Fabio Shiva 24/08/2021
vislumbres do passado na história do futuro
Nesse episódio encontramos Perry Rhodan empenhado em estabelecer uma base para a sua Terceira Potência em Vênus, de forma a poder lidar melhor com futuras ameaças extraterrestres. Nessa missão ele conta com o apoio de seu fiel escudeiro Reginald Bell, dos dois remanescentes da nave arcônida, Crest e Thora, e de alguns dos mais capazes membros de seu recém-formado exército de mutantes.
Acho que era meio que um clichê da ficção científica dos anos 1950 e 1960 (esse oitavo episódio de Perry Rhodan foi escrito entre 1961 e 1962) que o planeta Vênus fosse retratado como uma espécie de “superamazônia”, com densas e exuberantes florestas cobrindo toda a superfície planetária. Lembro de ter lido ao menos um romance de Isaac Asimov e um outro cujo título e autor já se perderam na memória, onde Vênus era retratado mais ou menos dessa forma. Creio que essa descrição condizia com o que então se sabia sobre o segundo planeta de nosso sistema solar.
Pois bem, “Base em Vênus” não foge ao padrão, acrescentando ao cenário de “inferno tropical” alguns dinossauros gigantes e criaturas exóticas como um verme de dezenas de metros que faz uma nojenta simbiose alimentar com uma espécie esquisita de bicho-pau...
Hoje sabemos, graças principalmente à sonda Magellan ou Magalhães (https://pt.wikipedia.org/wiki/Magellan), lançada em 1989, que Vênus é um “inferno” de outro tipo: um deserto árido e empoeirado, cheio de enxofre e de nuvens de ácido sulfúrico. Com esse conhecimento atual, a leitura de “Base em Vênus” traz um sabor especial, pois é uma história escrita no passado a respeito de um futuro que se tornou impossível, devido à descoberta de novos fatos que desautorizam a ficção imaginada pelo autor. Eu, particularmente, me divirto e aprendo bastante com essas histórias de FC “desatualizadas”, justamente pelo estranhamento causado por enxergar vislumbres do passado nesse olhar para o futuro.
Outro exemplo desse estranhamento é ver o herói Perry Rhodan a toda hora sapecar um cigarro na boca. Isso também me remete às deliciosas histórias de Isaac Asimov, onde é comum vermos os viajantes de naves espaciais com um cigarro em uma mão e um copo de uísque na outra. O próprio Asimov era abstêmio e não fumante, mas a sociedade em que ele vivia tinha tão forte como “emblemas da civilização” o álcool e o tabaco, que o Bom Doutor (apelido carinhoso que dei a Asimov, um de meus autores favoritos) não conseguiu enxergar além dos valores da sociedade de sua época (nesse pequeno detalhe, ao menos).
Voltando a “Base em Vênus”, depois de dito tudo isso, é fascinante quando nos deparamos com o exemplo oposto, muito frequente na espetacular série de Perry Rhodan: o do texto profético, que antecipa corretamente alguma tendência futura. É o caso desse trecho, onde vemos claramente uma descrição bem acurada dos drones, ao menos 40 anos antes de sua invenção, em 2004:
“Rhodan mandou que todos permanecessem no interior da comporta. Ele mesmo dirigiu-se apressadamente à sala de comando. Crest estava sentado diante da tela do rastreador, onde se via um enxame de manchas luminosas brancas, que se deslocavam nervosamente de um lado para outro, aparentemente sem destino.
— O que é isso? — perguntou Rhodan.
— Diria que são espiões robotizados — respondeu Crest. — Não sei se ainda está lembrado: nos primórdios de nossa história havia instrumentos desse tipo. São apenas sondas radiogoniométricas, óticas ou de microondas de grande alcance. O tamanho destas aqui não é maior que três ou quatro vezes a palma de minha mão.”
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