Naty__ 19/01/2015Rockfeller é a segunda obra que leio de Alexandre Apolca. O primeiro livro publicado pelo autor foi Legna e que eu tive a oportunidade de resenhar. Quando Apolca me mostrou o livro, eu fiquei impactada com a capa. Li a sinopse e tinha certeza que precisava mergulhar na história e, claro, embarquei nela.
Beto Rockfeller Araújo, vocalista da banda Escória Humana, é o protagonista e ele mesmo quem narra a sua própria história. Na realidade, ele escreve um livro sobre o seu passado e apresenta ao leitor como as coisas aconteceram. Tudo começa com o show que eles estão prestes a realizar na casa noturna Madame Satã, em São Paulo. A última banda a tocar é a dele e, como já poderia prever, a maioria das pessoas foram embora. Porém, mesmo com apenas metade do público assistindo, eles conseguiram um honroso fechamento do festival. Após o espetáculo, Rockfeller decide fazer um protesto na Avenida Paulista e convida a todos para irem até lá. A esperança dele é que teria uma multidão; ledo engano. Apenas sete pessoas resolveram acompanhar a banda nessa ideia. É exatamente nessa hora que a vida do protagonista muda de repente.
“- Relaxa. Não existe momento certo. O momento certo somos nós que fazemos” (p.46).
Preso! Rockfeller foi preso injustamente. Um dos sete integrantes do protesto estava carregando uma mochila com coquetel Motolov e a culpa cai no inocente Rock. Além de já ter sentido o cheiro e o gosto da prisão ao ser detido por desacato à autoridade, o protagonista estava prestes a sentir, mais uma vez, essa mesma sensação. Rock é uma pessoa totalmente imatura, só queria saber de festas, mulheres, drogas e sequer se importava em levar uma vida mais digna. Sempre deu vergonha e desgosto ao seu pai, até que um dia este decide que é a hora do seu filho mudar de estado.
A obra é carregada de emoção e, por vezes, sentimos dó dos processos em que ele passa. É evidente que ele é uma das piores pessoas que já conheci como personagem, porém, no decorrer da obra tudo muda e meu sentimento de raiva e ódio dá vazão a um sentimento de pena.
“Tentei me convencer de que estava num jogo de videogame, mas isso também não ajudou. Se tudo desse errado e eu morresse, morreria feliz porque era uma morte digna, uma morte com a qual eu sempre sonhei. Morrer por uma causa, por alguém...” (p.74).
Além da presença dele, do seu grupo, existem outros personagens que complementam o enredo, um deles é Anita. Ele nutre um sentimento por ela, porém, a garota namora um dos amigos de Rock e mesmo assim ele não perde a oportunidade de se envolver com ela. Contudo, ele não contava que esse simples envolvimento acarretaria em uma paixão avassaladora, capaz de arrancar a sua própria pele para proteger a dela. Temos a presença também de um personagem com o nome do autor. Ele declara em sua nota que esse era um sonho antigo dele. Confesso que eu nunca tinha visto, então até nisso o autor me surpreendeu.
Como se ainda fosse pouco, Rock possui uma síndrome da mão alheia e, ainda, diariamente consegue enxergar um enigmático corvo que o persegue e ele não sabe o que isso significa. Psicoses, desilusões e delírios são vivenciados e sentidos pelo protagonista. A grande dúvida é saber os motivos de tudo isso.
“O tempo é a estrada que nos trouxe para vida e que, um dia, nos levará para a morte. O tempo é o papel no qual deixamos nossas marcas e, se forem bem marcadas, nunca se apagarão” (p.101).
Como disse anteriormente, essa capa foi um dos motivos que me fizeram ler o livro. Há quem siga à risca o “Não julgue pela capa”. Quando me encanto por ela, preciso ler a obra imediatamente. Contudo, quando não me chama a atenção eu não deixo de julgar, mas não deixo de conhecer a história por esse fator. Felizmente, dessa capa, não tenho o que reclamar. Está perfeita e retrata bem o que se passa no livro.
A diagramação é muito bem feita e tem corvos nos finais dos capítulos, são bem sutis, mas o efeito que fica é gamante. As páginas são amareladas e o espaçamento é excelente, isso faz com que a leitura fique agradável. Notei que a separação das palavras de uma linha para a outra sofreu um pequeno problema na hora de diagramar, mas acredito que as próximas impressões serão arrumadas. Isso não interfere no entendimento e nem na fluidez da leitura, garanto.
A obra é recheada de reviravoltas, mistérios e muita adrenalina. Para quem está esperando uma obra com uma história totalmente inesperada, essa é uma das garantias de seu conteúdo. É difícil prever o pensamento conturbado do personagem e o que acontecerá com ele no desenrolar do livro. Só lendo para saber e para se surpreender.