Paraíso

Paraíso Tatiana Salém Levy




Resenhas - Paraíso


10 encontrados | exibindo 1 a 10


Leonardo.H.Lopes 11/01/2018

Paraíso da desilusão
O livro de Tatiana Salem Levy, que comprei apenas pelo preço extremamente baixo e por vontade me aventurar por algo que eu não conhecia previamente, conta a história de Ana, uma escritora que após descobrir ter AIDS se vê diante das memórias de toda sua vida e se refugia no sítio de uma amiga para começar a escrever um romance. O romance que ela decide escrever é sobre sua família, ou melhor, sobre uma maldição de uma escrava que ditava que cinco gerações de mulheres da sua família seriam infelizes no amor, e Ana é a última geração que a maldição alcançará. No sítio, ela não se vê isolada, mas em companhia da caseira e de sua filha, e de um artista plástico que também se refugia ali e por quem ela se apaixona. A história intercala capítulos narrando o presente da vida da Ana, partes do livro que ela está escrevendo que conta a história de como a Escrava morreu e o porque ela amaldiçoou sua família, e outros capítulos contando as memórias da infância e adolescência da protagonista. A história que começa bem, segue morna e acaba de um jeito muito ruim.

Uma das coisas que mais me incomodaram nesse livro é o clichê da história de um escritor no dilema de escrever um livro. A própria autora denuncia esse fato na página 139, quando a escritora protagonista revela ao artista plástico que quer escrever um livro sobre a história dos dois e ele responde " existem centenas de romances iguais a esse
Essa história já foi escrita. Eu, se fosse você, continuava a escrever sobre a fazenda de café". Tá certo que depois tem uma explicação do porque essas palavras saíram da boca dele, mas essas palavras são extremamente verdadeiras. Esse livro já foi escrito, a história já foi mascada.

As partes da memória da infância de Ana são bem interessantes e marcadas por um sentimentalismo um pouco mais profundo, mas os capítulos que narram o presente são extremamente mornos e arrastados em alguns pontos. As partes que contam o passado na fazenda de café, séculos atrás, é narrado pela escrava que já morreu e o tom desses capítulos não é lá muito bacana, meio artificial talvez.

Os personagens também não convencem, não houve empatia, e o nome do livro é simplesmente o nome do sítio, não remete à história propriamente dita , à essência do texto. Sinceramente, não sei o que essa história vai deixar em mim, acredito ser um livro totalmente esquecível.

E só recebeu duas estrelas porque, apesar de tudo, vê-se que a escritora tem talento, só comeu mosca do início ao fim dessas páginas. A escrita é diferente, nunca tinha lido um texto em que as falas estavam embutidas nos parágrafos, no meio da narrativa, se mesclando à voz do/a narrador/a.

Uma pena que não rolou, a cada livro ruim lido, desperdiçamos o tempo que poderíamos usar para ler um livro bom. Mas só sabemos que um livro é ruim depois de o ler. Que "trem" doido.
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David713 22/05/2021

Curti a autora nova
Gostei muito da história, do drama pessoal da personagem principal e das idas e voltas ao passado e ao livro que a protagonista está escrevendo. Mas senti falta de um desfecho pra trama.
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Tulio.Gama 21/10/2023

Antes de tudo, quero deixar aqui registrado que este livro é um divisor de água para mim. Se gostei? Sim, um tanto que me faz ficar meio surpreso com a sua baixa média de avaliação. Posso até compreender que não seja tão memorável para muitos, mas é curioso uma obra suficientemente digna ter esse relativo desprezo.
Mas houve um marco para mim. História em si é elementar, mas vibra, nos move. A linguagem bem acessível me acolheu a ponto de eu sempre buscar esse tipo de conexão e ritmo em livros. É como se eu, finalmente, descobrisse meu gênero favorito. Um pouco além, a estética literária que me guia para próxima.
Não sei você, que me lê agora.
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Aline164 22/01/2024

Mais um livro sobre uma escritora que vai pra algum lugar escrever/ fugir da realidade
Esse livro me lembrou um tuíte que era algo do tipo: "Escritores brancos, hétero, cis, classe média: não precisamos de mais livros sobre escritores tendo bloqueios criativos. Já deu, né?". EscritorA escrevendo sobre esse tema = ok? :)

Embora o livro não seja bem sobre isso, Ana, uma escritora provavelmente branca, hétero cis, classe média/alta vai para o sítio de uma amiga atriz para escrever um romance baseado em uma escrava que jogou uma maldição nas mulheres das cinco gerações seguintes da família dela antes de ser assassinada; essa maldição terminaria com ela. Na verdade, ela toma todas numa festinha, vai pra casa de um cara igualmente bêbado, eles transam sem camisinha e na manhã seguinte o cara fala que tem HIV [detalhe: ela tem uns 35 anos, não é uma adolescente p0rr@ louca com o córtex pré-frontal imaturo]. Ana fica puta com o cara e depois com ela mesma, vai fazer os procedimentos pós-exposição e, até dar o tempo para fazer novos exames, vai para esse sítio escrever.

No sítio, encontra Daniel, um artista que fez uma cabana tosca com ajuda do antigo caseiro com o objetivo de se isolar e desenhar por um certo tempo.

Daí acontece o óbvio: os dois se apaixonam. (Fiquei tensa sempre que parecia que a Ana ia transar com o Daniel, mesmo sabendo que talvez tivesse HIV. Não vou dar spoiler sobre isso... porém... tenso.)

Alguns trechos são o livro que a protagonista está escrevendo, e achei tudo meio... chato? Mas faz sentido, porque a professora da primeira oficina de escrita criativa que fiz na adolescência disse que sempre que houvesse um personagem com determinada profissão, em algum momento, para dar mais veracidade à narrativa, uma "prova" deveria aparecer. No caso, a mina era escritora, então trechos do trabalho dela estavam ali para "provar" que ela de fato sabia escrever.

Outros personagens que atravessam a narrativa no presente ou em flashback: a cozinheira, seu marido, a filha adolescente dela, o caseiro, a amiga atriz, os pais de Ana, as irmãs de Ana, seu padrasto.

A Tatiana Salem Levy escreve bem, isso é fato, e a leitura prende (menos a narrativa da escrava, que achei meio chata/insossa), mas me questionei em vários momentos o quanto esse tema está desgastado: um escritor ou uma escritora que vai pra algum lugar escrever. Também pensei no quanto me interesso muito mais por outros tipos de personagens, moradores de favela, cadeirantes, cegos, marginais ou simplesmente pessoas comuns vivendo sua vida e seus pequenos ou grandes dilemas e no quanto a literatura brasileira e talvez mundial precisa avançar no sentido de diversificar mais e incluir personagens de todo tipo. Tive zero identificação e empatia com essa protagonista, por exemplo.

Para finalizar, vou deixar esse trecho que achei o suprassumo da ironia ou da autocrítica, vai saber:

"[...]
Ouviu com nitidez a sua voz grave. [A escrava] Falava em iorubá, e Ana entendia. Afirmava que escrever sobre a escravidão era mais importante do que contar uma história de uma escritora e de um artista numa casa de campo. Ela não podia continuar presa ao próprio umbigo. Precisava falar do outro, da formação do Brasil, dos anos que se seguiram à decadência do café, das ditaduras, das revoluções. [...]" (p. 143)
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Claudio 14/03/2017

Uma vida nunca é suficiente
"Uma vida nunca é suficiente, com um mundo deste tamanho, todos os acontecimentos que podem surgir de uma hora para outra, os encontros inesperados, ela nunca diria estou satisfeita, agora posso ir".

E assim, com muitas vidas, Tatiana Levy expõe os percalços vividos pelas mulheres no dia a dia, pressões sociais, assédios, estupros, abusos, medos, inseguranças e amores.

Sem dúvidas as melhores parte do livro estão nas memórias da protagonista, mas tanto a parte da escrita do romance sobre a princesa escrava que amaldiçoa futuras gerações da ama com infelicidade no amor, quanto a relação com a empregada do sítio no presente ou o encontro com o artista plástico - seu espelho, seu igual, e, de certa forma, a representação da igualdade entre gêneros - são fundamentais para manter o clima constante de tensão e que moldam as transformações vividas pela protagonista.

Talvez este seja o livro menos legal da Tatiana Levy e, de certa forma, isso justifica avaliações medianas que tem recebido, mas a verdade é que um livro muito bom, muito bem escrito e que entrega aquilo que se propõe.

E, se por acaso, você ainda não leu nada da Tatiana Levy, embarque logo na sua escrita, não tem como se arrepender!
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Ana Letícia Brunelli 23/08/2017

No início achei a proposta do enredo - uma mulher dos tempos atuais preocupada com a história de uma maldição lançada sobre as mulheres de sua família há várias gerações passadas, e que agora estaria interferindo nos acontecimentos de sua vida - um pouco boba. A mesma impressão tive também de Ana, a personagem principal, de suas atitudes e pensamentos. Mas, dando continuidade leitura, a autora acabou me convencendo com seu texto agradável e cativando a minha atenção. Acabei me envolvendo com as histórias, seus personagens, e até me identificando com Ana em muitas passagens.
O texto alterna entre acontecimentos presentes da vida de Ana e dos personagens com os quais ela se relaciona, lembranças do seu passado e o enredo do livro que ela está escrevendo sobre a tal maldição. As três diferentes passagens despertaram meu interesse e curiosidade em saber o que aconteceria em seguida, e qual seria a relação entre os fatos, casando-se muito bem na construção de um só enredo. Esse, ao meu ver, trabalhou muito bem o universo feminino através da personagem Ana - suas dores e alegrias, desejos e incertezas, angústia e amadurecimento - explorando temáticas como 'o que é ser feliz', principalmente no amor, e que a conquista dessa felicidade é um escolha nossa.

"Pensou também em outros lugares com os quais sonhava, tanta coisa que ainda gostaria de fazer. Uma vida nunca é suficiente, com um mundo deste tamanho, todos os acontecimentos que podem surgir de uma hora para outra, os encontros inesperados, ela nunca diria estou satisfeita, agora posso ir. Nunca se cansaria da existência, nem nos seus momentos mais tristes, nem quando dominada por uma raiva profunda".
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Elo 27/12/2017

Mais uma vez a literatura nacional me surpreende, principalmente por ser um livro bem desconhecido. A personagem principal, Ana, é muito bem desconstruida, explorando todas as áreas da vida dela: amorosa, familiar, carreira, infância e adolescência, etc. Ainda quero confirmar o final, já que ela só da a entender o que acontece, deixando dois mistérios em aberto. Da pra ler em uns três dias, a leitura é bem tranquila e capta bem a atenção do leitor.
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Inês Montenegro 24/08/2019

"O romance curto desenvolve-se em três tempos: o presente, onde a protagonista se isola num retiro paradisíaco disponibilizado por uma amiga, não apenas para escrever, mas principalmente para lidar com uma espera; o passado, por cujos trechos o leitor vai conhecendo as bagagens emocionais da protagonista; e o ficcional, a história que a protagonista escreve, mesclada de realidade com ficção, e situada num momento histórico de escravatura. É através desta tridimensionalidade temporal que se torna possível a abordagem de várias questões complexas, desde a escravatura à violência doméstica, a noção de identidade à SIDA. Umas narradas com evidência, outras deixando apenas o necessário para serem intuídas, mas nenhuma tratada com superficialidade. (...)

Opinião completa em:

site: booktalesblog.wordpress.com/2019/08/24/paraiso-tatiana-salem-levy/
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jessicapdss 07/11/2021

Bom
Ana vivia fugindo da memória, certa de que a felicidade exige o esquecimento. Evitava os riscos, as situações que pudessem reabrir alguma ferida. Até o instante em que se viu diante de uma situação inesperada e percebeu que não haveria saída. O passado ressurgia, intacto. A maldição lançada por uma escrava na fazenda de café da sua família, no século XIX, voltava a atormentá-la. Ela decide se isolar na casa de campo de uma amiga para escrever e, quem sabe, decifrar as origens daquela profecia que atemorizava as mulheres da família há cinco gerações. Escrevendo, talvez pudesse quebrar o efeito das palavras da sacerdotisa africana. Ou não haveria destino algum a ser vencido, e a tragédia que se anunciava seria apenas um fantasma da sua imaginação?
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