação. O trabalho dos três autores e da Geração foi algo incrível e muito bem feito.

O livro é uma obra que desperta a sociedade e nos faz enxergar os Black Blocs sem aqueles estereótipos que a mídia tanto inflama. Indico esse incrível trabalho a todos, independente se você gosta do gênero ou não, adquirir cultura nunca é demais e esse livro tem de sobra. Você vai aprender muito, compreender muita coisa e respeitar, o que é muito difícil de as pessoas fazerem hoje em dia.
comentários(0)comente



Igor13 22/06/2023

Legal as entrevistas, mas falta conteúdo
O livro se propôs a trazer a voz dos que protestam no Black Blocs. Legal. Isso é necessário e o fez.

A questão é que mesmo fazendo isso, acho que trará pouquíssimos para o lado deles. A agenda deles é anarquia contra o governo. O problema é que se o projeto deles fosse executado, haveria uma tragédia humana sem precedentes no Brasil, a se destacar: fome em massa. Sim, pra quem entende minimamente como funciona o sistema agrícola e a distribuição de alimentos, há uma mega estrutura do governo e grupos empresárias ligados à equipamentos, sementes, produtos agrícolas, logística, processamento, armazenamento e etc. O financiamento é gigantesco. Finanças públicas na veia com subsídios federais. Bilhões. Sem isso, não há comida para todos. 200 milhões de habitantes não estão nem perto de se alimentarem. Mas o jovens revoltados não sabem disso. O sistema é perfeito? Nada é perfeito. Só Deus, na sua lógica, peculiar, é que pode ser para quem acredita. O resto é um arranjo possível e imperfeito.

Concordo que a violência no Brasil é absurda. Somos um povo bem acostumado a isso. Não nos choca. Sempre foi assim. As Américas possuem uma história de violência anterior à chegada dos europeus e que só piorou com a exploração em massa e busca desenfreada por riquezas. Nada de novo.

Porém, destruir o sistema que funciona, mesmo que corrupto, não é a solução, só levaria a um desastre humano em vários aspectos. Aliás, um 'herói' nesse sentido foi Che Guevara. Pode ter tido os discursos mais lindos do mundo (até acho que bem intencionados), mas com as propostas práticas menos viáveis da história desse continente.

Enfim, o livro não convenceu. Desculpe.
comentários(0)comente



Dude 03/12/2021

Black Blocs
Excelente trabalho de pesquisa. O livro realmente surpreende ao analisar um dos momentos mais importantes da última década. Recorte histórico que será estudado durante anos a fio.
comentários(0)comente



Vinicius.Ferreira 25/10/2022

Pontos de vistas
O livro é um compilado de experiências. Há diversos trechos de entrevistas dos autores com manifestantes, com estes expondo suas verdades e questões.
Existem divergências nas explicações dos próprios adeptos a tática black block da mesma, porém há uma mais aceita entre eles, a qual é sempre citada ao longo do livro.
Uma tática aplicada em diversas manifestações em todo o planeta, com diferentes fins, baseada no anarquismo alemão e evoluída diante de análise da própria tática pelo anarquismo norte americano.
comentários(0)comente



Julia.Rodrigues 16/06/2023

Vitrines valem mais do que pessoas
O livro traz várias entrevistas com os protagonistas da greve de 2013 onde surge de um lado ativistas do movimento Black bloc e em outro a PM. O Posfácio é muito mais esclarecedor teoricamente do que significa ,de fato o movimento BB. As antigas manifestações estadunidenses que usavam da resistência passiva e desobediência civil não violenta de Gandhi e Martin Luther King já não surtiam mais efeito. Não existia e ainda não existe uma imprensa livre que alimentasse uma opinião pública liberal,por isso não fazia sentido essa tática não violenta. A mídia dificilmente vai cobrir um ato se dele não for gerada violência ou algo que instigue os telespectadores,como pão e circ,só que nessa tática de desobediência não violenta muitos ativistas são mortos,agredidos e a imprensa nada cobre sobre isso. Tem uma citação nesse Posfácio de George Orwell em que ele diz que,seguindo essa lógica não violenta de Gandhi,os judeus deveriam ter cometido suicídio coletivo para gerar uma comoção e despertar uma consciência alemã,mas sabemos que não é assim.Gandhi não entendeu a natureza do totalitarismo. Por tanto,a violência usada pelos membros do BB é simbólica,para primeiro chamar a atenção dessa mídia e depois para simbolizar o rom
pimento com políticas neoliberais e instruções privadas,até porque o governo e essas empresas como bancos,não são tão afetadas assim com essas destruições e nada desperta mais a atenção do que depredar a propriedade privada protegida pelo sistema jurídico. Vale salientar também que esses ativistas não atacavam pessoas e sim coisas. A verdadeira violência é,portanto,"aquela que agride manifestantes pacíficos e faz desaparecer Amarildos. Afinal,vidas devem valer mais do que vidraças".
comentários(0)comente



Maria Eliete 18/09/2019

Uma visão que até então não havia parado para observar. É contundente. Faz pensar, refletir.
comentários(0)comente



6 encontrados | exibindo 1 a 6


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR