Flávia Menezes 11/03/2023
DIGAM O QUE QUISER, MAS SER 2 É MUITO MELHOR DO QUE SER 1.
?O paraíso são os outros?, de Valter Hugo Lemos, mais conhecido por seu nome artístico do multi talentoso escritor, editor, artista plástico, apresentador de televisão e cantor, Valter Hugo Mãe, é um verdadeiro convite para deixarmos nossos medos de lado, e pensarmos sobre a beleza e grandiosidade de sermos dois.
Pelos olhos de uma menina, Valter vai nos encantando com sua escrita poética, falando da importância de ser dois, ao invés de um, com uma delicadeza tocante e contagiante. Uma menina curiosa em descobrir o porquê de a avó ter lhe ensinado tão importante realidade humana, e tentar entender como essa dança de aproximação acontece e se estabelece.
O escritor o faz de maneira brilhante, e mesmo com os seus desenhos infantilizados, esse é um livro que só falha por ser tão curto, porque eu passaria horas e mais horas lendo essa forma tão delicada e bela de falar sobre o fato de que não nascemos para ser uma ilha, e que ninguém deve caminhar por esse mundo sozinho.
E não é verdade que o paraíso são os outros? Eu, na minha humildade de ser apenas um serzinho qualquer nessa vida, te afirmo que é sim! Entre dificuldades, e muitos defeitos, somos pessoas repletas de falhas que tornam a vida do outro realmente significativa. Existimos porque o Outro nos dá a oportunidade de existir. Eu ainda não assisti ao novo filme ?Avatar?, mas a base do que eles trazem do ?eu vejo você? é uma base da fenomenologia que traz a relevância do Outro na nossa vida.
Em uma Era onde a individualidade é tão evidenciada, a verdade é que vivemos vidas vazias cada vez mais infelizes pelo medo de nos mostrarmos como somos. De vivermos o ?Eu vejo você?, que não é algo romântico, mas uma necessidade existencial, do ser aceito como somos, com nossas qualidades e muitos defeitos, encontrando assim um lugar (pessoa) onde podemos sentir que pertencemos. Para além de todos os medos e da vaidade humana, encontrarmos nosso porto seguro.
E é exatamente com esse encantamento que esse livro é escrito. Através da pureza do olhar da criança que olha com muito respeito para o poder do ser 2 ao invés de 1. E nisso Valter é um verdadeiro mestre, porque ele tem uma escrita leve que fascina com muita facilidade, e sendo um livro tão curto, quando você vê... já acabou. O que até é uma pena. Porque ficamos sedentos por mais. Mais poesia. Mais amor. Mais partilha. Mais companheirismo. Mas não é disso que o nosso mundo carece? Viu? Valter é mestre na arte de falar das emoções com a suavidade que não nos faz julgar, mas compreender na raiz daquilo que ele nos mostra, e quer saber? Não é que ele nos faz sentir cada uma de suas palavras?
Esse foi um ano de descoberta desse autor, e eu quero me aventurar nele mais e mais. E por isso, eu aproveito aqui para deixar um trecho desse livro, só para dar aquele gostinho do que é esse homem tão excepcionalmente impressionante, chamado Valter Hugo Mãe:
?O inferno não são os outros, pequena Halia. Eles são o paraíso, porque um homem sozinho é apenas um animal. A humanidade começa nos que te rodeiam, e não exatamente em ti. Ser-se pessoa implica a tua mãe, as nossas pessoas, um desconhecido ou a sua expectativa. Sem ninguém no presente nem no futuro, o indivíduo pensa tão sem razão quanto pensam os peixes. Dura pelo engenho que tiver e perece como um atributo indiferenciado do planeta. Perece como uma coisa qualquer?.