Helena 19/10/2020Denso calhamaço da Editora UNESP que abracei como estudo nos últimos dois meses. Este livro (um tanto acadêmico) visa preencher um vazio historiográfico sobre a história do ateísmo, uma vez que a história das diversas religiões já foi tão explorada ao longo dos séculos. É uma grande jornada pela história da humanidade, através dos anos e das correntes filosóficas, focando nas personagens descrentes e seus legados. E falando sobre diversidade: o livro dá uma lição de como o pensamento incrédulo e a atitude cética são muito diversos! O cético é capaz ainda de ser religioso, ou naturalista, ou materialista, ou deísta... O ateísmo não é simplesmente sobre oposição ou negação, mas independe das religiões para se definir e conceitua-se por si mesmo! A incredulidade é multiforme: pode ser latente ou explícita, ?racional? ou ?prática?. Oras, o ateísmo tem sua história própria e com pensadores próprios! A proposta do livro é formidável: mostrar que o ateísmo é necessário às civilizações e inevitável, e é tão antigo quanto o pensamento humano, além de retirar sua conotação pessimista, negativa e pejorativa. Ressalto de que forma bastante imparcial por parte do autor.
Todos os séculos têm suas particularidades, mas certamente os últimos capítulos dedicados aos séculos XX e XXI foram os mais envolventes para mim, pois falam do que estamos vivendo agora. Pergunta: O aumento da incredulidade e o desapego religioso foram acompanhados por diminuição de batismos, casamentos, frequência em missas (pensando em cristianismo)? Sim! Mas não só. A crise das religiões do século XX está mais ligada as crenças irracionais, esotéricas e ao paracientífico do que ao ateísmo em si. A crença não deu lugar à descrença, mas caminhou ao misticismo e aos sincretismos religiosos diversos. O embate crença X descrença em Deus (es) não tem mais relevância como em séculos passados. Atualmente, o ateísmo das pessoas é um ateísmo que não tem consciência de si mesmo. Certas atitudes crentes de hoje em dia seriam chamadas de ateísmo em outros tempos! (por exemplo, a afirmação de que ?tenho meu próprio Deus? que muitos usam). Além disso, quem não crê em alguma coisa, já não fala mais disso. Não sente mais a necessidade de questionar existência (s) divina (s) ou não. O descrente não segue ritos especiais e passa invisível, "Silencioso no nível popular" e podem ser difíceis de localizar. Tudo isso em uma verdadeira aula de História e Filosofia.
E aqui, entra minha crítica negativa. Em certos trechos, senti falta de notas de rodapé com explicação de alguns conceitos ou algumas correntes filosóficas/pensamentos menos conhecidas popularmente (e menos acadêmicas?). Isso pode ter acontecido pois a minha formação não é nas ciências humanas (Filosofia, História, Ciências Sociais ou mesmo Teologia, etc). Ademais, também achei o livro muito eurocêntrico. Sendo que a proposta era de uma abordagem de todo o mundo ocidental (esperava ver mais de América, e por que não África também?). Fora isso, é excelente. Leitura/estudo recomendável para todos! Religiosos ou não.
Citações: "Mas o ateísmo não é somente uma atitude de recusa, rejeição ou indiferença, que só poderia ser definido em relação às religiões. Ele é também uma atitude positiva, construtiva e autônoma. Como de costume, contrariamente aos pressupostos da historiografia religiosa, o ateu não é aquele que não crê. O ateu crê também - não em Deus, mas no homem, na matéria, na razão. Em cada civilização, o ateísmo contribui com algo" (...) "Todos eles, juntos, constituem sem dúvida a maioria da humanidade. Esta é, na verdade, a história dos homens que creem apenas na existência dos homens."