Vera Sabino 04/07/2015Emocionante, toca profundamente o coração do leitor!!!!Ainda estava me recuperando das emoções da leitura de "12 Anos de Escravidão" quando me indicaram "As Cores do Entardecer - Lembranças de um tempo que não terminou".
Fiquei interessada de imediato no livro quando li a sinopse e vi que o tema abordado era o preconceito racial, o amor e a amizade entre pessoas de etnias diferentes.
A história é apresentada em capítulos alternados com Miss Isabelle, uma senhora branca de 89 anos contando sua história de vida e Dorrie, sua cabeleireira negra, divorciada e mãe de 2 filhos, com seus problemas pessoais nos dias atuais.
As duas são amigas, uma amizade de mais de 10 anos que começou quando Miss Isabelle passou a frequentar o salão de cabeleireiro onde Dorrie trabalhava. Com a idade e impossibilitada de dirigir devido a uma queda feia, Miss Isabelle não pôde mais ir ao salão e Dorrie passou, então, a atendê-la toda segunda-feira em casa.
Essa convivência de anos criou num laço muito forte entre elas. Embora nunca tenham admitido, Miss Isabelle era para Dorrie como uma mãe, assim como Dorrie era para Miss Isabelle como uma filha.
Mas essa amizade era considerada por muitos como "inconveniente". Mesmo passados mais de 70 anos desde a juventude de Miss Isabelle -- quando a amizade entre brancos e negros não era aceitável -- as duas mulheres enquanto viajavam juntas para Cincinnati, onde Miss Isabelle participaria de um velório, foram alvo de olhares insistentes e comentários racistas.
E foi no trajeto dessa longa viagem de carro desde Dallas que Miss Isabelle -- enquanto fazia palavras cruzadas -- contou para Dorrie sua triste história.
Falou de Robert e sua irmã Nell, filhos da empregada negra da casa e seus companheiros de infância; de como descobriu estar apaixonada por Robert aos 17 anos de idade; como Robert era inteligente e tinha como sonho entrar para a faculdade de medicina e se tornar um médico; falou das "armações" dela para encontrá-lo às escondidas e do quanto sua família foi dura com ela quando descobriu seu amor por um negro.
Miss Isabelle e Robert viviam num estado sulista americano onde o preconceito racial era enorme e um casamento inter-racial era algo inadmissível. A medida de tamanho preconceito podia ser vista na entrada da cidade numa placa onde se lia:
"NEGRO, É MELHOR NÃO SER APANHADO EM SHALERVILLE DEPOIS DO PÔR DO SOL".
Os negros só tinham direito a permanecer na cidade durante o dia, enquanto trabalhavam.
Apesar de tanto preconceito, os dois jovens acreditavam ser possível se casar, mudar de cidade e viver esse amor proibido. Tentaram e, por essa ousadia, pagaram um preço muito alto.
O final do livro nos traz uma surpresa que eu, pelo menos, sequer imaginava!!!!
Entendemos então porque era tão importante para Miss Isabelle estar presente no velório em Cincinnati e porque ela convidou Dorrie para acompanhá-la. Sozinha, sem o apoio da amiga, Miss Isabelle não teria sido capaz de suportar tamanha emoção.
Quanto à Dorrie, tudo o que ela ouviu de Miss Isabelle durante a viagem e o que aconteceu no funeral, fez com que ela repensasse seus problemas familiares e se desse uma nova chance no amor.
O subtítulo do livro "Lembranças de um tempo que não terminou" nos diz com todas as letras que o preconceito racial ainda existe e continua muito forte. Infelizmente, o negro sempre será visto em primeiro lugar pela cor da sua pele e não por sua inteligência, nível cultural ou posição social.