Tauana Mariana 01/10/2012
Resumo Cibercultura
Incrível perceber que Lévy escreveu um livro há 13 anos, e este realiza uma referencia a nossa sociedade atual. Brilhantemente, o autor advoga em prol do ciberespaço e da Cibercultura. Afirma que a sociedade se reconecta com ela mesma, onde há uma inteligência coletiva, advinda da interação e da relação que as pessoas passam a ter, por meio da internet.
Lévy também questiona os teóricos que temem a “anarquia” que o ciberespaço poderia proporcionar, visto que não há hierarquias, nem chefias, ou que o ciberespaço acabará com outros meios, ou com as relações interpessoais. O autor argumenta que não deve se temer tais fatos, pois o ciberespaço estimulará as pessoas a desenvolver conhecimentos, desenvolver aptidões, conhecer-se, conectar-se e interagir, pois toda a espécie da humanidade se encontra agora, membro de uma mesma sociedade.
Resumo Cibercultura
A hipótese que levanto é que a cibercultura leva a co-presença das mensagens de volta ao seu contexto como ocorria nas sociedades orais, mas em outra escala, em uma órbita completamente diferente. A nova universalidade não depende mais da auto-suficiência dos textos, de uma fixação e de uma independência das significações. Ela se constrói e se estende por meio da interconexão das mensagens entre si, por meio de sua vinculação permanente com as comunidades virtuais em criação, que lhe dão sentidos variados em uma renovação permanente. 15
O ciberespaço [...] é o novo meio de comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “Cibercultura”, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. 17
O ciberespaço, dispositivo de comunicação interativo e comunitário, apresenta-se justamente como um dos instrumentos privilegiados da inteligência coletiva. 29
[...] o crescimento do ciberespaço não determina automaticamente o desenvolvimento da inteligência coletiva, apenas fornece a esta inteligência um ambiente propício. 29
[...] a extensão do ciberespaço acompanha e acelera uma virtualização geral da economia e da sociedade. 49
O virtual não “substitui” o “real”, ele multiplica as oportunidades para atualizá-lo. 88
A palavra “ciberespaço” foi inventada em 1984 por William Gibson em seu romance de ficção científica Neuromante. No livro, esse termo designa o universo das redes digitais, descrito como campo de batalha entre as multinacionais, palco de conflitos mundiais nova fronteira econômica e cultural. 92
O termo foi imediatamente retomado pelos usuários e criadores de redes digitais. 92
Eu defino o ciberespaço como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos [...], na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização. Insisto na codificação digital, pois ela condiciona o caráter plástico, fluido, calculável com precisão e tratável em tempo real, hipertextual, interativo e, resumindo, virtual da informação que é, parece-me, a marca distintiva do ciberespaço. 92.93
A emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento social, com seu grupo líder [...], suas palavras de ordem [...] e suas aspirações coerentes. 123
Se a internet constitui o grande oceano do novo planeta informacional, é preciso não esquecer dos muitos rios que a alimentam: redes independentes de empresas, de associações, de universidades, sem esquecer as mídias clássicas (bibliotecas, museus, jornais, televisão, etc). É exatamente o conjunto dessa “rede hidrográfica”, até o menor dos BBS, que constitui o ciberespaço, e não somente a internet. 126
Símbolo do principal florão do ciberespaço, a internet é um dos mais fantásticos exemplos de construção cooperativa internacional, a expressão técnica de um movimento que começou por baixo, constantemente alimentado por uma multiplicidade de iniciativas locais. 126
[...] três princípios orientaram o crescimento inicial do ciberespaço: a interconexão, a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva. 127
Uma comunidade virtual é constituída sobre as afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca, tudo isso independente das proximidades geográficas e das filiações institucionais. 127
A Cibercultura é a expressão da aspiração de construção de um laço social, que não seria fundado nem sobre links territoriais, nem sobre relações institucionais, nem sobre as relações de poder, mas sobre a reunião em torno de centros de interesse comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber, sobre a aprendizagem cooperativa, sobre processos abertos de comunicação. 130
A desterritorialização da biblioteca que assistimos hoje talvez não seja mais do que o prelúdio para a aparição de um quarto tipo de relação com o conhecimento. Por uma espécie de retorno em espiral à oralidade original, o saber poderia ser novamente transmitido pelas coletividades humanas vivas, e não mais por suportes separados fornecidos por intérpretes ou sábios. Apenas, dessa vez, contrariamente à realidade arcaica, o portador direto do saber não seria mais a comunidade física e sua memória carnal, mas o ciberespaço, a região dos mundos virtuais, por meio do qual as comunidades descobrem e constroem seus objetos e conhecem a si mesmas como coletivos inteligentes. 164
O ciberespaço, interconexão dos computadores do planeta, tende a tornar-se a principal infra-estrutura de produção, transação e gerenciamentos econômicos. Será em breve o principal equipamento coletivo internacional da memória, pensamento e comunicação. Em resumo, em algumas dezenas de anos, o ciberespaço, suas comunidades virtuais, suas reservas de imagens, suas simulações interativas, sua irresistível proliferação de textos e de signos, será o mediador essencial da inteligência coletiva da humanidade. Com esse novo suporte de informação e de comunicação emergem gêneros de conhecimento inusitados, critérios de avaliação inéditos para orientar o saber, novos atores na produção e tratamento dos conhecimentos. 167
O ciberespaço é efetivamente um potente fator de desconcentração e de deslocalização, mas nem por isso elimina os “centros”. Espontaneamente, seu principal efeito seria antes o de tornar os intermediários obsoletos e de aumentar as capacidades de controle e de mobilização direta dos nós de poder sobre os recursos, as competências e os mercados, onde quer que se encontrem. 190
O termo “ciberespaço”, em contrapartida, indica claramente a abertura de um espaço de comunicação qualitativamente diferente daqueles que conhecíamos antes dos anos 80. 193
O ponto fundamental é que o ciberespaço, conexão dos computadores do planeta e dispositivo de comunicação ao mesmo tento coletivo e interativo, não é uma infra-estrutura: é uma forma de usar as infra-estruturas existentes e de explorar seus recursos por meio de uma inventividade distribuída e incessante que é indissociavelmente social e técnica. 193
[...] o ciberespaço é justamente uma alternativa para as mídias de massa clássicas. 203
O ciberespaço encoraja uma troca recíproca e comunitária, enquanto as mídias clássicas praticam uma comunicação unidirecional na qual os receptores estão isolados uns dos outros. Existe, portanto, uma espécie de antinomia, ou de oposição de princípios, entre as mídias e a Cibercultura, o que explica o reflexo deformado que uma oferece da outra para o público. 203
A Word Wide Web é um gigantesco documento auto-referencial, onde se entrelaçam e dialogam uma multiplicidade de pontos de vista. 207
Uma das ideias mais errôneas, e talvez a que tem vida mais longa, representa a substituição pura e simples do antigo pelo novo, do natural pelo técnico ou do virtual pelo real. 212
A imagem do homem-terminal, cujo espaço foi abolido, imóvel, grudado à sai tela, não é mais do que um fantasma ditado pelo medo e pela incompreensão dos fenômenos em andamento de desterritorialização, de universalização e de aumento geral das relações e contatos de todos os tipos. 214
O desenvolvimento do ciberespaço não vai “mudar a vida” milagrosamente, nem resolver os problemas econômicos e sociais contemporâneos. Abre, contudo, novos planos de existência:
- nos modos de relação: comunicação interativa e comunitária de todos com todos no centro de espaços informacionais coletivamente e continuamente reconstruídos;
- nos modos de conhecimento, de aprendizagem e de pensamento: simulações, navegações transversais em espaços de informação abertos, inteligência coletiva.
- nos gêneros literários e artísticos: hiperdocumentos, obras interativas, ambientes virtuais, coleção coletiva desenvolvida. 218
Os situacionistas denunciavam o espetáculo, ou seja, o tipo de relação entre os homens cristalizado pelas mídias: há centros que difundem mensagens para receptores isolados uns dos outros e mantidos em um estado de incapacidade de resposta. No espetáculo, a única participação possível é o imaginário. Ora, o ciberespaço propõe um estilo de comunicação não-midiática por construção, já que é comunitário, transversal e recíproco. 224
O movimento da Cibercultura é um dos motores da sociedade contemporânea. Os Estados e os industriais da multimídia o acompanham como pode, ao mesmo tempo em que resistem com todas as forças frente ao que percebem como sendo a “anarquia”. 227
A Cibercultura é propagada por um movimento social muito amplo que anuncia e acarreta uma evolução profunda da civilização. O papel do pensamento crítico é o de intervir em sua orientação e suas modalidades de desenvolvimento. Em particular, a crítica progressista pode esforçar-se para trazer à tona os aspectos mais positivos e originais das evoluções em andamento. 229
Tentemos ainda apreender a Cibercultura de seu interior, a partir do movimento social multiforme que ela gera, de acordo com a originalidade de seus dispositivos de comunicação, demarcando as novas formas de laços sociais que ela sela no silencio ricamente povoado do ciberespaço, longe do calor monótono das mídias. 232
Em certo sentido, a Cibercultura continua a grande tradição da cultura europeia. Em outro, transmuta o conceito de cultura. 246
Longe de ser uma subcultura dos fanáticos pela rede, a Cibercultura expressa uma mutação fundamental da própria essência da cultura. De acordo com a tese que desenvolvi neste estudo, a chave da cultura do futuro é o conceito de universal sem “totalidade”. Nessa proposição, “o universal” significa a presença virtual da humanidade para si mesma. O universal abriga o aqui e agora da espécie, seu ponto de encontro, um aqui e agora paradoxal, sem lugar nem tempo claramente definidos. 247
O que é então a totalidade? Trata-se, em minhas palavras, da unidade estabilizada no sentido de uma diversidade. 247
Ora, a Cibercultura inventa uma outra forma de fazer advir a presença virtual do humano frente a si mesmo que não pela imposição da unidade de sentido. 248
Ora, a Cibercultura, terceira etapa da evolução, mantém a universalidade ao mesmo tempo que dissolve a totalidade. Corresponde ao momento em que nossa espécie, pela globalização econômica, pelo adensamento das redes de comunicação e de transporte, tende a formar uma única comunidade mundial, ainda que essa comunidade seja – e quanto! – desigual e conflitante. Única em seu gênero do mundo animal, a humanidade reúne toda a sua espécie em uma única sociedade. 249
Longe de deslocar o motivo da “tradição”, a Cibercultura o inclina em um ângulo de 45 graus para dispô-lo na sincronia ideal do ciberespaço. A Cibercultura encarna a forma horizontal, simultânea, puramente espacial, da transmissão. Só encadeia no tempo por acréscimo. Sua principal operação é a de conectar no espaço, de construir e de entender os rizomas do sentido. 249
Eis o ciberespaço, a pululação de suas comunidades, a ramificação entrelaçada de suas obras, como se toda a memória dos homens se desdobrasse no instante: um imenso ato de inteligência coletiva sincrônica, convergindo para o presente, clarão silencioso, divergente, explodindo como uma ramificação de neurônios. 249-250
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.