Rafael 20/05/2017
Para pensarmos o golpe republicano
O livro de Marcos Costa faz um apanhado dos principais fatos que levaram à queda da Monarquia no país. Por meio de crônicas, ele relata esse período de transição da Monarquia para a República, num texto sintético que elenca de forma clara e objetiva as possibilidades do golpe republicano em meio ao reinado complexo e desafiador da família imperial.
Ao início da leitura, percebemos o ponto alto do autor, um relato feito por meio de crônicas que facilita o entendimento por dinamizar os principais fatos do período, e assim sabermos de maneira precisa como foram os meandros do golpe republicano. Com isso, faz-se uma leitura muito agradável, sobretudo para quem gosta do período imperial.
Além da forma sintetizada pelo autor, temos o objeto de estudo: o tal golpe republicano dado no final do século XIX, no único país latino que havia uma Monarquia oriunda da tradição européia. Esse é, portanto, o Brasil que se desenha.
O golpe republicano foi um fato singular frente à uma ruptura. Ele não teve apoio da população, não havia manifestações contrárias ao regime, no período final da monarquia; ora na regência de Dom Pedro II; ora de sua filha, a princesa Isabel, quando ele viajava para a Europa.
No entanto, havia problemas no país, muito analfabetismo, a transição pós-abolição, que depois de concedida a liberdade, muitos ex-escravos ficaram à deriva, sem recursos. Mesmo assim, era uma sociedade que estava mais aberta para com a influência europeia: uma sociedade mais liberal, industrial, aberta ao comércio; além da pauta mais importante impulsionada pela princesa Isabel: a abolição da escravatura.
Portanto, o possível terceiro reinado da princesa Isabel tinha um viés “reformista”, enquanto os republicanos queriam manter a escravidão por serem contrários à Lei Eusébio de Queiroz de 1850, à Lei do Ventre Livre de 1871, e a posterior, à Lei Áurea de 1888. Na verdade os republicanos eram grandes produtores, latifundiários que só queriam manter o rendimento de suas propriedades, sobretudo, com o trabalho escravo.
Assim, o golpe foi dado a partir de muita pressão dos republicanos, junto ao braço de confiança do reinado, o militar Marechal Deodoro. Ele foi sendo aliciado por forças republicanas – ora esquivando-se – ora não tendo mais alternativas - até que então, não houve outro meio, e foi estabelecido a República em 1889.
A República, portanto, nasceu de um golpe de estado. Na época ela não tinha legitimidade frente à população. Ela legitimava apenas uma minoria de republicanos pela disputa política, que inclusive favoreciam a escravidão. Assim, o que se sucedeu após a Monarquia, foi um modelo de governo instável, corrupto, que muitas vezes confunde o público com o privado. É o retrato do Brasil atual, um regime republicano podre e carcomido.