Luiz Pereira Júnior 24/06/2023
O Mestre dos Ares...
Em uma refeição, um menino nobre se recusa a comer escargots. Com a insistência da família, o menino foge e vai para o bosque da família, onde passa a morar, literalmente, nas árvores. (Detalhe: nada a ver com Tarzan.) Isso é, em poucas palavras, do que trata o livro “O barão nas árvores”, de Italo Calvino.
Em que pese a falta de verossimilhança, é possível imaginar a situação (afinal, Garcia Márquez era mestre em nos fazer acreditar em muita coisa que é impossível na realidade, mas que, em suas obras, atinge até mesmo um tom absolutamente natural) de uma forma simbólica, pois o protagonista se envolve em vários conflitos: com aristocratas fúteis, com professores retrógrados, com religiosos tacanhos, com o seu próprio primeiro e único amor, com os bandidos da região, com os lobos e por aí vai.
Tocante, para mim, foi a história do bandido que se apaixona pelos livros e, em uma reviravolta nessa subtrama (mas sem spoiler), faz o leitor pensar no que seria a verdadeira (ou as verdadeiras, se é que existem) função da literatura. Italo Calvino deixa patente seu amor pelos livros, mas também em como eles são perigosos em determinados contextos.
Vale a pena? Com certeza. Embora a leitura seja um tanto enfadonha em certos trechos, os conflitos apontados fazem o leitor refletir, de uma forma bem mais agradável do que aqueles autores que vivem apontando o dedo em seus escritos para qualquer leitor que discorde deles. E isso, por si só, já é um grande mérito para qualquer autor que se preze...