Lira Escarlate 17/05/2015
Calvin e Haroldo em suas aventuras de Domingo.
“Todo mundo quer que a vida tenha sentido. A gente procura um sentido em tudo o que faz.”
Para muitos, o mais importante num jornal eram as tirinhas. Temos nomes de personagens que se destacaram neste setor, pois se tratava de uma comunicação direta, curta e sempre tinha um efeito de reflexão. Entre tantos nomes quero dar destaque para um que muito me fascina. Falo de Calvin, o jovem curioso que sempre andava acompanhado de seu tigre de pelúcia, Haroldo, que muito se fazia de consciência do jovem. “Calvin e Haroldo” é uma criação do cartunista Bill Watterson, foi publicado em muitos jornais, mas que transcendeu esta mídia e virou encadernados de livros graças à Editora Conrad.
Em 2013, a Conrad finalizou toda a coleção de 10 exemplares de Calvin e Haroldo. Contudo, ano passado ela voltou a nos presentear com uma edição de catálogo de exposição, onde encontramos as tirinhas dominicais que sempre eram coloridas.
‘As compilações de tiras de Calvin e Haroldo são ótimos livros para ter, mas a oportunidade de ver os originais e ler o que Bill Watterson pensa a respeito é um privilégio. Ele generosamente compartilhou não só sua arte, mas sua vida e seus pensamentos. Quando analisei o trabalho escolhido para a exposição, eu sabia que os visitantes chegariam aos risos e iriam embora às lágrimas’. (Do Prefácio de Lucy Shelton Caswell, professora e curadora da Biblioteca de Pesquisa de Quadrinhos e Cartuns da Universidade Estadual de Ohio, em junho de 2001).
Como Lucy Shelton comenta, o livro é um catálogo da exposição que não só contou com as tirinhas como também teve uma grande explicação do próprio Bill sobre seu processo de criação. Confesso que foi uma das coisas que mais me fascinou no livro: em cada página, era possível encontrar uma observação sobre aquela tira específica. Tivemos como entrar na cabeça do criador e não só entender como Calvin via o seu mundo, mas como Watterson via o dele.
Sinto-me na obrigação de dizer que este livro é uma obra indispensável para todos que desejam trabalhar com tirinhas e, claro, acredito que todo jornalista também deveria, no mínimo, ler. Aprendi muito sobre esta arte só nas cinco primeiras páginas, quando o criador nos explica como foi lutar para não ter suas ideias editadas, como era se adaptar aos espaços e o tempo de planejamento, como fazer roteiros complexos em tão pouco tempo e espaço.
Outro ponto muito forte na edição este livro é que temos acesso aos rascunhos. A cada tirinha colorida que lemos ao seu lado há a mesma na sua versão ainda a nanquim. O tamanho do encadernado é mais comprido que o convencional; entretanto, acho que enquadra melhor as estrelas do livro, as tirinhas, e não atrapalha em nada a leitura.
O que mais poderia falar sobre os dilemas maravilhosos que nos são mostrados? Sempre gostei de refletir sobre as poucas palavras e os desenhos de traços simples que encontramos nas tirinhas... Lembro de uma história de outra personagem famosa, Mafalda, que me fez pensar que a única maneira de refletir na frente da televisão é com ela desligada. Com Calvin tenho uma linguagem mais simples e até fantasiosa em alguns momentos, mas sem perder a crítica social. Claro que é possível encontrar uma tira que foi feita só para lembrar um pouco da nossa infância e de como o mundo parece tão diferente visto dos olhos de um garoto.
Sempre pensei que Haroldo era muito quieto, hoje o vejo como a consciência que só se manifesta quando é necessário e sempre vem trazer um ponto de vista que deve ser considerado. Exemplo de uma frase do Haroldo em umas das tirinhas: “Por que a gente vai brincar de guerra e não de paz?” Claro que a mensagem era para alfinetar o presidente Reagan, que ameaçava um conflito com a União Soviética. Contudo, acredito que ainda temos que refletir sobre isso. Afinal, o mundo seria um lugar melhor se brincássemos de paz e não de guerra.
Poderia escrever uma dissertação sobre as reflexões levantadas pelo jovem Calvin e seu amigo Haroldo, mas isso não é o caso. Quero só deixar esta dica maravilhosa para todos que amam ler, e claro, o fato de podermos ler não só os textos, mas também as imagens, torna este livro muito mais rico e interessante.
Agora pretendo fazer a coleção toda de Calvin e Haroldo, pois se já sabia o quanto eles são bons e divertidos, agora tenho certeza que preciso ler mais sobre esta dupla.
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