TIna Vizentin 08/11/2016
Um dos piores que já li
Os fãs que me perdoem! (até me surpreendi pelo livro ter fãs).
É ruim de doer. A ideia é boa, mas pessimamente desenvolvido. Vou por abaixo alguns trechos da resenha que escrevi na época que o li:
A narrativa não é nem um pouco cativante. O texto não tem charme nenhum, não é do tipo que te prende por horas a fio. É chato, é excessivamente didático e metódico, é pedante. Parece que todos os personagens estão fazendo discursos elaborados o tempo todo (inclusive os adolescentes) e o autor também faz muito discurso moral ao longo da narrativa em si. Há muito vício de escrita. Não no sentido de erros do uso da norma culta, mas no sentido de repetições constantes das mesmas palavras e expressões. O mais grave (e mais irritante) pra mim, é o excesso do uso do sufixo "íssimo": os crimes sempre são gravíssimos, o rei sempre está preocupadíssimo, o príncipe ficou magoadíssimo, os soldados são fortíssimos, a namorada é lindíssima, a paisagem é belíssima, os impostos são caríssimos, fulano ficou abaladíssimo e assim por diante... Não se passa UMA página sem que essas palavras com superlativos apareçam ao menos uma vez.
O mundo criado pelo autor é uma mistura de futurismo pós-apocalíptico distópico com retrocesso tecnológico extremo (ao ponto de não ter nem carro, eletricidade ou telefone fixo) e social (usando como referência Roma constantemente). O problema é que esse mundo não é nem um pouco convincente, coerente, plausível, não possui nenhuma verossimilhança. É tudo esquisito, forçado demais... Sem contar que ele usa ao longo do texto frequentemente palavras e expressões que soam alienígenas à esse tipo de obra (fantasia, aventura, distopia) e à sociedade que ele descreve. Por exemplo: "habilidades socioemocionais" e "máquina estatal". E ficam pior ainda na boca de personagens adolescentes com falas ultra-rebuscadas.
Os nomes dos personagens masculinos, de todos exceto o rei Apolo, terminam em "us", no que me pareceu uma tentativa tosca de usar nomes que soem derivados do latim, nomes forçadamente romanizados. Um ou outro, não teria problema. Mas TODOS? O engraçado é que os poucos nomes femininos que aparecem não tem nenhuma co-relação desse tipo (Ellen, Bianca, Nátila). Muitos dos nomes são ridículos e me deram muita vergonha alheia pela falta de criatividade ao tentar associá-los à personalidade do indivíduo. Exemplos: Terrívius (realmente, é um nome Terrível), Demétrius, Sanus, Laurus, Lexus, Sarantus, Superius, Brutus, Piradus, Malthus, Cômodus, Instinctus, etc... sem contar o nome do próprio império: Cosmus.
Quase não há descrições físicas, de pessoas ou lugares, além do estritamente necessário. Não tem nenhum mapa, de modo que não dá pra saber onde os personagens estão, em que direção estão indo, onde ficam os lugares citados. O autor não faz a menor ideia de como descrever uma jornada, uma campanha, uma batalha ou até mesmo uma luta corpo a corpo. E - o grande problema do livro - é que ele acha que pode substituir essas descrições ESSENCIAIS em uma obra de Fantasia com verborragia exclusiva da sua área de atuação profissional, ou seja, a psicologia, colocada de tal forma que soa como psicologia das mais baratas. Cheio de discursos, frases feitas de grandes autores do passado e muito, mas muuuuito clichê comportamental.
PERSONAGENS BIDIMENSIONAIS
O mestre sábio, guia intelectual e espiritual de Petrus, Malthus, é... adivinha? Surprise, surprise! De descendência asiática, muito velho e de barba branca (mas consegue lutar com maestria mesmo sendo muito velho).
A namorada, Nátila, é uma típica donzela endeusada e, no final, bem... digamos que o autor achou que tinha feito uma grande reviravolta.
O personagem principal, príncipe Petrus, parece um mocinho de novela antiga. É desprezado, desacreditado e desqualificado dentro do seu mundo, mas é colocado no mais alto pedestal pelo autor, fazendo-o parecer a perfeição em pessoa rodeado de um bando de pessoas que ou são acéfalas ou são necessariamente ruins, corruptas, orgulhosas e maliciosas (e totalmente clichêrizadas). Nem preciso dizer que ele é O Escolhido (*revira os olhos*).
O romance entre Petrus e Nátila é muito, muito, muuuiiiito forçado e piegas. Também não me convence nem um pouco!
A história só começa a andar, de fato, depois da metade. Ou seja, você precisa encarar mais de 150 páginas de puro blá blá blá (o livro tem 290 no total). Daí, por algumas páginas, parece que a coisa vai começar a melhorar, a ficar minimamente interessante e então despenca a qualidade vertiginosamente. O autor simplesmente NÃO sabe escrever narrativa, muito menos narrativa fantástica.
O texto dele simplesmente não flui. Mas o pior de tudo é que é um texto claramente doutrinador, inclusive no sentido religioso. Chega a ser ultrajante, porque você sente que o autor pensa que o leitor é burro demais pra notar que ele usou uma história fantasiosa (só para aproveitar a moda) para te fazer engolir suas ideias na marra.
Sinceramente, de coração, eu entendi a mensagem que o autor quis passar - a crítica social -, mas ele demonstrou uma enorme falta de habilidade para escrever narrativa YA e fantástica. Existem meios, técnicas de passar uma mensagem crítica e importante sem esfregá-la na cara do leitor a cada página e deixando todo o resto de lado. Ao tentar passar profundidade acabou sendo justamente superficial. Ele não consegue cativar, chamar a atenção do leitor, fazê-lo mergulhar naquele mundo e querer se aprofundar nele.
Eu até gosto de diálogos longos, complexos, filosóficos, explicativos... mas eles precisam ser bem desenvolvidos. E esse definitivamente não é o caso de Petrus Logus.
Com certeza absoluta, NÃO RECOMENDO!
A única coisa boa que consigo enxergar nele é que é um manual do que NÃO fazer ao escrever um livro de Fantasia YA.
site: http://pereus.blogspot.com.br/2015/05/abf-petrus-logus-o-guardiao-do-tempo.html