jota 24/01/2012Aventuras arbóreasO Barão nas Árvores conta uma história passada em 1767, que tem como protagonista Cosme, um garoto de doze anos, herdeiro do barão de Rondó. O narrador é Biágio, seu irmão mais novo. Tendo sido expulso da mesa de refeições pelo pai, por ter se recusado a tomar sopa de escargots, o menino se refugia numa árvore do jardim da família e promete dali nunca mais sair.
Viver nas árvores se torna a vida de Cosme, apesar dos apelos de seus familiares para que ele volte para casa. Mas não. Ele, de galho em galho, de árvore em árvore vai atravessando pomares e jardins e fica conhecendo Viola Rodamargem, filha de um vizinho e inimigo do pai (os diálogos entre as crianças são saborosos). Também faz amizade com diversos meninos que roubam frutas nos pomares.
Cosme se adapta muito bem à vida arbórea, pulando de galho em galho, indo de quintal para quintal nas cercanias e até além (chega a ir assim à Espanha de uma feita), nem por um segundo pisando o chão da Penúmbria - o reino todo já conhece a fama do "menino macaco" e a família Rondó se sente envergonhada sempre que alguém faz menção a ele.
Biágio continua a narrar as aventuras do rebelde e é seu interlocutor sempre que lhe aparece um problema que não consegue resolver sozinho. Através dele ficamos sabendo como Cosme se vira para dormir (dentro de um odre feito de peles de animais, pendurado num galho), comer (fez amizade com uma cabra e uma galinha que lhe fornecem leite e ovos e tem uma enorme variedade de frutas à disposição), tomar banho e lavar suas roupas (instalou uma espécie de chuveiro desviando um pouco de água da cascata de um riacho usando cascas de árvores), fazer suas necessidades (num galho estrategicamente curvado sobre um córrego apropriadamente chamado de Merdança).
Como também gosta de caçar pequenos animais para se alimentar, Cosme arranjou um bassê abandonado pela família Rodamargem para ajudá-lo, e o chamou de Ótimo Máximo. É o cão de sua amada Viola, que ela chamava de Turcaret. Aliás, nome engraçados ou estranhos é que não faltam aqui: tenente Borboleta, conde D'Estomac, etc.
Depois, há vários capítulos tratando da amizade entre Cosme e João do Mato, um bandido da Penúmbria. Na verdade, um ladrão de frutas que mete medo em toda a população rural. Por um capricho, Cosme o salva de ser preso e ele passa também a morar nas árvores. É João do Mato que desperta em Cosme a vontade de ler. Exageradamente até.
João do Mato, é um leitor exigente, não lê qualquer coisa, e Cosme se vê obrigado a conseguir mais e melhores livros para o amigo bandido. E também vai lendo muito, demais. Motivado pela leitura, chega mesmo a estabelecer correspondência com filósofos e escritores de então: Diderot, Voltaire, Rousseau. Um dia João do Mato cai nas garras da polícia, é preso e enforcado.
E logo Cosme está com dezenove anos. Viola de Rodamargen, agora uma marquesa viúva de dezessete anos, retorna à Penúmbria e novamente ele cai de amores por ela. Tendo adquirido novos hábitos (mundanos), a marquesa quer fazer amor com ele e com mais dois amantes (ménage à quatre?). Ele não consente, ressente-se e torna-se cada vez mais estranho - ou mais louco, segundo alguns. Ou um filósofo, segundo outros - ecos da Revolução Francesa.
Posteriormente, envolve-se com as tropas francesas que vão combater na Rússia (até conversa com Napoleão, sempre pendurado numa árvore) e mais tarde com os soldados russos que invadem a Europa depois da derrota napoleônica.
Acompanhamos as aventuras, as paixões e as ideias de Cosme até por volta de seus sessenta e cinco anos. Como diz Biágio, irmão e narrador, "a juventude passa rápido na terra, imaginem nas árvores, onde tudo está destinado a cair: folhas, frutos." E passou tanto tempo que nem Penúmbria existe mais...
Embora não seja emocionante, O Barão nas Árvores ainda assim é uma história bastante curiosa e, por vezes, também muito engraçada.
Lido entre 04 e 12.01.2012.