erbook 09/09/2020
A importância de enxergar sob outra perspectiva!
“Os que estão dispostos a mudar, os que têm a força para mudar, sempre serão vistos como traidores pelos que não são capazes de qualquer mudança...”. “Abraham Lincoln, o libertador de escravos, foi chamado de traidor pelos adversários. Os oficiais alemães que tentaram matar Hitler foram fuzilados como traidores. Na história de vez em quando surgem pessoas corajosas que estão à frente de seu tempo e por isso são chamadas de traidoras ou exóticas”
Com esse conceito de traição, Amós Oz nos brinda com este romance magistral, mesclando personagens fictícios e históricos, como o polêmico Primeiro-Ministro fundador do Estado de Israel, Ben Gurion.
O enredo se passa em Jerusalém, entre 1959 e 1960, onde o estudante Shumel Asch, após a falência do pai e o fim do relacionamento com a namorada, decide se isolar numa casa distante, onde consegue emprego para cuidar do idoso Guershom Wald.
Nesse novo emprego, onde recebe pouco e dorme no sótão da casa, convive e se apaixona por Atalia, a misteriosa e sensual nora do comunicativo e inválido idoso. Sem recursos e desanimado com a vida, abandona os estudos na universidade onde pesquisava escritos históricos sobre a visão dos judeus acerca de Jesus Cristo.
Amós Oz, de forma brilhante, mostra os meandros políticos da criação do Estado de Israel, incluindo os movimentos sionistas e os antissionistas, bem como as notícias da época acerca das reuniões ocorridas na Organização das Nações Unidas (ONU), após o fim da segunda guerra mundial.
Por outro lado, o escritor, amparado em livros históricos, aborda tanto a visão que muitos judeus têm de Jesus Cristo, como a que muitos cristãos têm dos judeus. O personagem Shumel Asch sustenta inusitada tese a respeito de Judas Iscariotes, que deixarei na curiosidade de vocês para não dar “spoiler”.
Por meio deste romance, Oz produz ensaio crítico sobre o fim dos estados nacionais, os quais teriam suas barreiras extintas para a criação de comunidades globais, nas quais pessoas de diferentes línguas e culturas conviveriam no mesmo local.
Amós Oz faz o seguinte questionamento: e se judeus e árabes tivessem entrado em acordo em relação à criação do Estado de Israel em 1948, no pós-guerra? Oz deixa essa pergunta no ar, mas, nas entrelinhas, externa seu ponto de vista idealista e pacifista, no qual muitas vidas teriam sido poupadas.
Na vida real, por ser pacifista, Amós Oz (nascido em Jerusalém) foi visto por muitos compatriotas como traidor da causa sionista (movimento judeu que buscava a criação de um Estado independente no final do século XIX) – o que reflete bastante em sua obra.
Este livro é sensacional e instiga profundas reflexões!