Jeferson 02/08/2016Até o Fim da Queda Até o fim da queda é o título do primeiro livro do brasileiro Ivan Mizanzuk, professor universitário, graduado em designe gráfico, mestre em Ciências da Religião pela PUC-SP. Mizanzuk também é o host do podcast "AntiCast e do "Projeto Humanos". Toda a especialização do autor em ciências da religião deram embasamento e suprimento para a redação deste "livro de terror" ( o próprio autor não afirma com certeza sobre o teor do livro. Nas palavras dele, constante no posfácio do livro, "Eu não sei se fiz exatamente terror. Deve ser, porque eu falo bastante de demônios. Mas isso pode ser questionado.)
Realizado pela editora Draco, o livro contém 244 páginas organizadas em 4 capítulos. Um livro de fácil assimilação e leitura rápida e fluida apesar da sua estrutura e design. O relato sobre a peculiar estrutura do livro e a impressão da leitura encontrará mais sentido depois que o leitor desta resenha se inteirar sobre a sinopse do livro.
A história contada com Mizanzuk tem início relatando que em 1993 sete jovens cometem suicídio juntos, as investigações policiais levam a crer que todos aqueles jovens cometeram suicídio em um macabro ritual de satanismo ou qualquer outro culto, entretanto as investigações não encontram responsáveis ou culpados, dá-se por encerrada toda a atividade investigativa e o macabro acontecimento inconclusivamente.
Anos depois do suicídio coletivo, conhecido popularmente no enredo como suicídio de 93, o escritor Daniel Farias (personagem principal do livro), realiza uma profunda pesquisa, e usando a linguagem da ficção, remonta a história do suicídio explicando que todos cometeram o suicídio para que o "Dragão" renascesse, eles faziam parte da "Irmandade do Dragão", uma seita satânica. O livro resultado da pesquisa leva o título de A Irmandade do Dragão.
Segundo Daniel a irmandade existe de fato a mais de 500 anos e possui um grande número de adeptos pelo mundo todo, é uma sociedade secreta nunca antes relevada, que se norteiam pelas Cartas apócrifas de Frei Marcos, o fugido, um Padre Inquisidor espanhol do século XVI, que negou a igreja e fundou essa irmandade depois de atuar num caso de possessão demoníaca em um vilarejo próximo a Sevilha.
O livro de Daniel Farias alcança o topo dos livros mais vendidos, e jovens leitores cometem suicídio enquanto o lêem. O que leva a Igreja Católica e outras a proibirem a leitura e as vendas do livro de Daniel aumentarem exponencialmente.
Todo o enredo do livro gira entorno destes fatores acima descritos. O que diferencia o livro de Ivan Mizanzuk dos demais livros do tipo, é a estrutura e organização do livro. Apesar de ter início, meio e fim, o livro não é uma narrativa simples, é sim recortes de matérias em jornais e sites de notícia, cartas do Frei Marcos, uma gravação em fita K7, e transcrições de sonhos, tudo isso costurado por uma longa entrevista dada pelo escritor (Daniel Farias).
Esta é a genialidade do livro, a intenção do autor é permitir que o leitor sinta-se um pesquisador que vai desvendando o enredo de acordo com a análise dos fatos que lhes são expostos, é quase como se o leitor estivesse pesquisando o tema, e no fim descobrisse o que há por trás de todo o mistério. Esta forma pouco comum nos livros, torna a leitura muito interessante e rápida, o leitor nunca se sente saciado até descobrir tudo que os próximos fatos trazem.
Os recursos de designe, como a diagramação em formato de manchete de jornal, a troca da fonte nas entrevistas e nas cartas, tudo conspira para o entendimento do leitor. É fácil compreender o fluxo da história, de tal forma que o final é totalmente previsível. Cabe ainda um adendo à grande sacada de Ivan Mizanzuk em pedir aos seus seguidores nas redes sociais fotos suas para serem usadas no livro, ou seja, todas as imagens dos suicidas que aparece no livro são de pessoas reais, que cederam a sua imagem para a produção do livro.
O livro ainda conta com um posfácio que como o próprio título sugere, entrega todo o jogo, o autor revela o que é mundo real e o que é fantasia na sua estória, conta um pouco sobre o processo de desenvolvimento do livro e de uma maneira bastante descontraída se apresenta.
Quanto ao gênero terror, tenho que concordar com Mizanzuk, é de se questionar, apesar da proliferação de demônios. Sentir medo ou não dependerá da entrega do leitor ao livro (e a hora em que a leitura está sendo feita). Mas um fato é inegável, o leitor que não conhece muito sobre o ocultismo e a cultura cristã do século XVI aprenderá um tanto, e o que conhece mais o tema se deliciará, o livro possui referências como "O Martelo das Bruxas", o caso das Freiras de Lundu, pactos escritos e assinados por demônios além de ilustrações macabras.
Vale a leitura não só pelo enredo que é muito atraente, mas também pela forma como o livro é concebido e apresentado ao leitor.