Sueli 23/04/2015
Pai Nosso Que Estás No Inferno!
Nada, absolutamente nada poderia me preparar para o impacto que foi ler este livro!
Adoro policiais, afinal cresci lendo os livros de Agatha Christie, enquanto minhas amigas liam fotonovelas. E, como de repente todos os romances me pareceram iguais, resolvi que, por algum tempo, eu voltaria o meu interesse literário para outros gêneros, mas com a esperança que um dia eu consiga voltar para os meus amados contos de fadas para adultos carentes!
Tomada a minha decisão, escolhi os livros da Nele Neuhaus já que fui fisgada pelos títulos que não combinam em nada com o gênero policial. Com esses títulos, eu imaginava que seriam suspenses leves e ligeiros, algo entre Andrea Camilleri – meu adorado – e, a própria Agatha Christie. Claro que eu não poderia estar mais longe da verdade! Caí na perfeita armadilha dessa escritora tão genial quanto cruel, e que não tem o menor escrúpulo em mortificar seus leitores.
Veja bem, a relação autor/leitor é construída das mais diferentes formas. Enquanto, um escritor passa a ser endeusado por alguns, pode ser desprezado por outros, e tentar entender esse fenômeno é pura perda tempo, pois tudo vai depender do momento de cada leitor, da forma como as palavras cuidadosamente, ou não, construídas por essas pessoas que se entregam a esse belíssimo ofício, caem na imaginação do leitor como pequenas sementes, que germinarão e construirão os cenários onde podemos desfrutar de momentos de variados graus de sentimentos e intensidade.
Nele Neuhaus não nos leva para cenários abstratos ou sedutores, muito longe disto! Neuhaus nos mostra a realidade nua e crua, com seres humanos em seus piores momentos...
Em “Branca de Neve Tem Que Morrer”, acompanhamos os horrores causados pela inveja e a hipocrisia, mas em “Lobo Mau” temos seres humanos absolutamente abjetos em suas trajetórias obsessivas e pervertidas.
Não sou resenhista, eu com os meus comentários quero apenas transmitir a sensação que a leitura me trouxe, e Lobo Mau apesar de estupendo e impactante foi um dos livros mais cruéis que já li.
Estupendo e bem construído, porque é impossível abandoná-lo. Neuhaus escreve seus romances com cenas curtas e fragmentadas, onde a ação vem em pequenas doses, e a princípio sou lançada em um vórtice de acontecimentos ininteligíveis e até onde posso imaginar independentes. Mas, é claro que não são, e é aí que está a cilada, o truque de Nele Neuhaus.
E, eu sou atraída para esse imenso quebra-cabeça onde a violência jorra em doses elevadas fazendo com que eu me sinta constantemente ameaçada, sem que haja nenhum ponto de retorno ou chance de que eu possa abandonar esta história, mesmo que me sinta trêmula e a beira das lágrimas a cada capítulo...
Começar a ler um livro de Nele Neuhaus é uma viagem de terror absoluto e sem retorno.
Sou uma leitora independente, não crio vínculos com o autor, mas com a sua obra. E, por este motivo, procuro ler tudo que ele tenha escrito.
Eu corro atrás, compro seus livros, coleciono suas séries, pois sei que se ele me emocionou em algum momento, confio que voltará a fazê-lo outras vezes, por isso, nem dou bola para o caso de não gostar de algo escrito por este mesmo autor - o que nem de longe se aplica a Nele Neuhaus! Eu apenas espero o próximo livro, e sem dúvida nenhuma estarei esperando ansiosamente pelo próximo lançamento da série Bodenstein & Kirchhoff, que vem sendo absurdamente desmembrada pela Editora Jangada.
E, como Lobo Mau é o sexto volume da série, conclui-se que mesmo com o sucesso de Branca de Neve, a Editora Jangada, teve a cara de pau de pular o livro entre os dois lançamentos nacionais.
Observação – Não sei se pelo fato de ter lido Branca de Neve, confesso que em Lobo Mau não senti tanto a falta dos volumes anteriores. Embora, em minha opinião, acredite que é um ato de extrema crueldade intelectual a não publicação da série na sua integralidade!