Sâmella Raissa 11/03/2015Resenha original para o blog SammySacional
Já estava com saudade de ler algo novo da Karen Soarele. O terceiro volume de Crônicas de Myríade não pôde sair em 2014, mas, felizmente, tivemos A Canção das Estrelas e a segunda edição de A Rainha da Primavera para suprirem a carência da narrativa fantástica da Karen. E, gente, não tinha livro melhor para voltar a ter contato com sua escrita. Simplesmente porque esse é um prato cheio para os admiradores de histórias que, apesar de curtas, transpassam toda a gama de emoções e adrenalina necessárias com muita firmeza e veracidade. Karen Soarele, você se superou mais uma vez.
Em A Canção das Estrelas, iremos nos deparar com Sebastian, um rapaz que já há um bom tempo longe de casa, atravessa cidades e portos enquanto trabalha em um navio, buscando, na verdade, decifrar a mensagem oculta contida em seu tesouro mais precioso e antigo, o livro A Canção das Estrelas. Muitos riem de sua ousadia, mas ele crê no significado da obra e, assim sendo, quer desvendá-la, mas a partir do momento em que o livro é roubado, ele precisa sair de seu eixo atual e se aventurar por entre uma nova cidade e novas pessoas. E, não muito distante dele, uma outra jovem, curiosa, ágil e livre por natureza, busca aventurar-se no mundo tanto quanto ele já fora capaz.
“— Preste atenção a tudo ao seu redor. As palavras no livro são importantes, mas o que realmente vai ensinar o caminho até a irmandade são as pistas que o mundo oferece. Quero dizer, você pode usar o livro. Mas, acima de tudo, recorra aos ensinamentos da vida.”
- Página 70 -
Embarcando novamente na narrativa precisa e minuciosa de Karen, mas não menos ágil e fluida, voltamos à Myríade, dessa vez, em uma história um tanto quanto paralela aos acontecimentos do início do primeiro livro da série, Línguas de Fogo. Com o foco em Sebastian, conheceremos, então, esse personagem determinado e dotado de coragem, apaixonado por histórias antigas do seu mundo, e crente de que, em cada uma delas, há alguma verdade oculta que precisa ser revelada. Apesar de tratar-se de um enredo breve, ainda assim, os personagens conseguem se mostrar muito bem desenvolvidos. Sebastian, que, inicialmente, parece um personagem um tanto quanto teimoso e sisudo, logo mais revela uma sensibilidade existente em seu coração, que, porém, não está à mostra para qualquer pessoa enxergar. É preciso se aproximar e confiar de verdade, mas antes disso, ele também precisa se sentir seguro a fazer o mesmo.
Quem dará o primeiro passo para isso, porém, será justamente Neve, que busca a liberdade tanto quanto ele busca o conhecimento das histórias do passado. Que almeja ser compreendida pelos demais e poder viver sem amarras, desfrutando, de verdade, da vida e da beleza que há nela. Para alcançar isso, porém, ela terá que tomar decisões, e as consequências destas podem não ser das mais fáceis de se aceitar. E, nesses momentos da leitura, confesso que fiquei irritada justamente com essas atitudes da personagem, mas só acompanhando o desenrolar do enredo e se mostrando aberto para compreendê-la que, enfim, pude reconhecer que ela precisava fazer aquilo. É visível, mesmo por entre os momentos de aparente animação da personagem, que ela se sente aprisionada e não está realmente feliz com a própria vida, e precisa passar por novas experiências.
As consequências das ações decorridas no livro, porém, só me provaram o quanto Karen continua ousada e direta quanto às reviravoltas do enredo. A adrenalina paira durante toda a leitura e as emoções se apertam a cada capítulo, não importa a cena, não importa o personagem. A tensão é a mesma, e a angústia também. E por mais que eu tenha ficado particularmente chateada com alguns acontecimentos, reconheço perfeitamente que eram as sequências necessárias para as cenas, e em nenhum momento houve incoerência ou cenas abruptas. Na verdade, o que gosto de reparar é que, cada vez mais, a Karen capricha ainda mais na desenvoltura de seus livros e, assim sendo, não há dúvidas ou pontas soltas em nenhuma cena ou capítulo. Tudo se desenvolve, também, no ritmo certo, e quando as peças começam a se encaixar, a adrenalina e emoção só aumentam.
“A vergonha deu lugar à serenidade e, no lugar da tristeza, fez-se coragem.”
- Página 99 -
Como se não bastasse isso, após a conclusão da leitura, ainda temos umas boas 50 páginas daquele que seria o próprio livro d'A Canção das Estrelas. Nessas páginas, a coloração em tons de preto e branco já e mais profunda e há detalhes como que de pergaminhos antigos para simular o livro real descrito na história, e acompanhamos, então, pequenas histórias, ou contos, do mundo de Myríade. Histórias que relatam a vivência de determinados povos, que guardam segredos de outros reinos e lendas antigas do universo fantástico, e outras que, inclusive, revelam personagens e acontecimentos que definitivamente fazem a diferença para que compreendamos, mesmo, alguns acontecimentos e situações do mundo atual deles, durante as Crônicas de Myríade. E, se antes eu já ficava encantada com a criação e estruturação de Myríade, agora percebo a dimensão e a profundidade do universo criado por Karen Soarele.
Só posso concluir que, mais uma vez, tive êxito em uma leitura da Karen Soarele e que eu acertei em cheio ao dar uma chance à literatura fantástica justamente com ela. Em suas histórias, pude compreender melhor o poder e a beleza desse gênero literário tão intenso e incrível, e A Canção das Estrelas é, definitivamente, uma dessas histórias marcantes. Talvez não pela sua longevidade de enredo, mas certamente pela sua desenvoltura firme e personagens tão humanos, com os quais, apesar de muitos serem de espécies e povos totalmente distintos, o leitor consegue se identificar com maestria. Espero continuar a acompanhar histórias tão incríveis de uma autora tão talentosa, e, talvez tanto quanto antes, eu estou ainda mais ansiosa por conferir o terceiro volume de Crônicas de Myríade.
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