Dez centímetros acima do chão

Dez centímetros acima do chão Flavio Cafiero




Resenhas - Dez centímetros acima do chão


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Gustavo Simas 28/10/2022

Contos que experimentam a linguagem
Flávio Cafiero experimenta recursos de linguagem, com escrita em primeira, segunda e terceira pessoa, com notas de rodapé que se complementam e que trazem vozes de personagens, com uma composição não-linear dos fatos. Parte disso já era observado no seu primeiro romance, O Frio aqui fora, e se estende em Dez centímetros acima do chão.

Os primeiros contos (em especial o de abertura) me foram os mais marcantes, com ritmo consistente e trânsito por caminhos inesperados. Contudo, com o avanço da jornada, as coisas foram diminuindo de empolgação e se tornando emaranhadas, numa inventividade confusa e, em muitos momentos, com a sensação de insistência em criar rota de fuga em becos sem saída. Talvez alguns contos mereçam segunda chance para uma releitura.

No geral é uma experiência interessante a quem queira conhecer novos autores brasileiros e suas técnicas de escrita criativa.
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mimi0 13/03/2022

Me decepcionei
Os primeiros contos prenderam muito minha atenção mas depois foi ficando cansativo e chato de ler, ainda assim eu recomendo. Não é o tipo de livro que muita gente vai gostar mas tem contos bons que podem acabar valendo a pena.
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Luiza.Andrade 03/06/2021

Contos
Uma interessante coletânea de contos. Um pouco obscuros, com contextos complementares nos rodapés, sendo parte do texto.
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Jefferson Vianna 19/08/2019

Um livro (regular) sobre o que não está dito...
“Dez centímetros acima do chão” é um livro composto por 14 contos, alguns interessantes e outros por vezes confusos e “sem sentido”. Ao iniciar a leitura, os primeiros contos logo despertaram a minha curiosidade, a narrativa do autor prendeu a minha atenção e pude perceber que se tratava de um livro diferente e inovador. Porém, num dado momento da narrativa, eu senti que a leitura estava se tornando arrastada e cansativa, apesar dos contos apresentarem originalidade e mistério, eu não consegui me sintonizar com a escrita do autor. O próprio Flavio Cafiero apresenta-nos o livro como sendo algo enigmático, ao dizer que: “é um livro sobre o que não está dito, cada um dos contos convida o leitor a pensar em seus próprios subtextos”.
Jorge 19/08/2019minha estante
Esse é um mal que livros de contos têm. Principalmente os escritos pelo mesmo escritor. Existem contos excelentes, outros repetitivos e isso torna a leitura cansativa. Chega ser difícil até para avaliar um livro de contos porque é um misto de sensações. Boas e ruins


Jefferson Vianna 20/08/2019minha estante
Sim, exatamente! Eu costumo avaliar cada conto separadamente, depois somo as pontuações e tiro uma média. Eu gosto de livros de contos, alguns são muito bem escritos, no entanto este não supriu as minhas expectativas... Acontece!




Sandro 20/02/2017

É a terceira vez que dou uma chance para livro de contos. Talvez seja falta de sorte, a cada 10 contos, 2 me chamam atenção. No geral, acho que valeu apena, paguei menos de 5 reais na promoção da amazon
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Marker 10/01/2017

#2
Os contos do Flavio são bem da vibe que eu gosto: urbanos, algo amargos, violentos, mas sem deleitar-se com essa condição. São olhadelas em algo que está acontecendo no apartamento ao lado ou na próxima esquina, e que, talvez nunca soubéssemos, era o ponto de mudança na vida de alguém, bem ou mal.
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IvaldoRocha 09/05/2016

É inegável a qualidade literária do livro, mas não creio que seja para todos os gostos.
Narrativas, aparentemente sobre assuntos triviais, surpreendem tanto pelo que contam como pelo que deixam de contar, o que fica sugerido, o que fica para ser adivinhado.
Os contos repletos de subtextos, que não são apenas notas de rodapé, pois acabam sendo o palanque dos personagens que se justificam e acabam que contando a verdadeira história.
Apesar de tratarem de assuntos tão diferentes, os contos apresentam uma certa uniformidade, mas talvez, alguns se mostram um tanto indigestos, para boa parte dos leitores como Cavo Varo.
Embora inovador e a princípio acrescentando alguma coisa à maneira de contar a história, em alguns momentos se torna um pouco chato e cansativo.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 14/12/2015

Flavio Cafiero - Dez Centímetros acima do chão
160 páginas - Editora Cosac Naify - Lançamento 2014.

Um dos vencedores do Prêmio Jabuti 2015, este livro reúne 14 contos escritos entre 2009 e 2013, todos inspirados no cotidiano da classe média em um ambiente urbano. O termo "escrita criativa" está um pouco desgastado na literatura contemporânea, mas define bem o esforço de Flavio Cafiero para não subestimar a inteligência do leitor na busca da surpresa, seja pela estrutura narrativa incomum ou pela originalidade dos temas. No entanto, é bom avisar que o cuidado na produção dos textos exige atenção redobrada do leitor, principalmente pelo que não é explicitado pelo autor, mas apenas sugerido nas ações dos personagens (assim como na vida real, precisamos avaliar e tomar decisões de acordo com a intuição e o conhecimento parcial dos fatos).

Até mesmo as notas de rodapé assumem uma função original, diferente em cada conto, servindo como mais um elemento de apoio para esclarecer ou complementar a trama. O próprio Cafiero explica a técnica: "geralmente os rodapés acrescentam informações que, de certa forma, são dispensáveis para a compreensão do texto. Quis que fosse o contrário, que o rodapé modificasse totalmente o sentido da história, acrescentando camadas até mesmo discordantes (...) São experiências, brincadeiras. Mas os rodapés são partes inseparáveis dos contos. Lê-los com displicência, como fazemos geralmente com as notas, é exatamente a armadilha. Quem cai na armadilha, perde o conto". Realmente, não podemos ser displiscentes ao ler os textos de Cafiero, cada detalhe é parte integrante desta sequência de pequenos detonadores que antecedem a explosão final de todo bom conto.

Em "O atirador de facas" o reencontro de dois antigos amigos, para a preparação de um jantar, encobre um deliberado plano de vingança. Aos poucos as intenções criminosas do narrador se tornam mais claras na medida em que ele deixa extravasar todo o seu ressentimento e frustração pela falta de coragem do antigo parceiro em assumir a relação homossexual, o leitor vai compartilhando os mecanismos de sua mente transtornada. Aqui as notas de rodapé funcionam como um guia para o leitor, explicando a situação do presente em função de uma viagem que ambos fizeram juntos no passado, uma viagem que o parceiro se recusa a lembrar e aceitar e poderá pagar um preço caro por isso.

"Não acho seguro você me segurar pelos ombros enquanto tenho uma faca na mão. Então eu largo a faca, me viro e pergunto: você lembra do quadro, não lembra? E eu não espero você fingir que não lembra, eu disparo até o corredor e carrego o quadro para a cozinha, eu quero ver os seus olhos diante do quadro. Coloco você de frente pro quadro e aperto a moldura, torcendo, e apertei, apertei, e eu sei que você lembrou daquele quadro, daqueles dias, daquela noite. E o cozinheiro invisível diz: quadro bonito, onde é? Um silêncio. O chiado da panela de pressão, a frigideira no fogo, esperando as cebolas, esperando, esperando. Nada. Nem uma piscada. Nada. Não piscou. Nada, não é nada. Este quadro não é nada, eu digo. Eu acho que confundi. E mais silêncio. Você não está confortável. Eu vi a emoção na boca, pronta pra ser dita, o quadro no fundo dos seus olhos." - 'O atirador de facas' (págs. 25 e 26)

O estilo de Rubem Fonseca está presente no (muito) brutal "Cavo varo" uma descrição de um ato de necrofilia, novamente no campo homossexual, onde um médico se confronta consigo mesmo de uma forma esquizofrênica (o contraponto é feito pelas notas de rodapé), toda a cena descrita em um necrotério e alternando entre primeira e segunda pessoas, uma fórmula difícil de funcionar para manter a tensão do conto até o final, principalmente quando o narrador é a própria consciência do protagonista.

"Geladinho, o Gabriel, e sem os odores sulfurosos, diligentemente higienizado, alguém se esmerou no serviço, apenas esse eflúvio de álcool, agradável, soltando dos poros à medida que o velho investe, epiderme mansa, firme, imberbe, os pelos do velho patinando sem obstáculos, ô coisa boa, laterorrinia suave, de perto nem se nota, tem que recuar o pescoço pra perceber, lóbulo auricular bem colado ao rosto, gene recessivo, imagina só, imagina, um gene exclusivo pra determinar o jeitão da orelha. Quando a questão é lóbulo você prefere os dominantes, diga aí: mais fácil de morder." - 'Cavo varo' (págs. 69 e 70)

Em "Dez centímetros acima do chão", conto que empresta o título ao livro, mais um tema forte bem desenvolvido pelo autor com originalidade, um adolescente conversa com seu cão sobre os seus planos futuros e pelas pistas deixadas no texto deduzimos que os pais não conseguem se fazer presentes na vida do infeliz protagonista, fato que já provocou duas tentativas de suicídio anteriores. Um final de mestre, daqueles que conseguem pegar o leitor de surpresa (como é boa essa sensação).

"Você entende, amigo, o que estou dizendo? Todo mundo, agora, tem medo de mim. Eu vou dar bom dia à empregada e dizer que vou mais cedo pra escola porque preciso passar na biblioteca. Ela vai perguntar se quero almoçar antes, e vou dizer que não precisa, que só vou tomar um copo de leite, que vou comer um hambúrguer no trailer em frente à escola. Sei que ela vai querer chamar o pai no trabalho, vai interromper os versinhos que ele escreve enquanto finge digitar uns relatórios, e meus pés doem só de pensar. Nessa hora, antes de pisar na cozinha, vou me despedir da sala. As janelas fechadas (a mãe diz que entra muito pó), os quadros com moldura ressecada, todos tortos por causa da parede que está sempre trepidando (a mãe diz que não se fazem mais casas decentes), e as poltronas, e a mesa de centro cheia de bugigangas. A casa é tão apertada, você não acha? Eu cresci, ela foi apertando, meu coração não cabe (e isso é poesia). Acho que minha mãe comprou muita coisa para ocupar os espaços, pra tentar mudar o que, no fundo, sempre continuou igual, pelo menos pra mim, só que menor, mais apertado, você está entendendo?" - 'Dez centímetros acima do chão' (págs. 85 e 86)

Já em "Orcas", o autor passa a narrativa em primeira pessoa para uma mulher de forma muito convincente. A protagonista está prestes a descobrir como a rotina pode se transformar em uma coisa terrível em nosso cotidiano urbano, como os transtornos obsessivos vão chegando de mansinho e tomando conta de tudo com consequências inusitadas. Neste conto o experimentalismo fica um pouco de lado e o texto flui de uma forma muito bem-humorada. Não temos como não nos apaixonar por esta simpática personagem neurótica.

"Ajeitei o cabelo, estava com uma aparência estranha, mas não passei batom. De alguma forma estava decidido que nunca mais passaria batom dentro de um carro. Antes ou depois: dentro de um carro, nunca. Ajeitei mais uma vez o cabelo, tirei os anéis e peguei um tubo de hidratante no porta-luvas. Passei o creme nas mãos vigorosamente, conforme indicado, indo até os punhos, quase nos cotovelos. Outro hábito diário gritando na minha frente e me acusando de maníaca. Maníaca. Maníaca. Qual o sentido? Qual o sentido de passar hidratante dentro do carro todos os dias logo depois de estacionar na minha vaga? Por que não faço isso em casa? A cena ridícula de tirar os anéis pra que não fiquem aquelas sobrinhas de creme nas bordas e nas ranhuras. Em dias de calor os anéis não saem com facilidade, e massageio os dedos com o hidratante pra poder tirá-los. Entende a questão? Eu aplico hidratante pra justamente tirar os anéis e passar hidratante. E entupo os braços com o creme cheirando a salada de fruta. E nem sequer tenho problema de ressecamento das mãos." - "Orcas" (pág. 111)
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Renata 15/06/2015

Equilibrista de meio-fio
Dez centímetros acima do Chão foi o primeiro livro do Cafiero que peguei para ler, aposta da Cosac Naify, acredito que este seja o primeiro volume de contos publicado por este autor.

Não sou a maior entusiasta com a leitura de contos, acabo passando por esses livros sem muito compromisso, costumo achar a coisa muito recortada e por vezes sem sentido, não foi o caso com este livro.

O livro se constitui de treze ou quatorze contos que, apesar de diversos em suas histórias, representam uma coesão, tanto no que se refere a contextos, quanto naquilo que concerne à escrita, e aí a referência é ao subtexto, sublinhado desde a apresentação do livro.

No que concerne ao contexto, ao cenário e acontecimentos, podemos nos remeter a uma noção em especial que é a de ‘cotidiano’. Tudo se passa dentro deste recorte, nada de especial acontece até que algo acontece, está tudo lá. Esse é um dos baratos do livro, que sustenta a trama, o mistério da narrativa ao longo dos contos, guarda muitas vezes um quê de surpresa ou estupefação. Estamos andando pelo meio-fio todo o tempo, onde de um lado temos nossa “normalidade” e de outro o surto, a crise, o absurdo, a morte.

E assim seguimos na leitura, que ora promove identificações, ora nos faz simplesmente nos indagar “O que?”.

“Você já percebeu o absurdo que é colocar a vida na mão de um motorista de ônibus, parou para pensar que é um estranho mal pago, fodido, cansado, com sono, faminto, e você lá dentro, pendurada?”

Outro barato do livro é o que na apresentação chamaram de subtexto, e eu não sei o nome disso, mas é um belo recurso de escrita. Faço referência ao uso das notas de pé de página, um instrumento usado indiscriminadamente no texto acadêmico para dizer algo que não é tão importante a ponto de estar no texto e que por isso geralmente passamos batido.

No livro de Cafieiro essas notas representam uma continuidade imprescindível ao texto, um não existem sem o outro. Essas notas, dependendo do conto, podem assumir tanto uma voz mística ou esquizofrênica, como no conto “Cavo varo” (um dos meus favoritos), quanto se assemelhar muito ao seu uso original no mundo acadêmico, mas que é preciso atenção pois tudo pode ser subvertido, e é exatamente o que acontece no último conto do livro "A uhtima aventura do erohi - epizohdio 13" (outro dos meus favoritos).

Os temas são urbanos, são contemporâneos, questões que por mais que nos atravessem nunca se esvaziam. Gostei bastante da leitura.
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