História do Ateísmo

História do Ateísmo Georges Minois




Resenhas - História do Ateísmo


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Murilo 06/12/2022

Um dos melhores e mais importantes livros da minha vida. A qualidade da pesquisa desenvolvida aqui é monumental. O autor conseguiu traçar como o pensamento ateu percorreu pela humanidade, desde a pré história até os dias atuais.

"A ideia de deus implica a abdicação da razão e da justiça humanas; é a negação mais decisiva da liberdade humana e leva necessariamente à escravidão..."
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Helena 19/10/2020

Denso calhamaço da Editora UNESP que abracei como estudo nos últimos dois meses. Este livro (um tanto acadêmico) visa preencher um vazio historiográfico sobre a história do ateísmo, uma vez que a história das diversas religiões já foi tão explorada ao longo dos séculos. É uma grande jornada pela história da humanidade, através dos anos e das correntes filosóficas, focando nas personagens descrentes e seus legados. E falando sobre diversidade: o livro dá uma lição de como o pensamento incrédulo e a atitude cética são muito diversos! O cético é capaz ainda de ser religioso, ou naturalista, ou materialista, ou deísta... O ateísmo não é simplesmente sobre oposição ou negação, mas independe das religiões para se definir e conceitua-se por si mesmo! A incredulidade é multiforme: pode ser latente ou explícita, ?racional? ou ?prática?. Oras, o ateísmo tem sua história própria e com pensadores próprios! A proposta do livro é formidável: mostrar que o ateísmo é necessário às civilizações e inevitável, e é tão antigo quanto o pensamento humano, além de retirar sua conotação pessimista, negativa e pejorativa. Ressalto de que forma bastante imparcial por parte do autor.

Todos os séculos têm suas particularidades, mas certamente os últimos capítulos dedicados aos séculos XX e XXI foram os mais envolventes para mim, pois falam do que estamos vivendo agora. Pergunta: O aumento da incredulidade e o desapego religioso foram acompanhados por diminuição de batismos, casamentos, frequência em missas (pensando em cristianismo)? Sim! Mas não só. A crise das religiões do século XX está mais ligada as crenças irracionais, esotéricas e ao paracientífico do que ao ateísmo em si. A crença não deu lugar à descrença, mas caminhou ao misticismo e aos sincretismos religiosos diversos. O embate crença X descrença em Deus (es) não tem mais relevância como em séculos passados. Atualmente, o ateísmo das pessoas é um ateísmo que não tem consciência de si mesmo. Certas atitudes crentes de hoje em dia seriam chamadas de ateísmo em outros tempos! (por exemplo, a afirmação de que ?tenho meu próprio Deus? que muitos usam). Além disso, quem não crê em alguma coisa, já não fala mais disso. Não sente mais a necessidade de questionar existência (s) divina (s) ou não. O descrente não segue ritos especiais e passa invisível, "Silencioso no nível popular" e podem ser difíceis de localizar. Tudo isso em uma verdadeira aula de História e Filosofia.

E aqui, entra minha crítica negativa. Em certos trechos, senti falta de notas de rodapé com explicação de alguns conceitos ou algumas correntes filosóficas/pensamentos menos conhecidas popularmente (e menos acadêmicas?). Isso pode ter acontecido pois a minha formação não é nas ciências humanas (Filosofia, História, Ciências Sociais ou mesmo Teologia, etc). Ademais, também achei o livro muito eurocêntrico. Sendo que a proposta era de uma abordagem de todo o mundo ocidental (esperava ver mais de América, e por que não África também?). Fora isso, é excelente. Leitura/estudo recomendável para todos! Religiosos ou não.

Citações: "Mas o ateísmo não é somente uma atitude de recusa, rejeição ou indiferença, que só poderia ser definido em relação às religiões. Ele é também uma atitude positiva, construtiva e autônoma. Como de costume, contrariamente aos pressupostos da historiografia religiosa, o ateu não é aquele que não crê. O ateu crê também - não em Deus, mas no homem, na matéria, na razão. Em cada civilização, o ateísmo contribui com algo" (...) "Todos eles, juntos, constituem sem dúvida a maioria da humanidade. Esta é, na verdade, a história dos homens que creem apenas na existência dos homens."
Valdimir.Hudson 31/05/2022minha estante
gostaria saber de algo se o ateu não crê em Deus e só crê na existência do Homem então automaticamente ele crê que existe um Deus por facto que o homem não velho do nada!!




Fábio Valeta 22/01/2016

Desde que me reconheci como ateu, ouço (além do preconceito nosso de cada dia) que ateísmo é uma “modinha”, “sinal de uma sociedade cada vez mais decadente”, como se a crença em alguma divindade fosse não algo tão inerente à humanidade que a descrença fosse considerada quase que fora daquilo que entendemos como humano. É muito comum, ainda hoje, a associação de “falta de deus” como “falta de caráter”.

O livro do Historiador Georges Minois é uma grata surpresa, seja para aqueles que, como eu, vivem muito bem “sem deus no coração” quanto para estudiosos da religião, ou curiosos sobre o assunto. É um trabalho maciço. São quase 800 páginas lotadas de informações que compreendem toda a trajetória da descrença no mundo ocidental (focada principalmente na França, terra do autor). Partindo desde o pouco que se sabe das primeiras sociedades humanas, até a alvorada do século XXI. O primeiro desafio do autor é desmistificar a crença de que toda sociedade é inerentemente crente e que a descrença é um desvio de poucos.

De acordo com o autor, o ateísmo é no mínimo tão velho quanto a crença. Mesmo porque só pode existir a ideia de ateísmo, se houver uma crença. Sem a ideia de deus, não haveria ideia de não acreditar em deus.

É bem interessante também a classificação das crenças que Minois faz logo no início do livro. Explicando as diferentes formas de crença e colocando o ateísmo nos dois lados do espectro religioso. De um lado, o ateísmo prático. Em que a pessoa vive a descrença sem pensar nela – Se deuses existem ou não, não fará diferença nenhuma em sua vida. Do outro lado, o ateísmo teórico, em que o indivíduo não só não acredita em divindades, mas raciocina essa descrença. Os teóricos discutem os motivos por que deus não existem, seja a partir de um ponto de vista filosófico ou científico.

Partindo desse princípio, o autor trata os vários períodos da história humana (europeia), mostrando em como, mesmo naquelas sociedades ou períodos em que o senso comum diz que a população era 100% religiosa, ainda existe ateísmo. É simplesmente fantástica a análise que o autor faz de textos medievais, mostrando em como esses textos mostravam uma descrença muito aparente, embora não pudessem levantar a questão abertamente por medo de perseguição. (Me espantou alias a quantidade de padres medievais que duvidavam da existência de deus e deixaram isso escrito nas entrelinhas de seus trabalhos).

Mas se tem um aspecto da história que não mudou, é o absoluto preconceito que a maioria da população religiosa sente em relação ao ateísmo. Por muitos séculos, a palavra “ateu” era uma ofensa. Uma pessoa querendo desqualificar um adversário, acusava-o de ateísmo. E só no século XIX que, muito timidamente, as pessoas começaram a se assumir como ateias.
No final, a sensação que fica ao ler o livro é de perceber que a descrença e os descrentes são muito mais antigos do que a maioria das pessoas imagina. Sempre um grupo minoritário, mas sempre presente na sociedade, querendo os religiosos ou não.

É um excelente trabalho de pesquisa histórica, mas não é para qualquer um. Como dito no início, o livro tem quase 800 páginas, e a quantidade de informações é tão grande que o autor poderia ter se estendido mais sem ser verborrágico como muitos historiadores costumam ser. Foram dois meses e meio de leitura para conseguir absorver toda a quantidade de informações. Mas valeu a pena.

Para quem se interessa pelo tema, seja ateu ou religioso, eu recomendo a leitura.
Delas.Carneiro 22/08/2018minha estante
Não sou ateu, mas é disparada a obra mais interessante sobre o ateísmo. Abraço!




Mario Arthur Favretto 14/04/2015

O livro é excelente! Muda muita coisa de nossa visão da história. Apresenta inicialmente uma discussão sobre os sistemas tribais em que está presente a descrença, passando os filósofos pré-socráticos, entrando na decadência da sociedade grega quando os oráculos sentem que perdem poder de influência nos governos e tentam eliminar os céticos e ateus. Demonstra que mesmo na idade média houve muita atividade intelectual por parte de ateus, mais por meio de obras anônimas para não serem perseguidos pela igreja. Onde então havia um ateísmo intelectual em um elevado número de pessoas das classes mais superiores da sociedade e um ateísmo prático nas classes baixas, onde as pessoas tinham uma indiferença pela religião ou preferiam manter velhas superstições ativas. Também passa pelo iluminismo, revolução francesa, grandes navegações, mostrando todos os embates entre fé e descrença, inclusive em certos períodos a abdicação da vida religiosa por dezenas de milhares de padres, que afirmavam estar cansados de divulgarem coisas nas quais eles mesmos não acreditavam. Mostrando os picos de alta produção intelectual e questionamento quando há expansões do ateísmo, e depois certas decadências quando as pessoas perdem a esperança na razão. Onde o último pico de produção teria ocorrido em fins do século XIX e meados do século XX, onde agora estaríamos em uma fase de decadência, pois apesar as religiões terem perdido poder, as pessoas passaram a aderir a diversas pseudociências que acabam produzindo resultados sociais piores do que o embate religião x ciência. Também faz uma demonstração do avanço do ateísmo com o avanço do conhecimento científico e da história, enquanto as igrejas tentam se adaptar a estas alterações no conhecimento numa tentativa de não serem colapsadas. O autor se mantém de forma indiferente ao longo de todo o texto, discorrendo sobre os fatos históricos, sem se posicionar em relação a quem estava certo ou errado. Enfim, muita informação, 700 páginas que percorrem toda a história da sociedade, tratando de cada século e suas características religiosas e ateias.
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