Sâmella Raissa 22/05/2016Resenha exclusiva para o blog SammySacional
Quem já acompanha o blog há algum tempo certamente deve ter percebido que são poucos os livros do gênero sobrenatural apresentados por aqui, envolvendo vampiros, lobisomens, bruxas e afins. O livro que estarei apresentando hoje, porém, foge um pouco à essa regra uma vez que se caracteriza não como simplesmente sobrenatural, mas principalmente como uma fantasia pra lá de inusitada e divertida protagonizada por duas personagens que não poderiam ser mais distintas entre si, uma bruxa e uma princesa, através de uma alternância entre pontos de vista durante a narração, escrito a quatro mãos pelas autoras Lhaisa Andria e Paula Vendramini, permitindo ao leitor conhecer a fundo seus personagens e envolver-se com eles aos poucos no decorrer da leitura.
Dividido em duas partes, começamos na primeira com a narração de Majori, uma jovem aprendiz de bruxa cujo treinamento foi concluído, por mais que ela realmente não tenha muito sucesso com poções e feitiços em geral. Acostumada com a tranquilidade com que leva sua vida na floresta dos Sem-Volta, de repente vê essa calmaria sendo ameaçada pela chegada do príncipe do Reino do Sol, sob o pretexto de casar-se com Yuria, princesa do Reino da Chuva. Na tentativa de evitar que isso aconteça, ela planeja, através da única poção com a qual ela tivera sucesso na vida, trocar de lugar com a princesa e acabar com as chances do casamento ocorrer. Yuria, por sua vez, aceita prontamente participar do plano da jovem bruxa e enquanto ela se passa por ela no castelo real, a princesa tem a chance de viver uma vida de liberdade por entre os Sem-Volta, como sempre quis.
Mas esse plano acaba indo, aos poucos, por água abaixo à medida que Majori, no papel de Yuria, é forçada a aproximar-se do príncipe Leonidas e vai descobrindo, aos poucos, que ele não é quem ela imaginava ser de tão estraga-prazeres. Ao mesmo tempo, Yuria se vê apegando-se mais do que o esperado à vida na floresta, e quando o prazo da poção chega ao fim, o encontro inesperado entre esse trio de personagens acabará por gerar terríveis consequências com as quais todos do reino, dentro e fora dele, contavam já estar a salvos, e dos quais os próprios jovens desconheciam.
“Lembrava-me muito bem de como tinha sido a sensação de alívio dezesseis anos atrás, quando pensei que tudo chegara a um fim. Se eu soubesse que era apenas um respiro antes de uma tempestade maior... teria feito a mesma escolha?”
O livro que estreia a parceria de escrita entre duas das minhas escritoras favoritas, já por suas series célebres como Almakia e Devoy, é uma pedida mais do que recomendada para um bom leitor de fantasia e sobrenatural, com um tom mais divertido e infanto-juvenil que os demais, mas não menos bem construído e com personagens cujas personalidades são bem definidas e possuem harmonia entre si mesmo com tantas distinções. Desde Majori, com seu jeito meio irritadiço e ranzinza, toda certinha e organizada quanto às suas coisas e planos, até Yuria com seu jeito estabanado e tempestuoso de ser depois de tantos anos reclusa em um castelo, são duas protagonistas que, cada uma a seu modo, conquistam o leitor de uma forma única, mesmo por entre os momentos em que queremos, sim, gritar com elas por alguma atitude equivocada. Leonidas da mesma forma, com sua personalidade meiga e gentil, um tanto quanto típica de um príncipe, mas ainda com alguns bons acessos de coragem e ousadia que me fizeram gostar ainda mais dele.
E é com essa distinção de personalidades que, mesmo assim, os três conseguem se unir e, com um pouco mais de força, lutar contra a bruxa que libertaram por engano, reascendendo conflitos passados que todos pensavam terem sido resolvidos, mas com o único porém da inesperada união dos três que ninguém esperava que pudesse acontecer algum dia. É a partir daí que adentramos à segunda parte da narrativa, que se alterna tanto entre a narração da Majori e da Yuria, como de outros personagens com certo peso na história, como a bruxa que treinara Majori, a Buri, o próprio Leonidas, e eventuais intromissões de outros personagens mais diversos do enredo. Nesse ponto, talvez o único ponto negativo da história tenha sido apenas a lentidão com que a leitura transcorreu em alguns momentos justamente por mudar tanto os pontos de vistas e causar uma certa quebra no ritmo do que foi lido no capítulo anterior ao mudar para o seguinte, mas mesmo isso é compreensível e, na verdade, até necessário, pois realmente não vejo como existente qualquer possibilidade de o livro ser narrado em únicos dois pontos de vista e pronto, então mesmo com a vagareza com que seguiu boa parte da leitura, ainda assim foi muito boa.
Principalmente ao chegar aos últimos seis capítulos os quais eu devorei um atrás do outro sem conseguir pausar a leitura nem por um momento, de tão envolvida que estava e ansiosa para saber como seria o desfecho. Assim, foi quase como compensar a lentidão de outrora, ao assumir um tom ainda mais urgente de leitura, com uma fluidez tão boa que fiquei, por fim, visivelmente desolada ao chegar no último capítulo. O bônus do romance também está presente, ainda que sem tanto enfoque, começando de uma forma mais leve e visivelmente mais natural e coerente, de que muito gostei e com o qual muito me envolvi. Assim, a seu modo, Princess Vs. Witch é uma história que sabe ser autêntica, mas ainda preservar aquele toque gostoso e envolvente natural da fantasia, com uma pegada mais divertida e leve, ainda que por entre as tensões eventuais da trama, que promete mais livros por vir, e pelos quais já espero ansiosamente, portanto leitura mais do que recomendada!
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