AntAnio.Peneda 29/06/2022minha estanteGostei do seu comentário.
No entanto, o livro tem tiradas interessantes...
Cheguei rapidamente à conclusão de que as coisas consideradas as piores (a mentira, para não citar outras) só são difíceis de fazer enquanto não foram feitas; e ainda mais que elas se tornam facilmente cómodas, agradáveis, boas de repetir e, com o tempo, naturais.
Como seria a descrição da felicidade? Só se pode contar aquilo que a prepara, e o que a destrói.
Não se pode, ao mesmo tempo, ser sincero e parecer sincero.
É preciso deixar que os outros tenham razão, porque isso os consola de não terem outra coisa.
- Desculpe-me - disse ele -, mas quase nunca bebo.
- Tem medo de se embriagar?
- De modo nenhum. Mas considero a sobriedade uma embriaguez mais poderosa; conservo com ela a lucidez.
- E dá de beber aos outros?
Ele sorriu. - Não posso exigir de cada um as minhas virtudes. É já tão agradável encontrar nos outros os meus vícios?
Procuro na embriaguez uma exaltação e não uma diminuição da vida.
Quantos homens que afirmam não devem a sua força à sorte de só terem sido compreendidos pela metade!
Saber libertar-se não é nada, o difícil é saber ser livre.
Mas como as frases ficavam pálidas comparadas com os atos!
O que existe em cada um de diferente é precisamente o que ele possui de raro, o que faz o seu próprio valor; e é isso que se procura suprimir. Imita-se. E pretende-se amar a vida!
A agorafobia moral é odiosa; é a pior das covardias.
Eu, que antes só achava gosto no passado, senti-me um dia embriagado pelo súbito sabor do instante; mas o futuro nos desencanta da hora presente, mais do que o presente nos desencantou do passado.
Sabe o que faz da poesia moderna, e sobretudo da filosofia, letras mortas? É que elas se distanciaram da vida.
Saudades, remorsos, arrependimentos, são alegrias de outrora vistas de costas.
Que pode o homem ainda? Eis o que me importava saber. O que o homem disse até agora é tudo o que ele poderia dizer? Não teria ignorado qualquer coisa de si mesmo? Não lhe resta senão repetir?
Tenho horror às pessoas honestas. Se nada tenho a temer de sua parte, nada tenho também a aprender. E elas também nada têm a dizer?
Honesto povo suíço! De nada lhe vale comportar-se bem? sem crimes, sem história, sem literatura, sem artes? um grande roseiral sem espinhos nem flores?
Existem alegrias fortes para os fortes, e alegrias fracas para os fracos que as alegrias fortes poderiam ferir.
A pobreza do homem é escrava; para comer, ele aceita um trabalho sem prazer; todo trabalho que não dá alegria é lamentável,
Não compreendes que o nosso olhar desenvolve, exagera em cada um o ponto no qual se fixa, e que fazemos com que ele se transforme no que queremos que seja?
Terra (árabe) em que se descansa de obras de arte. Desprezo aqueles que só sabem reconhecer a beleza já transcrita perfeitamente interpretada. O povo árabe tem isto de admirável: sua arte ele a vive, canta, dissipa-a quotidianamente; não procura fixá-la nem a embalsama em uma obra. É a causa e o efeito da ausência de grandes artistas? Sempre considerei grandes artistas os que ousam dar foros de beleza a coisas tão naturais que quem as vê pode dizer: ?Como não compreendi até agora que também isto era belo??