Luci_books 04/03/2024
A trama se inicia com o retrato de uma adolescente que encara alguns dias sem dormir, mergulhando numa tortura física e mental. Acompanhamos o declínio, a perda de peso, a desconexão com o mundo ao seu redor. No entanto, um dia ela finalmente sucumbe ao sono, e magicamente, tudo se resolve.
Os capítulos seguintes nos lançam na vida adulta dela, já casada e com um filho pequeno. Uma existência comum, uma rotina previsível. Até que um sonho vívido a desperta e, desde então, ela não dorme mais. Surpreendentemente, ao contrário da primeira vez, ela está mais viva, mais cheia de energia.
Conforme a trama desenrola, somos levados a refletir junto com a protagonista. Dezessete dias sem dormir, e ninguém nota. Ninguém percebe a diferença. Ela segue a vida como uma máquina, cumprindo suas obrigações, enquanto se pergunta quando os dias começaram a se tornar indistinguíveis. Um trecho marcante do livro expressa isso perfeitamente: "Eu escrevia um diário, mas se eu me esquecesse de escrevê-lo por dois ou três dias, já não conseguia diferenciar um dia do outro. Trocar o ontem pelo anteontem não fazia diferença alguma." (p.28)
Neste livro, Murakami não dá nome à protagonista, o que me remete muito às obras de Dostoiévski, onde o nome não possui grande relevância.O fulcro desse protagonista reside na sua vivência, na maneira como ele experimenta a própria existência, nas relações com as pessoas ao seu redor e na interação com o mundo que o cerca. O desfecho, marcado por sua natureza perturbadora, me coloca diante de um dilema peculiar. Sou desafiada pelos finais abertos, minha mente constantemente indagando: "E agora? O que aconteceu?" As inúmeras possibilidades que permeiam essa narrativa, assim como em outras obras, garantem que este livro permanecerá comigo, alimentando minha reflexão por um bom tempo.